"Fizemos as contas e nos primeiros 10 meses de viagem gastámos 1.975 euros. Ou mais ou menos 7,5 euros por dia. Queríamos provar que não é preciso ser-se rico para fazer a volta ao mundo", conta Tiago Fidalgo à Lusa em Díli. "Tínhamos um plafond e os nossos gastos são todos públicos. Mostramos que se pode dar a volta ao mundo sem gastar mais de 10 euros por dia. Há dias em que não gastamos nada e outros em que gastamos muito, como 70 euros num dentista", sublinha Joana Oliveira.
Dormem em casas particulares - contactos que obtêm através de aplicações de partilha de espaços para dormir, como o couchsurfing - comem em casa de quem os acolhe e aproveitam os mercados ou descontos nos supermercados.
Com mais tempo e menos receios de Joana o casal poderia ter feito toda a viagem sem usar uma única vez um avião, mas viagens longas no mar - fizeram deslocações em ferry, entre ilhas de 12 ou 16 horas - é algo que Joana prefere não fazer.
Joana, 27 anos, e Tiago, 26, escolheram a aventura como uma prolongada lua-de-mel (casaram-se em Setembro de 2015): 18 meses para percorrer o planeta antes de embarcar noutras aventuras, como filhos.
Eram praticamente vizinhos, andaram na mesma escola, na mesma faculdade, a de Motricidade Humana, mas só se conheceram no Brasil onde ambos participavam num programa de intercâmbio da sua faculdade, em 2011.
Da geração dos recibos verdes - ambos estavam em trabalhos temporários ou precários - o casal optou por largar o que estava a fazer e embarcar numa aventura que, admite, os marcará para sempre.
Tiago, que completou o curso de Ciências do Desporto e depois um Mestrado em Educação Física), e Joana, que é licenciada em reabilitação psicomotora, admitem que no início alguns familiares e amigos os criticaram pela decisão de partir.
"A maior parte da nossa geração não está a trabalhar e ainda houve quem nos recriminasse por largar o trabalho. Mas a verdade é que estávamos os dois a recibos verdes e queríamos fazer esta aventura antes de ter filhos", explica Joana.
Sempre à boleia, o casal atravessou a Europa, passou pela Ásia Central, atravessou a China - só numa deslocação à boleia neste país fizeram mais de 800 quilómetros - e depois viajou até à Singapura, onde teve que recorrer ao primeiro ferry, para a Indonésia.
"Até agora nunca pagámos para dormir. Temos uma tenda e mesmo em casos em que não temos casa onde ficar as pessoas deixam-nos montar as tendas. Noutras vezes ficamos ao lado de um posto da polícia ou de uma bomba de gasolina, especialmente se chegamos tarde", conta Tiago.
E apesar de tanta gente e tantas viagens nunca viveram situações de perigo, tendo receio "um par de vezes" quando não confiaram muito nos condutores da boleia, ainda que tudo tenha corrido bem.
O futuro é, para já, completamente em aberto, ainda que tenham ficado "uns pozinhos" de possibilidade, como trabalhar na Ásia Central, a zona de que mais gostaram.
Os favoritos acabam por ser países onde praticamente não há turistas, onde apesar da pobreza e do subdesenvolvimento, as pessoas os saudavam por serem dos únicos que ali passavam.
De muitos deles levam souvenirs, mas sem nunca comprarem nada, e que vão enviando, pontualmente, para Portugal.
"Deram-nos todo tipo de coisas, toalhas, lençóis, chapéus, porta-chaves, hijabs, tudo. As pessoas recebem-nos e ainda ficam agradecidas por nos receber, por termos passado pelo seu caminho. Quando quem ficará gratos para sempre somos nós", confessa Joana.