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"Parecia um atentado". Protesto de bombeiros sapadores lança pânico em escola

Crianças debaixo das mesas, assustadas e sem acesso ao recreio. Foi este o cenário vivido nas escolas do agrupamento D. Filipa de Lencastre segundo os relatos de duas mães ouvidas pela SÁBADO.

"O que a minha filha me contou foi que os alunos se começaram a esconder debaixo das mesas, como se fosse um ataque. Entraram em pânico e ainda por cima estas explosões demoraram imenso tempo, cerca de duas horas". O relato é de Alice (nome fictício), mãe de uma aluna das escolas do agrupamento de escolas D. Filipa de Lencastre, perto do antigo edifício da Caixa Geral dos Depósitos (CGD) e nova sede do Conselho de Ministros. Foi neste último local que centenas de bombeiros sapadores se manifestaram esta manhã com fumos, petardos e tochas. O cenário assustou as crianças e a própria mãe, que estava a trabalhar perto do edifício. "Pensei que tinha sido lançada uma bomba, ou várias", detalha. "Já toda a gente ouviu petardos, mas estes eram realmente muito altos."

MIGUEL A. LOPES/LUSA

"Aquilo parecia um atentado", confirma Matilde (nome fictício), outra mãe que, na altura dos protestos, se preparava para ter uma reunião no agrupamento. "A minha filha, que está no 5º ano, era a que estava no edifício da escola que fica mais perto da Caixa Geral de Depósitos, e estava bastante preocupada porque ninguém lhe explicou o que estava a acontecer."

Segundo Alice, os professores terão tentado amenizar a situação junto dos alunos, embora não soubessem do que se tratava. A posterior comunicação por parte da direção, que informou estar em curso uma manifestação descontrolada, ainda por cima levada a cabo por bombeiros, só veio trazer ainda mais pânico às crianças.

"A diretora foi às salas explicar que era uma manifestação, mas isso não ajudou muito. Apesar disso, acho que ela esteve bem em estar presente", assegura a mesma mãe, ao acrescentar que a direção vedou o acesso ao recreio e fechou as portas da escola como consequência dos protestos. 

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Para Matilde, o problema deste protesto esteve no facto de ninguém da zona ter sido informado sobre o mesmo. Esta informação foi confirmada pela PSP, em nota que indica que a manifestação "não foi comunicada à Autoridade Administrativa competente, conforme previsto na lei". A força policial acrescenta que, por isso, vai participar esta decisão ao Ministério Público (MP).

Matilde diz à SÁBADO que esta falta de comunicação levou a que muitas pessoas pensassem, numa fase inicial, que se tratava se um simulacro de um atentado – pelo menos, era esta a informação que estava a ser transmitida pela portaria da escola. "A portaria da escola dizia a toda a gente que por lá passava que se tratava de um simulacro de um assalto ao banco. Só soube do que se estava realmente a passar quando o meu filho mais velho, que estava ao pé de um jardim, foi informado por bombeiros que estava a haver uma manifestação e que deviam ter cuidado", conta a mãe de duas crianças. 

Já Alice, que tem uma filha de dez anos, ressalva outro problema. "Como é que uma coisa destas pode acontecer ao lado de uma escola onde há quase 2 mil crianças num espaço tão pequeno? Como é que pode haver um comportamento destes por parte dos bombeiros? Há tanta coisa que podia ter corrido mal... Há inúmeros miúdos que passeiam fora da escola porque têm furos e às vezes vão andar de skate nas ruas. Como mãe, fico a pensar se alguém pensou nisto antes de ter planeado esta cena tão espalhafatosa."

Paulo Calado/CM

O protesto dos bombeiros sapadores arrancou às 8h45, de acordo com um comunicado da PSP. As negociações entre bombeiros sapadores e o Governo acabaram por ser suspensas devido ao uso de tochas, fumos e petardos pelos manifestantes: o Governo disse "não aceitar negociar perante formas não ordeiras de manifestação".

A SÁBADO contactou o Agrupamento de Escolas D. Filipa de Lencastre sobre o sucedido, mas a direção não quis prestar esclarecimentos aos jornalistas. 

Com Débora Calheiros Lourenço

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