Mais de 25 filiados e ex-filiados condenam as declarações da deputada do PAN à SÁBADO por ter lamentado que "as pessoas que optaram por sair tenham virado as costas a este projeto e tenham traído as causas e os valores" do partido.
Um conjunto de membros do PAN, a grande maioria opositores da atual cúpula, acusam a deputada Inês Sousa Real de "falta de democracia interna" e "centralização do poder". Em carta enviada àSÁBADO, 26 filiados e ex-filiados do PAN respondem àentrevista dada pela parlamentar a esta revista, onde lamenta que "as pessoas que optaram por sair tenham virado as costas a este projeto e tenham traído as causas e os valores" do partido.
"Não se limitou a partilhar uma visão pessoal — foi um ataque direto às pessoas que saíram do PAN, acusando-as de terem traído as causas do partido. Esse ataque exige uma resposta, não só por ser injusto, mas também porque procura desviar a atenção das verdadeiras razões que levaram muitos a afastar-se: a crescente falta de democracia interna, a centralização do poder, a marginalização de vozes dissidentes num partido cada vez mais à deriva, a correr atrás do prejuízo a qualquer custo — ao ponto de se fazerem coligações e acordos que contrariam frontalmente os valores defendidos pelo PAN", lê-se na carta.
Entre os signatários estão ex-membros da Comissão Política Nacional (CPN), órgão máximo de direção política do PAN entre congressos, como Fernando Rodrigues e Alexandra Miguel. Também ex-dirigentes de distritais, como o antigo assessor parlamentar Rui Prudêncio (Lisboa) e Ana Mendes e Ricardo Cândido (Setúbal). Entre os filiados estão Mónica Ferreira, deputada municipal por Amadora e ex-secretária do conselho de jurisdição, órgão que apresentou a sua demissão em bloco o ano passado, e o comissário Fernando Geração, um dos rostos da oposição na CPN.
Passerelle de superficialidade
Segundo os críticos, existe uma "resposta automática" quando a oposição exige a prestação de contas: "Não é o momento para discutir". "Membros alinhados com a direção são protegidos mesmo quando acusados de desrespeitar outros filiados, enquanto quem expressa opiniões divergentes enfrenta processos disciplinares", escrevem os críticos, que apontam para a existência de uma "cultura de silenciamento sistémica". "Esta lógica de exclusão mina qualquer ideia de justiça interna", frisa. Além disso, acusam o PAN de "infantilização crescente da comunicação do partido". "No próprio dia em que o PAN participava num debate eleitoral destinado a apresentar propostas concretas para o futuro do País, as redes sociais do partido optaram por fazer uma sondagem sobre a cor do blazer que Inês Sousa Real iria usar. A porta-voz — ou, como agora prefere, "líder" — transformou um projeto profundamente necessário, com causas de dimensão nacional e global, numa passerelle de superficialidade."
Outro motivo que deu polémica entre os mais críticos da liderança de Inês Sousa Real é a condução dos trabalhos da Mesa da CPN. Já em dezembro de 2024, no âmbito de uma notícia da SÁBADO sobre uma queixa de assédio laboral que tardava a ser discutida em CPN, Fernando Geração afirmou que "Salazar estaria orgulhoso, se fosse vivo, de ver o trabalho da Mesa, que humilha a democracia". E na entrevista dada recentemente à SÁBADO, Inês Sousa Real defendeu ainda a Mesa da CPN: "Isso não só não corresponde à verdade, como infelizmente diz mais acerca de quem faz essas afirmações do que sobre como é feita a condução dos trabalhos. Nós não nos podemos esquecer de que na política não vale tudo, muito menos esse tipo de ofensas", afirmou a deputada.
Volvidos seis meses, noutra carta a título pessoal, enviada também à SÁBADO por estes dias, Fernando Geração clarifica que "nunca comparou Alexandra Moreira a Salazar", mas que quis criticar "métodos autoritários": "O tipo de práticas que têm vindo a ser adotadas por Alexandra Moreira, enquanto presidente da Mesa da CPN, se aproximam de métodos autoritários que Salazar, certamente, não desaprovaria." Entre as queixas de Geração, está a de "omitir informação aos comissários", "suprimir iniciativas internas", "desrespeitar o Tribunal Constitucional" e restringir "direito de intervenção e debate" em CPN. Entre os exemplos concretos, Fernando Geração conta como a Mesa terá ignorado "pedidos formais de inquérito e de instauração de processos disciplinares", ou como em setembro de 2023 "parte dos Comissários Nacionais foi chamada a votar o acordo do PAN na Madeira com o PSD sem acesso prévio ao documento em questão". "Este foi apenas lido para os presentes numa reunião e votado de imediato, impedindo qualquer análise ou debate sérios. Dias depois, o mesmo documento foi publicado na íntegra no Jornal da Madeira."
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