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Concluída primeira operação de repatriamento de portugueses e luso-ucranianos da Ucrânia

"Dois grupos atravessaram a fronteira da Ucrânia com a Moldávia e depois dirigiram-se à Roménia, onde convergiram", relatou o ministro dos Negócios Estrangeiros.

A operação de repatriamento dos primeiros 38 cidadãos portugueses e luso-ucranianos provenientes da Ucrânia, que abandonaram aquele país do leste europeu devido à invasão russa, foi hoje concluída com a chegada a Lisboa.

Falando aos jornalistas no Aeroporto Humberto Delgado, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva detalhou que "dois grupos atravessaram a fronteira da Ucrânia com a Moldávia e depois dirigiram-se à Roménia, onde convergiram".

"A partir da Roménia, de Bucareste, foi possível organizar uma ligação aérea e é essa que agora termina", observou.

Santos Silva indicou ainda que algumas pessoas ficaram em solo romeno.

"Algumas delas [pessoas] ficaram na Roménia, desde logo o senhor embaixador [na Ucrânia], os militares [...] e outros funcionários da embaixada, que estão alojados na Roménia, enquanto não há condições para regressarem a Kiev", disse o ministro.

Na zona das chegadas do Aeroporto Humberto Delgado, Ricardo Cotovio, um dos portugueses repatriados, disse que havia ficado "aliviado" com a aterragem em Portugal.

"Não é todos os dias em que se está numa situação de guerra. Não estava à espera, porque as indicações que tínhamos [...] é que nada iria acontecer", observou.

Também Edgar Cardoso contou que "foi horrível" o que passou na Ucrânia, sentindo-se muito "nervoso".

"Decidi sair e foi o melhor na altura. [...] Assisti às primeiras explosões. Eram 04:50, estava acordado. Foi horrível", relatou.

Edgar Cardoso disse ainda que "tinha uma mala preparada já há uma semana" e que "ninguém esperava que ia chegar ao ponto em que chegou".

Augusto Santos Silva salientou que já saíram da Ucrânia 75 cidadãos portugueses e luso-ucranianos, acrescentando que os dois estudantes que estavam a ter dificuldades em passar a fronteira para a Polónia já fizeram a travessia.

"As coisas correram bastante bem. Tenho de agradecer e já agradeci por telefone a senhora embaixadora da Ucrânia em Lisboa, que foi incansável quando sinalizámos este problema", anotou.

O ministro dos Negócios Estrangeiros alertou que o Governo está "a trabalhar com vários [cidadãos] que desejam sair".

"[...] Há outros que desejam sair... Estamos a falar de quatro dezenas de pessoas que temos de apoiar na saída. Nessas pessoas compreendem-se os senhores e senhoras jornalistas, quer os que se encontram em Kiev, quer os que se deslocaram para Lviv", realçou.

Questionado sobre a assinatura do pedido formal da Ucrânia para aderir à União Europeia, Augusto Santos Silva disse que, neste momento, tem de trabalhar "no agora".

"Eu não conheço nenhuma reação da União Europeia. Faço minhas as palavras do Alto Representante [Josep Borrel] na entrada de hoje [segunda-feira] para reunião dos ministros da Defesa", defendeu.

Borrel havia dito que era preciso "tratar de coisas mais práticas".

A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 350 civis, incluindo crianças, segundo Kiev. A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e quase 500 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.

O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.

Editorial

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