António Joaquim Piçarra alegou que o TCIC "está, na sua génese, mal concebido" e só faria sentido "se existisse também uma audiência nacional como existe em Espanha".
O presidente do Supremo Tribunal de Justiça defende a extinção do Tribunal Central de Instrução Criminal, proposta que vai apresentar ao Conselho Superior da Magistratura, e considera que houve uma "deturpação das finalidades" desta fase processual.
Em entrevista à Agência Lusa, que será divulgada na integra na manhã de quinta-feira, António Joaquim Piçarra alegou que o Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) "está, na sua génese, mal concebido" e só faria sentido "se existisse também uma audiência nacional [tribunal central de julgamento] como existe em Espanha" para julgar a criminalidade mais complexa.
"O que aconteceu é que houve uma deturpação das finalidades da instrução e transformou-se esta fase num pré-julgamento", afirmou o juiz conselheiro, acrescentando que esta fase processual facultativa visa apenas a "comprovação judicial da decisão de levar os arguidos a julgamento ou do arquivamento do processo".
Em vésperas de se conhecer a decisão do juiz Ivo Rosa, do TCIC, sobre quem vai a julgamento na Operação Marquês, cuja fase de instrução começou a 28 de janeiro de 2019, o presidente o Supremo Tribunal, e por inerência do Conselho Superior da Magistratura (CSM), considera "insustentável" e incompreensível que um veredicto demore dois ou três anos a ser proferido e que os processos se arrastem no tempo.
António Piçarra propõe, assim, que "nos casos de arquivamento o ofendido pudesse exigir que o juiz se prenunciasse" e nas situações em que haja lugar a uma acusação "o processo iria diretamente para julgamento e aí os arguidos produziam a prova em sua defesa e contraditavam as provas do inquérito".
Contudo, entre as modificações que preconiza, o magistrado admite a possibilidade de os arguidos poderem pedir a abertura desta fase processual, "mas exclusivamente para um juiz apreciar se as provas que foram recolhidas num inquérito são ou não suficientes para os levarem a julgamento", estando vedada a produção de prova, audição de arguidos ou testemunhas.
"A proposta que vou apresentar ao CSM é no sentido de a instrução ficar limitada apenas ao arquivamento. Nos casos de acusação ou não haveria instrução ou limitar-se-ia a que o juiz avaliasse as provas que foram produzidas e decidisse se aquele caso era ou não de levar a julgamento", contou à Lusa.
No entender do juiz conselheiro, a sua proposta impedirá que haja "processos a arrastar-se três ou mais anos na justiça".
A morosidade processual, diz, é inadmissível e "mina a confiança dos cidadãos, pois nenhum cidadão confiará numa justiça que demora tantos anos a decidir quem é ou não culpado e os arguidos também beneficiariam porque não ficariam tantos anos com a espada sobre eles".
"A morosidade é incompreensível para mim, portanto imagino para outro qualquer cidadão que não percebe que um processo demore tanto tempo a ser investigado e muito menos o tempo que demora a ser instruído e haver uma decisão", observou.
"É incompreensível e insustentável" o longo tempo que demoram alguns processos, criticou António Piçarra, dizendo não compreender como é que esta fase tem tanta projeção no espaço mediático e nos cidadãos.
"O tribunal é de instrução, esta fase é facultativa e qualquer decisão que dai provenha é sempre provisória", lembrou.
Presidente do Supremo Tribunal defende extinção do Tribunal Central de Instrução Criminal
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
Queria identificar estes textos por aquilo que, nos dias hoje, é uma mistura de radicalização à direita e muita, muita, muita ignorância que acha que tudo é "comunista"
Trazemos-lhe um guia para aproveitar o melhor do Alentejo litoral. E ainda: um negócio fraudulento com vistos gold que envolveu 10 milhões de euros e uma entrevista ao filósofo José Gil.