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Maioria de refugiados rohingya são crianças em risco de fome

20 de outubro de 2017 às 07:49
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A maioria dos quase 600 mil refugiados rohingya que sobrevivem em condições precárias no Bangladesh são crianças que sofrem de desnutrição e estão expostos a doenças infecciosas

A maioria dos quase 600 mil refugiados rohingya, 58%, que sobrevivem em condições precárias no Bangladesh são crianças que sofrem de desnutrição e estão expostos a doenças infecciosas e a perigos à integridade física e moral, afirma a Unicef.

"É o inferno na terra, é assim que o descreveria", afirmou em conferência de imprensa Simon Ingram, autor do relatório da Unicef "Banidos e Desesperados: crianças rohingya refugiadas perante um futuro perigoso", apresentado hoje em Genebra.

Após duas semanas em Cox's Bazar, localidade bengali onde se reuniram quase 600 mil refugiados desta minoria muçulmana recém-chegados, que se juntam a outros 200 mil rohingyas que tinham fugido anteriormente, Ingram descreveu uma situação "desesperada, de miséria e sofrimento indescritível".

Crianças testemunharam assassinatos e violações

O relatório destaca o sofrimento a que foram expostos os menores durante ataques a que foram sujeitos quando estavam na Birmânia ou durante o trajecto até ao Bangladesh, para fugir à repressão.

"Não entrevistei nenhuma criança que não me contasse relatos horrendos de violações, pessoas degoladas, bombardeamentos e casas queimadas antes de partirem, e de disparos de atiradores furtivos durante a fuga", descreveu Ingram.

O relatório inclui vários desenhos de crianças com soldados de uniforme a matar pessoas e helicópteros a disparar do céu indiscriminadamente.

Em meados de Agosto, o Exército de Salvação Rohingya de Araken (ARSA) atacou postos das forças de segurança birmanesas e estes atentados geraram uma devastadora repressão do exército e da polícia que obrigou dezenas de milhares e pessoas a fugir do estado de Rakhine para o Bangladesh.

Rohingyas chegam a Bangladesh desnutridos

Ingram explicou que se sabe muito pouco do que se passa em Rakhine, dado que as agências humanitárias não podem entrar na região desde Agosto, mas que a maioria dos refugiados "já chega desnutrido, já que a repressão também incluiu a queima dos armazéns de comida e destruição das colheitas".

De acordo com os dados do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), conclui-se que uma em cada cinco crianças com menos de cinco anos sofre de desnutrição aguda e cerca de 14.500 sofre de má nutrição severa aguda.

"Estes últimos precisam de assistência urgente, caso contrário há grande risco que morram", afirmou.

Ingram explicou que com a campanha de vacinação contra a cólera - que está quase a terminar - e outras contra o sarampo e a poliomielite reduziram-se os principais riscos de infecção de doenças contagiosas, mas o perigo continua a existir.

"As condições de falta de água potável e saneamento nulo são fontes de infecção. As crianças carregam constantemente água contaminada", acrescentou.

Em relação à protecção dos menores, o especialista indicou que o número de crianças desacompanhadas diminuiu até 800, com os trabalhos de identificação realizados por diferentes agências humanitárias no terreno.

"No entanto (...) o perigo de se perderem é constante. O campo de refugiados é enorme e há tanta gente que as crianças se perdem a toda a hora", disse.

Em relação ao abuso sexual ou casamentos forçados ou antecipados, Ingram explicou que só conhecem casos pontuais, mas o trabalho infantil, por exemplo, é frequente.

"Começam a surgir pequenos pontos de venda de bens ou de comida, ou pequenos intercâmbios comerciais onde as crianças estão totalmente envolvidas", disse.

Cuidados intensivos

Loucuras de Verão

Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.