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Mãe de Trump nunca esteve ilegal nos EUA, apesar do que diz o filho

Diogo Barreto
Diogo Barreto 03 de fevereiro de 2025 às 18:03
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A mãe de Donald Trump chegou aos EUA em 1930, vinda da Escócia, com 50 dólares no bolso. Especialistas desmentem presidente norte-americano, que diz que veio em turismo.

Mary Anne MacLeod Trump, mãe do presidente norte-americano, Donald Trump, nasceu na Escócia e desembarcou pela primeira vez nos Estados Unidos em maio de 1930, aos 18 anos, revela um registo de entradas do porto de Nova Iorque, ponto de entrada para milhões de emigrantes vindos da Europa. Vinha com o desejo de ficar no país e este pormenor desmente a história que sempre foi contada pelo seu filho, de que seria uma mulher que esteve em situação ilegal no país.

AP Photo/Pablo Martinez Monsivais

De acordo com os documentos a que a BBC teve acesso, Mary embarcou a 2 de maio de 1930 no porto de Glasgow com destino aos EUA, onde chegou nove dias depois a bordo do navio Transilvania. O documento em causa está disponível na The Statue of Liberty-Ellis Island Foundation, que reúne 65 milhões de registos de passageiros que desembarcaram na cidade entre 1820 e 1957. No relatório citado pela BBC consta o número do visto de imigração de Mary Anne (#26698) e a informação de que a escocesa tinha a intenção de ficar de maneira permanente e tornar-se cidadã norte-americana. 

De acordo com a Reuters, a sua situação sempre esteve legalizada. Natural de Tong, uma aldeia da Ilha de Lewis, no norte da Escócia, a mãe de Trump seguiu, aos 18 anos, os passos de três das suas irmãs, que já estavam nos EUA: Christina, Mary Joan e Catherine, que a recebeu em Astoria, Queens. "Ela veio com um visto de imigrante para ter residência permanente", afirmou Barry Moreno, historiador do Museu Nacional da Imigração de Ellis Island, à BBC.

A futura mulher de Fred Trump chegou ao "novo continente" com 50 dólares no bolso (ajustado ao valor da inflação, esse valor corresponde a perto de 700 euros) e vontade de ficar, ao contrário daquilo que Donald Trump sempre afirmou. À BBC, Gwenda Blair, autora do livro The Trumps: Three Generations of Builders and a Presidential Candidate ('Os Trump: Três Gerações de Construtores e um Candidato Presidencial', em tradução livre) refere que "se desde o momento em que chegou a mulher disse querer morar nos EUA, isso classifica-se de imigração" e não turismo. 

Walter McBride/MediaPunch /IPX

Esta versão é diferente daquela contada pelo presidente norte-americano que sempre disse que a sua mãe viajou inicialmente para o país como turista e não com a intenção de lá residir e que eventualmente teria decidido ficar. Caso esta história fosse verdadeira, a mãe de Donald Trump seria uma imigrante não-documentada como aqueles que Trump quer deportar. 

De acordo com  Michael D'Antonio, autor do livro Never Enough: Donald Trump and the Pursuit of Success ('Nunca será suficiente: Donald Trump e a procura do sucesso'), a mãe do empresário tinha algumas posses, tendo viajado numa cabine partilhada e não na terceira classe. Mas também não tinha dinheiro suficiente para viajar em primeira classe, sublinha o autor que lembra que foi registada como "doméstica". 

Em junho de 1934 Mary Anne MacLeod Trump visitou a sua terra natal, voltando a entrar nos EUA, novamente através de Nova Iorque em setembro de 1934, desta vez a bordo do navio Cameronia. E, em 1942, a mãe de Trump tornou-se oficialmente cidadã norte-americana, seis anos depois de ter casado com Fred. Quatro anos depois, nascia Donald Trump.

Casou com Fred Trump - filho de imigrantes alemães - em 1936 e juntos tiveram cinco filhos. A New Yorker conta que os pais de Donald Trump se conheceram num baile. Na altura Trump já era um magnata com um grande império imobiliário. Depois do casamento, Mary Anne MacLeod Trump dedicou-se à filantropia, doando ao Exército da Salvação, aos escuteiros da América e a vários hospitais. 

No seu livro A Arte da Negociação, Donald Trump descreve a mãe como sendo uma "dona de casa muito tradicional que tinha plena consciência do mundo além dela". Aos 88 anos, menos de um ano depois da morte do marido, Mary Trump faleceu, em 2000. Agora, está no cemitério de New Hyde Park, em Nova Iorque. Ao seu lado estão Fred, o marido, o filho Fred C. Trump Jr., a mãe e o sogro.