"Mal vai um país quando é assim governado por emoções, e por decisões [tomadas] porque tem de se dizer qualquer coisa ao país", afirmou Jaime Marta Soares, em declarações à Lusa, após o Conselho de Ministros extraordinário de sábado ter aprovado várias medidas contra incêndios florestais, nomeadamente a profissionalização do modelo de combate aos fogos.
"A emoção não deve deixar de dar lugar primeiro à razão", afirmou, defendendo que não deve haver precipitação nesta tomada de decisões, que entidades como os bombeiros, a Marinha, o Exército, a Força Aérea, a PSP, ou a GNR devem ser ouvidas antes da tomada de decisões, por se tratar de um problema do país, e de todos os portugueses.
Jaime Marta salientou que a resposta à tragédia dos incêndios, que desdejunhovitimaram mais de 100 pessoas, tem de ser consistente: "Têm de ser reformas que, daqui a meia dúzia de anos, não nos estejamos a arrepender, como estamos a arrepender destas, que têm dez anos e que poderiam ter sido melhor se os bombeiros tivessem sido ouvidos".
O presidente da Liga criticou o Governo por não parar "uns dias" para reflectir e por anunciar que os bombeiros "vão fazer isto ou aquilo" sem antes falar estes operacionais que, lembrou, "não são propriedade do Estado".
A Liga apoia a profissionalização dos bombeiros, uma medida anunciada sábado, mas alerta para a necessidade de antes ser necessário explicar ao país que essa é uma consequência do "mau tratamento" e da situação "dramática" em que sucessivos governos deixaram a floresta.
"Dou só exemplo do Pinhal de Leiria, que é estatal, uma vergonha nacional", afirmou, explicando que a partir do momento em que o Governo anuncia a necessidade de profissionalização "de um momento para o outro, aparenta que os bombeiros não foram capazes".
O presidente da Liga disse ainda que, se há contas a pedir, sobre os incêndios dos últimos meses, que as peçam às estruturas do Estado e não aos bombeiros, que "fizeram bem aquilo que tinham que fazer" e com o seu "sentido de missão".
Jaime Marta considera também positiva o novo papel das Forças armadas na prevenção de incêndios, mas disse esperar que essaactuaçãoseja também no rescaldo dos incêndios, um função que considera dever ser das forças armadas. "Pena é que com tanto'knowhow'que têm, com tantosefectivos, já não estivessem no terreno como sempre pedimos", afirmou.
Também está de acordo com a Força Aérea a gerir os meios aéreos, mas alertou que é necessário saber que quantidade de aparelhos o Estado vai adquirir e como vai ser feita a sua gestão ao longo do ano: "Não pode ser só por um calendário de épocas, temos de estar preparados para qualquer momento", frisou.
As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram 44 mortos e cerca de 70 feridos, mais de uma dezena dos quais graves.
Os fogos obrigaram a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas, sobretudo nas regiões Norte e Centro.
Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos em Portugal, depois dePedrógãoGrande, emjunhodeste ano, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou, segundo a contabilização oficial, 64 vítimas mortais e mais de 250 feridos. Registou-se ainda a morte de uma mulher que foi atropelada quando fugia deste fogo.c