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1 de abril: não acredite em tudo o que ler hoje (nem nos jornais)

Diogo Barreto
Diogo Barreto 01 de abril de 2025 às 16:27
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Há quase 200 anos que os jornais escrevem notícias falsas nesta data para enganar deliberadamente os leitores. Mas também marcas passaram a aderir a esta prática.

O médio francês Paul Pogbavai jogar pelo LeçaFutebol Clube. A Leyavai oferecer um chocolatedo Dubai na compra de um livro através do site da editora. O investigador Nuno Palma vai concorrer à Presidência da República.Marcelo Rebelo de Sousa convocou uma reuniãocom Pedro Proença e Fernando Gomes e pode mesmo suspender os dirigentes. Atenção, todas as "notícias" acima são mentiras de 1 de abril, o dia em que até os jornais abraçam as notícias falsas.

A origem do dia

Jens Kalaene/picture-alliance/dpa/AP Images

Acredita-se que a associação entre o dia 1 de abril e o dia das mentiras date do século XVI, quando França adotou o Calendário Gregoriano. O Ano Novo, anteriormente comemorado a 25 de março, e com festas que duravam até 1 de abril, passou a ser comemorado a 1 de janeiro. Os historiadores associam o Dia dos Tolos de abril a festivais de primavera, como a Festa Medieval dos Tolos, em que um "Senhor da Má Governação" era eleito para parodiar os rituais cristãos, ou a Hilaria (que significa "alegre" em latim), celebrada na Roma antiga no final de março por seguidores da deusa frígia Cibeles e do seu devoto Átis.

O dia é assinalado internacionalmente, mas existem práticas diferentes. Há países onde se pregam partidas, outros onde são apenas ditas pequenas mentiras e outros ainda onde as festividades duram mais do que um dia.

Thomas Edison milagreiro

Uma das patranhas mais bem sucedidas a ser publicada nos jornais diz respeito a Thomas Edison, inventor da lâmpada elétrica. Em 1878 o jornal The New York Graphic escreveu que o inventor tinha conseguido criar um engenho que transformava terra em alimentos (carne e fruta) e até em vinho. O título do artigo afirmava que esta máquina iria "alimentar a raça humana" e a "reportagem" contava como o jornalista tinha comido em casa de Edison uma refeição produzida a partir de ar, água e terra.

No final do artigo havia uma ressalva em que o repórter explicava que se tratava apenas de um sonho que tivera, mas nem todos leram o artigo até ao final e outros jornais reproduziram a história.

O esparguete cresce nas árvores

Uma das notícias deliberadamente falsas mais conhecidas da imprensa foi produzida pelo serviço público de rádio britânico. Em 1957 a BBC transmitiu uma reportagem sobre a incrível árvore que dava esparguete. Apesar de ter sido anunciado como piada, várias pessoas ligaram para a estação inglesa para saber como poderiam ter uma árvore de esparguete.

Uma candidatura insólita

Em 1992, a Rádio Nacional Pública (NPR na sigla original) dos Estados Unidos anunciou que o ex-presidente Richard Nixon concorreria novamente à presidência norte-americana no programa Talk of the Nation. Um dos slogans de campanha seria: "Eu não fiz nada naquela altura e vou voltar a não fazer nada".

Portugal vende Ronaldo a Espanha

O jornal britânico The Independent em 2011 usou a crise nacional para dar credibilidade à sua mentira de 1 de abril. "Esmagado pelo peso da dívida externa e a recuperar da queda dos ratings de crédito, o ministro das Finanças de Portugal assegurou a venda do jogador de futebol mais caro de sempre para ajudar o País a recuperar do colapso económico", afirmava o jornal que dizia ainda que imbuído de um espírito "patriótico", Ronaldo tinha aceitado jogar por Espanha para ajudar a saldar as dívidas nacionais. O valor da troca? 160 milhões de libras.

Luís Filipe Vieira e Bruno de Carvalho fazem pazes

Em 2016, o jornal desportivo Record escrevia que os presidentes do Benfica e do Sporting foram incitados a fazer as pazes por Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, no dia em que se inaugurou o novo complexo desportivo para as Seleções Nacionais. O jornal acrescentava mesmo que os dois tinham acabado por apertar as mãos pondo fim "ao clima de guerrilha que tem atormentado o futebol português".

Marcas e insituições

As mentiras mais alargadas passaram das páginas de jornais para as mailing lists das marcas e para as redes sociais. A Google é uma das empresas que mais investe nas mentiras (desde vagas de trabalho na Lua ou uma aplicação de encontros na Google), mas a Polícia de Segurança Pública também não é alheia a pequenas mentiras neste dia. Em 2022 a PSP anunciou que os agentes iam passar a controlar a velocidade excessiva dos condutores através de um novo radar. O "Body Radar", como lhe chamaram, ia permitir aos agentes controlarem "em qualquer momento e local, os veículos que circulam em excesso de velocidade", escreveu o Gabinete de Imprensa e Relações Públicas PSP. Mas na verdade era uma brincadeira de 1 de abril.

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