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Provas para o 4º e 6º ano começam esta segunda-feira com avisos de greve. A avaliação faz sentido?

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 19 de maio de 2025 às 06:30
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O modelo atual dá às escolas autonomia para definirem os dias em que as provas se vão realizar, referindo apenas períodos de tempo entre os quais o processo das ModA deve estar completo. Ainda assim alguns estabelecimentos terão de deixar os restantes alunos sem aulas.

Esta segunda-feira começam a realizar-se as provas de Monitorização da Aprendizagem (ModA) dos 4º e 6º anos, com pré-avisos de greve de vários sindicatos. Estas provas, que com o anterior governo se realizavam nos 2º, 5º e 8º anos não contam para a nota dos alunos, mas "ajudam a aferir as competências adquiridas", tal como explica Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP), àSÁBADO.  

Estas provas recolhem críticas por parte dos sindicatos, com a Federação Nacional de Professores (Fenprof) a considerar que "a aferição deve ser feita durante o ciclo e não apenas num momento no meio das aulas". No entanto, Filinto Lima considera que através deste tipo de avaliação "conseguimos chegar a dados importantes sobre o aluno, a turma, a escola, o município e até o País", ou seja, "chegar a dados micro e macro que são bastante importantes para os conselhos pedagógicos".

Para o presidente da ANDAEP o principal problema deste tipo de provas é a falta de um acordo de regime sobre quando se devem realizar: "Não se entende como é que os partidos não chegam a um consenso sobre os anos em que devem ser aplicadas. Com tantas mudanças existem alunos que nunca realizaram as provas e outros que estão sempre a fazê-las". Filinto Lima prefere não referir com qual modelo concorda mais, à esquerda as provas tendem a ser nos 2º, 5º e 8º anos e à direita nos 4º e 6º anos, mas reforça a necessidade de ser tomada uma decisão a pensar no futuro. 

O modelo atual dá às escolas autonomia indicando apenas períodos de tempo entre os quais as provas se devem realizar. Entre os dias 19 e 23 de maio devem realizar-se as provas de Português, Português Língua Segunda e Português Língua Não Materna dos 4º e 6º anos, entre os dias 26 e 30 de maio as provas de Inglês para o 4º ano e de História e Geografia de Portugal para o 6º ano e entre os dias 2 e 6 de junho de Matemática para os 4º e 6º anos. Filinto Lima refere que "cada escola faz o seu próprio calendário" e que a realização destas provas origina "uma logística imensa para as escolas, para as direções e para os professores".  

Isto porque além de ser necessário escolher os melhores dias, "as provas realizam-se durante o ano letivo, ou seja, estão a haver aulas e, tendo em conta as especificidades das escolas pode até ser necessário alguns alunos ficarem sem aulas".  

Provas digitais  

Existe ainda uma dificuldade acrescida: as provas são realizadas em computadores e o dirigente escolar considera que para o 4º ano "é demasiado cedo, os alunos ainda estão a aperfeiçoar a caligrafia e deveriam ser feitas em papel". 

Ainda assim, Filinto Lima acredita que vão existir menos problemas do que nos anos anteriores uma vez que foram realizadas provas-ensaio para se fazer um levantamento do material em falta em cada escola. O também diretor do Agrupamento Dr. Costa Matos, em Vila Nova de Gaia, recorda que "este ano, o 9º ano também vai realizar provas em formato digital e que para o ano está previsto que se estenda para o secundário", pelo que, apesar de considerar que "estamos a dar os primeiros passos" da transição digital é fundamental que não existam problemas. 

Pré-avisos de greve 

A Fenprof já anunciou um pré-aviso de greve a todo o serviço relacionado com as provas ModA. Segundo o ainda líder do sindicato, Mário Nogueira, a greve vai ser realizada devido às várias queixas dos profissionais: há alunos que vão perder aulas nos dias da prova pelos professores estarem escalados para a vigilância ou secretariado; a realização das provas gera sobrecarga de trabalho; e alertam para a falta de condições técnicas para a realização das provas, como é o caso de computadores. 

A Fenprof contesta a eficácia destas provas referindo ainda que continuam a existir problemas de conetividade e falta de equipamentos em diversas escolas e zonas do País. Apontando ainda que as provas em formato digital acentuam desigualdades entre os alunos.  

Também o Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP) já se posicionou contra a realização das provas e também convocou uma greve: "A aplicação destas provas sobrecarrega os alunos com tarefas que se sobrepõem às que são essenciais para o sucesso do seu processo de ensino-aprendizagem. Por outro lado, compromete o trabalho de docentes, em situações, muitas vezes, de profunda escassez de profissionais nas escolas".  

O STOP defende ainda que quem quiser fazer greve e tiver, à mesma hora, outra função com componente letiva deve cumprir o seu horário, "com as mesmas turmas e nas mesmas escolas".  

Filinto Lima explica que "é difícil ter acesso ao número de alunos que não fizeram as provas o ano passado devido a greves" e que por norma "não existem remarcações", apesar de "a última palavra ser sempre o Ministério da Educação". Ainda assim garante: "Os alunos não são prejudicados por não realizarem as provas, os seus professores é que ficam sem as informações sobre o seu estado de aprendizagem". 

O professor refere ainda que este ano "o número de corretores é menor", até porque "as provas serem digitais facilita bastante o o processo de correção".

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