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"O Estado investiu em mim três meses, eu invisto no Estado já há 22 anos", relata presidente da AMUCIP.
Vitória Caramelo, 50 anos, foi acolhida na Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas (AMUCIP) após ter ficado viúva, algo que a resgatou para a vida e lhe permitiu voltar à escola. Hoje, prepara-se para ser mediadora comunitária.
"Os meus dias eram passados num cemitério. Tive de fazer um despertar. Mas com ajuda de quem? Da AMUCIP", conta Vitória, que perdeu o marido aos 36 anos.
"Sentia-me em comunidade [...] porque estava debaixo de um teto de uma associação de mulheres ciganas. Sentia aquela segurança e nessa altura estava muito preocupada com o que iam pensar de mim", acrescenta.
A associação surgiu em 2000 no concelho do Seixal, no distrito de Setúbal, e tem, desde então, realizado projetos com vista à integração de mulheres e crianças ciganas no sistema educativo e no mercado de trabalho. No entanto, segundo as cinco sócias fundadoras, o associativismo era "algo impensável" dentro da sua comunidade.
Quando criaram a AMUCIP não tinham noção do que era uma associação. A atual presidente e fundadora Sónia Matos adianta que sentiram a necessidade de dar apoio às crianças ciganas antes de irem para a escola, porque, quando lá chegam, "levam um choque por não terem a mesma preparação que todas as outras".
Vitória recorda as dificuldades que sofreu na infância: "A [escola] primária não estava preparada para ir ao encontro da etnia, para nos integrar", lembra, recordando uma professora que não a ensinava a ler, apenas lhe "passava folhas".
Em casa, a tia percebeu que Vitória não conseguia ler nem escrever. Acabou por abandonar a escola e ingressou na "universidade cigana" que era ser dona de casa, mãe e esposa.
O mesmo acontecia nas formações no Centro de Emprego. A falta de integração da comunidade cigana era uma realidade para Vitória e, quando ficou viúva, obrigou-se a ir para não lhe cortarem o Rendimento Social de Inserção (RSI).
Anos mais tarde, e já depois de sentir que ainda "há muito estigma" ao procurar emprego, a associação encaminhou-a para o Centro Qualifica na Escola Secundária da Amora, onde agora continua os estudos.
"A AMUCIP é uma incubadora onde elas aprendem a respirar e andar e depois deixamo-las voar", afirma a presidente.
Os filhos das mulheres apoiadas, normalmente a seu cargo, ficam na associação enquanto as mães participam nas formações da AMUCIP.
"Eu é que tinha de limpar o rabo às crianças e ir buscar os filhos às escolas, porque elas não tinham força para pedirem em casa ao marido para tomar conta dos filhos, eles não aceitavam", conta Sónia Matos, referindo-se aos primeiros anos de funcionamento.
As crianças, diz, começaram a ganhar apego por ficar na AMUCIP. No entanto, estavam sujeitas a uma condição obrigatória, que ainda hoje se mantém: ir à escola. Para atender aos desafios da integração no sistema de ensino, Vitória, apoiada pela associação, prepara-se para assumir o papel de mediadora. Está à espera há mais de um ano.
A mediadora comunitária serve como uma ponte entre a comunidade cigana e as escolas de modo a facilitar a integração e prevenir o insucesso escolar.
O RSI, criado em 1996, é uma ferramenta essencial para a mudança na comunidade cigana e, especialmente, para as mulheres.
"Foi através do RSI que pude chegar a casa e dizer ao meu pai que tinha um contrato assinado que me obrigava a que eu participasse estudando ou tirando um curso. E foi isso que eu fiz. Desde aí nunca mais voltei a ficar desempregada. O Estado investiu em mim três meses, eu invisto no Estado já há 22 anos", assegura a presidente da AMUCIP.
Para Vitória, o RSI serviu para tirar a comunidade de um "círculo fechado".
"Foi bom porque começaram a 'mexer muito na terra', mas não é só o Estado a abençoar a comunidade. Não é com 180 euros no primeiro titular do agregado, outros do agregado a receberem 90 e outros 30 que se sobrevive um mês", frisa.
Vinte e dois anos depois dos primeiros passos de uma associação que, no início tinha como escritório a bagageira de um carro, a AMUCIP tem agora, com o apoio da Câmara Municipal de Seixal, uma nova sede para continuar o percurso da integração e apoio às mulheres ciganas.
"Deixa-me confiante na nossa sociedade. Aquilo que este presidente da Câmara fez... é preciso ter coragem. Fazer coisas para a comunidade cigana tira votos. Mas ele teve essa coragem e, para combater a discriminação e racismo, só com políticos valentes e corajosos", diz Sónia.
As mulheres ciganas abraçaram o projeto porque, como explica outra das suas fundadoras, Olga Mariano, é uma iniciativa de cigano para cigano: "Somos umas com as outras. Não é fazer para, é fazer com. Essa é a diferença. É muito importante sermos tudo o que quisermos ser sem nunca deixarmos de ser quem somos."
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