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Mãe de Jéssica acusada de homicídio qualificado por omissão

Menina de três anos morreu em junho, em Setúbal. Arguidos foram acusados dos crimes de rapto, rapto agravado, coação agravada, violação agravada e tráfico de estupefacientes agravado.

O Ministério Público acusou hoje Inês Tomás Sanches, a mãe da menina de 3 anos morta em junho em Setúbal, de homicídio qualificado e ofensa à integridade física qualificada, por omissão.

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O despacho de acusação do Ministério Público, a que a Lusa teve hoje acesso, refere que a suposta ama da menina, Ana Pinto, o marido, Justo Ribeiro Montes, e a filha, Esmeralda Pinto Montes, estão acusados de homicídio qualificado consumado, rapto, rapto agravado e coação agravada.

Estes três arguidos, bem como outro filho de Ana Pinto, Eduardo Montes, estão ainda acusados de um crime de violação agravado e de um crime de tráfico de estupefacientes agravado.

O despacho de acusação refere ainda vários episódios de alegadas agressões à menina por parte de Ana Pinto, Justo Ribeiro Montes e Esmeralda Pinto Montes, que a retiveram em sua casa para garantir o pagamento de uma dívida da mãe, que nunca denunciou a situação às autoridades.

A menina, de acordo com o Ministério Público, só voltou a ser entregue à mãe cinco dias depois, cerca das 10:00 do dia 20 de junho, com sinais evidentes de maus tratos e quando já não reagia a qualquer estímulo.

O Ministério Público refere ainda que só cinco horas mais tarde, cerca das 15:00, a mãe terá contado ao seu companheiro o que se passava, tendo este alertado o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).

A menina ainda foi assistida no local e transportada ao Hospital de São Bernardo, mas não resistiu aos ferimentos.

De acordo com a acusação, durante os cinco dias em que Jéssica permaneceu na casa de Ana Pinto foi várias vezes agredida com puxões de cabelos, a murro e pontapés em todo o corpo, incluindo na zona da cabeça, além de lhe terem entornado um líquido fervente ou um produto abrasivo sobre o rosto.

No dia 18 ou 19 de junho, acrescenta o Ministério Público, os arguidos Ana Pinto, Esmeralda, Justo e Eduardo Montes levaram ainda Jéssica a Leiria, para depois a utilizarem para dissimular o transporte de produtos estupefacientes na viagem de regresso a Setúbal, caso fossem intercetados pelas autoridades.

Ainda segundo a acusação, os arguidos introduziram uma quantidade indeterminada de cocaína no corpo da criança e colocaram outras drogas na fralda da menina.

O Ministério Público refere ainda no despacho de acusação que a arguida Inês Tomás Sanches entregou a filha aos arguidos, embora sabendo que em ocasião anterior a menina já tinha sido vítima de maus tratos na casa dos mesmos, conformando-se com essa possibilidade.

Na acusação é igualmente referido que a mãe da menina apercebeu-se das graves lesões que a filha já apresentava no dia 19 de junho, quando se deslocou a casa da arguida Ana Pinto, na sequência de uma alegada queda de Jéssica.

Apesar dos sinais evidentes dos maus tratos que a criança já tinha sofrido e de a ter visto a fazer uma convulsão, Inês Tomás Sanches acatou a ordem da arguida Ana Pinto para que se retirasse, com a advertência de que só lhe devolveriam a filha quando pagasse uma dívida de cerca de 500 euros.

A alegada dívida, por serviços de bruxaria de Ana Pinto para tentar melhorar o relacionamento de Inês com o companheiro, resultou na sucessão de acontecimentos com maus tratos violentos a Jéssica, que acabou por morrer no dia 20 de junho deste ano.

Quatro dos cinco arguidos, Inês Tomás Sanches, Ana Pinto, Justo e Esmeralda Montes estão em prisão preventiva. O quinto arguido, Eduardo Montes, foi presente a primeiro interrogatório judicial, tendo-lhe sido aplicada a medida de coação de apresentações periódicas às autoridades policiais.

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