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Como explicar às crianças a importância do sono e das ervilhas

Vanda Marques
Vanda Marques 08 de junho de 2025 às 10:00
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A pediatra Rita Sousa Gomes escreveu um livro infantil para ajudar os mais pequenos a entender a importância do sono, dos limites aos ecrãs e muito mais.

Todos conhecemos uma criança que diz que tudo o que é verde não presta? Ou que insiste que não precisa de dormir, porque não tem sono nenhum? As velhas guerras dos miúdos mantém-se, mas com algumas alterações. Agora temos os ecrãs – de telemóveis,tabletse afins – para ajudar à distração. Ciente de tudo isto a pediatra Rita Sousa Gomes decidiu escrever um livro com conselhos para lidar com estes desafios, mas é um livro diferente. Não é apenas dirigido aos pais, mas também às crianças. "Enquanto pediatra e mãe, percebi o quanto as histórias podem ajudar as crianças a compreender mais facilmente aquilo que se passa com elas, inclusive o mundo das emoções, da saúde e das rotinas. Quis criar uma ferramenta que explicasse temas mais desafiantes de forma simples e afetiva, ajudando também os pais a iniciarem conversas importantes com os filhos", explica àSÁBADO.

Como esclarece a especialista, decidiu dirigi-lo às crianças porque estas têm direito de se sentirem compreendidas e respeitadas e porque defende que se deve adaptar a informação à idade de cada uma delas. Rita Sousa Gomes vai mais longe e sublinha que temos de convidar as crianças a participar ativamente na própria saúde. E, na sua opinião, a melhor forma é através de histórias. No livroA Minha Pediatra Cuida de Mimpartilha três histórias diferentes. Se numa começa por debater as ervilhas verdes há espaço para outros hábitos.

Mas afinal qual é o problema com a comida nova ou verde? "Muitas crianças recusam alimentos pelo aspeto, pela textura ou pela associação a experiências menos positivas. Faz parte do seu desenvolvimento normal. Os vegetais são muitas vezes introduzidos de forma pouco apelativa ou com alguma pressão, o que pode agravar a recusa", defende a pediatra, que aponta outras estratégias. Segundo Rita Sousa Gomes, é preciso conquistar as crianças e forçá-las nunca é uma boa estratégia. "Os pais devem oferecer com naturalidade, sem chantagens ou recompensas. Permitir que a criança explore os alimentos com todos os sentidos, envolvê-la na preparação das refeições, e manter uma rotina alimentar previsível. E acima de tudo: dar o exemplo. Forçar pode resultar numa aceitação momentânea, mas cria quase sempre resistência a longo prazo. Comer deve ser um momento de prazer e não de tensão e conflito."

A comida costuma ser um dos desafios, mas como alerta a médica não basta uma conversa ou uma apenas uma dentada num novo alimento. A persistência é essencial. O que fazer? "Ter tempo, calma, repetição e segurança. Quando não se sentem pressionadas, as crianças arriscam mais. Às vezes é preciso apresentar o alimento 10 ou 15 vezes, em contextos positivos, para que a aceitação aconteça."

Além disso, como alerta a especialistas é preciso acabar com mitos errados como o de que uma criança cheiinha é sinal de ser saudável. E, claro, evitar a fast food que é mais barata, mas pouco nutricional. "Ainda existe a crença de ser cheiinha é ser saudável, principalmente nos bebés. Mas hoje sabemos que o excesso de peso, mesmo em idade precoce, tem consequências na saúde futura. Uma criança saudável é uma criança ativa, com energia, apetite regulado e bem-estar emocional, e isso nem sempre se traduz em volume", conclui.

Os pais têm de dar o exemplo

O sono continua a ser outro dos desafios, porque nalguns casos não existe uma boa higiene do sono. O que significa? "Os pais devem proteger a rotina do sono como protegem a alimentação: com consistência, previsibilidade e um ambiente calmo. E deve começar desde cedo", salienta à SÁBADO. A pediatra defende que os hábitos de sono constroem-se desde o nascimento. "Um bebé que associa o sono ao conforto, à previsibilidade e tranquilidade vai crescer com mais facilidade em manter estes padrões", alerta.

No livro, Rita Sousa Gomes fez questão de incluir uma história sobre os tablets. A frase fundamental é: "Os ecrãs não deixam memórias". Para a pediatra esta tem sido uma preocupação crescente entre os pais. "Os pais sentem-se perdidos entre a vontade de proteger e a necessidade de adaptar-se ao mundo digital. Quis mostrar que é possível usar a tecnologia de uma forma mais consciente, sem extremismos", diz. Para acrescentar que as memórias criam-se "com os sentidos e com as emoções". E vai mais longe: "Os ecrãs podem distrair, mas não substituem o contacto real, a brincadeira ativa e o tempo de qualidade".

Além disso, sublinha as consequências negativas de um uso excessivo dos ecrãs: "Atrasos no desenvolvimento, dificuldade de concentração, problemas no sono, irritabilidade, maior risco de sedentarismo e consequentemente maior risco de excesso de peso e obesidade". Aconselha a que se deem apenas a partir dos 2 anos e sempre com a moderação dos pais. Outro conselho é impor limites e criar rotinas sem ecrãs, com brincadeiras reais e ao ar livre. "O modo como os pais usam os dispositivos eletrónicos influencia muito mais os filhos do que se imagina. E não tenham medo de pedir ajuda e ajustar as estratégias sempre que necessário", remata a pediatra.

Rita Sousa Gomes reconhece que os pais estão cansados e que o facto de vivermos hoje num mundo cada vez mais digital dificulta estas regras. "Na verdade, somos todos, de certa forma, vítimas dos ecrãs. Vivemos num mundo cada vez mais digital, onde dependemos dos dispositivos para quase tudo (trabalho, organização familiar, comunicação…). Mas é precisamente por isso que precisamos de estar alerta e tentar usar os ecrãs com mais consciência. O ideal é que todos, pais e filhos, aprendam juntos a encontrar um equilíbrio. Até porque o uso excessivo não afeta apenas a saúde das crianças, também interfere com o bem-estar dos pais e com a harmonia familiar."

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