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PSD e PCP pedem nova Comissão de Inquérito a Tancos. PAN e CDS apoiam

O Parlamento pode voltar a ter uma Comissão de Inquérito a Tancos depois de quatro partidos se mostrarem favoráveis a ouvir de novo os alegados intervenientes no caso e o primeiro-ministro.

Jerónimo de Sousa e o PSD mostraram na sexta-feira "toda a disponibilidade" para uma nova comissão de inquérito ao caso de Tancos e a líder do CDS, Assunção Cristas, anunciou a sua intenção de apoiar uma segunda comissão de inquérito parlamentar, após as eleições de 6 de outubro. Já o porta-voz do PAN, André Silva, afirmou que está de acordo com a criação de uma segunda comissão de inquérito, mas criticou a "politização" e "aproveitamento político" do processo judicial.

O Ministério Público acusou esta semana 23 pessoas, entre elas o ex-ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, suspeito de envolvimento numa operação encenada pela PJM para a recuperação do material furtado, mediante um acordo de impunidade aos autores do furto. Rapidamente houve quem criticasse o timing da acusação, afirmando que poderia haver aproveitamento político, incluindo dentro do PS e no Governo, como avançou o Expresso este sábado.

A troca direta de palavras entre o presidente do PSD, Rui Rio, e o secretário-geral socialista, António Costa, prosseguiu ao sexto dia de campanha, com o social-democrata a recusar ter violado quaisquer princípios ao questionar se o também primeiro-ministro sabia do encobrimento do roubo de material militar dos paióis de Tancos. Não ficando apenas pela resposta ao secretário-geral socialista, Rio assumiu que "ainda hoje ou segunda-feira" o PSD vai pedir a convocação de uma reunião da Comissão Permanente do parlamento, ressalvando, contudo, que esta posição não vai afetar futuros entendimentos entres os sociais-democratas e o PS.

Numa conferência de imprensa na sede nacional do partido, em Lisboa, este sábado, a presidente do partido, Assunção Cristas, questionou se o presidente da Assembleia "já garantiu que todas as declarações prestadas no parlamento", tanto de Azeredo Lopes como de António Costa, "foram entregues ao Ministério Público".

Em termos de iniciativas, a líder dos centristas anunciou ainda a sua intenção de apoiar uma segunda comissão de inquérito parlamentar, após as eleições de 06 de outubro.  Assunção Cristas acrescentou que o seu partido "participará ativamente" na reunião da comissão permanente da Assembleia da República, sugerida pelo PSD.

"Todas as comissões de inquérito que sirvam para esclarecer o que não está esclarecido nós estamos evidentemente de acordo", disse André Silva, que falava aos jornalistas após uma viagem de comboio na Linha do Vouga, que começou em Santa Maria da Feira e acabou em Espinho, no distrito de Aveiro.

Apesar disso, o porta-voz do PAN vincou que aquilo que se está a assistir na campanha, relativamente ao caso de Tancos, que levou à acusação do ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes, "é uma politização de um processo judicial e, de alguma forma, um aproveitamento político que serve quer à esquerda quer à direita para desviar as atenções da campanha".

A resposta de Costa à comissão de inquérito, "agora não serve" e Cristas questiona se mantém a resposta que deu, por escrito: Azeredo Lopes "desempenhou com lealdade as funções de ministro da Defesa Nacional, transmitindo-me sempre, em todos assuntos, a informação que considerou relevante ou que eu solicitei".

Acusação de Tancos

O furto de material de guerra foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017.

Quatro meses depois, a Policia Judiciária Militar (PJM) revelou o aparecimento do material furtado, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração de elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.

O Ministério Público (MP) acusou na quinta-feira 23 pessoas, entre elas o ex-ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, no caso do furto e da recuperação das armas do paiol da base militar de Tancos.

Os arguidos são acusados de crimes como terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.

O caso abalou as forças armadas, levou à demissão de Azeredo Lopes em 2018 e a polémica em torno do furto, tornado público pelo Exército em 29 de junho de 2017 com a indicação de que ocorrera no dia anterior, subiu de tom depois da, aparente, recuperação do material na região da Chamusca, no distrito de Santarém, em outubro de 2017, numa operação da Polícia Judiciária Militar (PJM).

Nove dos 23 arguidos são acusados de planear e executar o furto do material militar dos paióis nacionais e os restantes 14, entre eles Azeredo Lopes, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.