Foram aprovadas esta sexta-feira no Parlamento as alterações ao Código do Trabalho e ao Código dos Regimes Contributivos do sistema previdencial da segurança social. O PS votou isolado e contou com a abstenção do PSD e do CDS-PP para fazer passar a nova lei, já que PCP, Bloco de Esquerda e PAN votaram contra.
A assistir na galeria, um grupo de pessoas da CGTP envergando camisolas vermelhas levantou-se em silêncio durante a votação. Um protesto que não foi aceite por Matos Correia, o deputado que nesse momento presidia aos trabalhos parlamentares e que pediu que se sentassem ou saíssem. Saíram, entre gritos de "vergonha" e "a luta continua", com Matos Correia ainda a afirmar que "a luta seguramente não continua com o desrespeito das instituições democráticas como é a AR".
Pouco antes, no momento das declarações políticas, também os deputados se envolveram em declarações entre bancadas, com a esquerda a acusar o PS de se juntar à direita. Rita Rato, do PCP, abriu as hostilidades, elencando as propostas do PCP que, ao longo da discussão e votação na especialidade, foram sendo rejeitadas pelo PS e pela direita.
A revogação do "alargamento do período experimental para 180 dias", uma norma que "já se sabe que é inconstitucional, e que assim foi já considerada pelo Tribunal Constitucional"; "o fim da caducidade da contratação coletiva", sendo que "o que temos hoje é que o código do trabalho é o limite máximo e a partir daí vale tudo o que o patronato quiser impor aos trabalhadores", exemplificou a deputada. "Propomos as 35 horas para todos, 25 de férias para público e privado, obrigatoriedade do subsídio de turnos" e ,"na especialidade, todas estas propostas foram rejeitadas por PS, PSD e CDS", lamentou.
O Bloco afinou pela mesma bitola, com o deputado José Soeiro a afirmar que "o que aconteceu nas últimas semanas no grupo de trabalho da legislação laboral foi grave" e que "ficam na lei do trabalho os cortes da troika e da direita, a desigualdade entre o público e o privado, a caducidade e degradação da contratação coletiva". José Soeiro lembrou ainda que "mesmo medidas do BE que o PS tinha aprovado na generalidade foram chumbadas na especialidade", caso da medida que facilitava a contestação de despedimentos em tribunal.
Vanda Guimarães, do PS, reagiu às críticas da esquerda sublinhando que "o PS é de esquerda" e que "é lastimável que o PCP e o Bloco de Esquerda tenham votado contra todas as propostas do PS". Entre outras, as referentes ao período experimental ou à definição de trabalhador à procura do primeiro emprego. "Tudo a esquerda chumbou", sublinhou a deputada.
Processo já vem do início da legislatura
As alterações à lei laboral estão em discussão desde o início da legislatura, mas as primeiras medidas de alteração ao Código do Trabalho só foram apresentadas em Março de 2018. Nesta primeira fase, essencialmente inspirado no seu Programa, o Governo anunciou as restrições à duração e à renovação dos contratos a termo, o fim do banco de horas individual, ou a futura criação de uma taxa para as empresas que mais recorrem à contratação a prazo.
Nas negociações para um acordo de concertação social, que seria assinado em maio, foram acrescentadas as contrapartidas reclamadas pelas associações patronais: a criação de um novo banco de horas grupal, o alargamento dos contratos de muito curta duração a todos os setores ou o aumento do período experimental dos contratos sem termo para jovens à procura de primeiro emprego ou desempregados de longa duração, uma medida que a esquerda quer ver analisada pelo Tribunal Constitucional, uma decisão que hoje voltou a ser sublinhada no Parlamento pelo deputado do PEV.
A proposta de lei do Governo, que deu entrada no Parlamento há um ano, tinha sido já aprovada na generalidade graças à abstenção de PSD e CDS. O texto que saiu da especialidade, um ano depois, pouco se afasta do diploma do Governo. As principais propostas de alteração do PS, para controlar por exemplo os efeitos o período experimental, não convenceram a esquerda nem a direita. As do PCP e do Bloco de Esquerda, para limitar horários ou facilitar a contestação do despedimento, foram chumbadas por PS, PSD e CDS.
Uma vez promulgado pelo Presidente da República, o diploma entra em vigor com efeitos graduais: as restrições à contratação a prazo não se aplicam aos contratos assinados até à entrada em vigor da lei, os bancos de horas individuais que estejam em aplicação podem vigorar durante mais de um ano e a taxa sobre a rotatividade não deverá ser cobrada antes de 2021.
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