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Registadas 1150 ocorrências de raios lasers apontados a aviões

11 de novembro de 2017 às 20:34
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Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea exigiu este sábado uma legislação "especifica, clara e pesada".

Entre 2013 e Outubro deste ano foram registadas 1150 ocorrências de raios lasers apontados a aviões em pleno voo, perto dos aeroportos nacionais. Os dados foram divulgados pela Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC). Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA) exigiu este sábado uma legislação "especifica, clara e pesada".


"O piloto fica momentaneamente cego, como se levasse com um feixe de luz extremamente potente nos olhos e deixa de ver. Numa altura em que tem de pilotar, em que pode falhar o motor, numa altura em que já está a voar à mão, e cerca de um minuto, ou mesmo trinta segundos depois, está a tocar no chão. É óbvio que isto afecta a segurança. É a mesma coisa que haver alguém no cockpit'e que, por brincadeira [de mau gosto], na parte final da aterragem, tape os olhos ao piloto", explica o presidente da APPLA, Miguel Silveira, em declarações à agência Lusa.

Estas ocorrências inserem-se, segundo a ANAC, no artigo 288 do Código Penal - "Atentado à segurança de transporte por ar, água ou caminho-de-ferro": Quem atentar contra a segurança; destruindo, suprimindo, danificando ou tornando não utilizável instalação, material ou sinalização; colocando obstáculo ao funcionamento ou circulação; dando falso aviso ou sinal; ou praticando ato do qual possa resultar desastre é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.

A lei prevê, contudo, que, se, através da conduta descrita anteriormente, o autor criar perigo para a vida ou para a integridade física de outrem, ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado, é punido com pena de prisão de 3 a 10 anos.

O presidente da APPLA defende, contudo, a criação de legislação específica nesta matéria. "Deve haver uma legislação clara e específica, assim como há para qualquer outra instância, em que os seres humanos, vivendo em sociedade, possam pôr em perigo outros seres humanos. Deve haver uma lei, e uma lei pesada relativamente a isso", salienta Miguel Silveira, justificando: "Porque um piloto que deixa de ver momentaneamente quando está a aterrar um avião, a apenas segundos de tocar na pista, obviamente que tem de estar a ver o que é que está a fazer, porque corremos o risco do avião poder aterrar num local que nada tem a ver com a pista, pondo em perigo as vidas dos ocupantes e das populações circundantes", avisa o piloto.

Para o presidente da APPLA, a fusão dos gabinetes de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA) com o de Investigação de Segurança e de Acidentes Ferroviários (GISAF), dando origem ao Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), foi, até ao momento, uma má opção do Governo.

O GPIAAF, criado a 1 de Abril pelo ministério do Planeamento e das Infraestruturas, liderado por Pedro Marques, continua sem chefe de equipa multidisciplinar responsável pelo ramo da aviação civil e mantém os mesmos dois investigadores, que têm em mãos mais de uma centena de investigações, as quais têm transitado de ano para ano, desde 2012.

"Seis meses após a formação do GPIAAF, continuamos a aguardar uma resposta da tutela, porque pensamos que há uma hipótese daquilo [daquele Gabinete] continuar a não estar legal nem regulamentar. Com uma certeza, porém: [até à data] não tem orçamento que faça com que a investigação de acidentes funcione logo e a vertente de prevenção deverá estar completamente ao abandono. Coisas como os ataques a lasers, na vertente da prevenção, da sensibilização, pura e simplesmente não estão a funcionar", alerta Miguel Silveira.

O presidente da APPLA ressalva, contudo, que a culpa não é da actual direcção do GPIAAF, pois não dispõe dos meios necessários, apesar das "inúmeras promessas" feitas pela tutela. "Ouvimos nós algumas vez o GPIAAF emitir declarações, fazer fosse o que fosse na prevenção de ataques com lasers? Nunca mais ouvi nada. Mas lembro-me que o GPIAA trabalhava muito com a APPLA neste sentido. Agora, não vamos é pôr o peso disto no GPIAAF, porque a APPLA tem trabalhado, dentro do possível, sempre ao lado do GPIAAF. Só que o GPIAAF não tem orçamento, não tem investigadores e o quadro continua por preencher", frisa Miguel Silveira.

A Lusa confrontou o GPIAAF com estas declarações, tendo este organismo remetido as questões para o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, que não respondeu.
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