"Agora é uma cerimónia privada? Encurralaram-nos aqui. Todos os anos venho aqui e nunca vi uma coisa destas", dizia uma das presentes, que pediu para ser identificada como "uma cidadã portuguesa revoltada com tudo isto".
Uma centena de cidadãos que queria ver de perto a comemoração da Implantação da República protestou esta quinta-feira na Rua do Arsenal, em Lisboa, por lhe ter sido bloqueada a visão para a cerimónia oficial, na Praça do Município.
TIAGO PETINGA/LUSA
As baias de segurança foram colocadas a cerca de 150 metros das entidades que assistiram sentadas aos discursos do dia, limitando o acesso de populares, que ainda tinham a meio do seu campo de visão as traseiras de um palco destinado aos meios de comunicação social.
"Agora é uma cerimónia privada? Encurralaram-nos aqui. Todos os anos venho aqui e nunca vi uma coisa destas", dizia uma das presentes, que pediu para ser identificada como "uma cidadã portuguesa revoltada com tudo isto".
A desilusão também passava pelo rosto de Ana Lourenço, que pensava estar mais perto para ver e ouvir, mas afinal ficou ali, num "autêntico funil".
"Estamos descontentes, parece que estamos numa prisão, porque não se vê nada. Isto, afinal, é a liberdade e não é liberdade", disse.
Outro cidadão que não quis ser identificado explicava que "esteve 10 anos a chefiar na Câmara" e nunca viu nada assim.
"Montavam aqui policiamento, estava tudo cheio de pessoal até aos candeeiros e no final as pessoas entravam lá dentro a visitar a Câmara", edifício de onde foi proclamada a República, contou.
Já o Batalhão da Guarda Nacional Republicana tinha formado, entre a Praça do Município e a Rua do Arsenal, fazendo adivinhar para breve o início das cerimónias, e havia quem sugerisse que o povo deveria ir todo embora, tal "a falta de respeito".
"Na democracia ganham-se umas coisas, mas perdem-se outras. É assim. Temos que habituar-nos aos novos tempos", disse Nuno.
Silvério Amador, com 82 anos, foi apanhado de surpresa com as baias tão longe do evento e com a pouca gente que se juntou às comemorações, às quais apenas faltou durante a pandemia.
"Infelizmente, estamos nesta situação. Por motivos de segurança ficamos à distância", considerou.
Para Silvério Amador, os políticos presentes no evento tentaram evitar os protestos que têm acontecido com os professores, "a nível da habitação, a nível das (alterações) climáticas" e "desses fala-barato que querem aproveitar as presenças de pessoas convidadas, pessoas de certo respeito, para lhes dizerem tudo".
Ouvia-se o Hino Nacional e os professores ainda não estavam. Só se fizeram notar ruidosamente em cima dos discursos, primeiro do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e depois do Presidente da República, a mesma que hoje comemora 113 anos.
Enquanto Moedas dizia, no seu discurso, que "hoje cabe aos políticos não se fecharem no mundo irreal, mas abrirem-se à realidade", evitando "o atual divórcio" entre a política e as pessoas, entre os populares descontentes, dois professores tornaram o seu protesto audível, enquanto empunhavam cartazes com caricaturas de António Costa e do ministro da Educação.
Foram gritadas palavras de ordem como "É uma vergonha", "Eu quero ensinar a República na escola" e "A República não é uma festa privada".
O dia da Implantação da República coincide com o Dia do Professor.
Além de Marcelo Rebelo de Sousa e de Carlos Moedas, estiveram na cerimónia oficial o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e o primeiro-ministro, António Costa.
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