Sábado – Pense por si

João Miguel Tavares está em isolamento, mas "a pensar" ir votar

Comentador político está em isolamento após um jantar com um "grande amigo de família". Testou negativo à covid-19, mas pondera furar a quarentena profilática e ir votar "super armadilhado" porque "o Governo não lhe deixa outra opção".

O cronista e comentador político João Miguel Tavares está em isolamento profilático devido à covid-19, após um jantar em sua casa com um "grande amigo de família", mas ainda assim diz estar "a pensar" votar este domingo nas eleições presidenciais, que não incluem qualquer exceção no isolamento de casos suspeitos da covid-19.

LUSA / NUNO VEIGA

O também escritor surgiu esta sexta-feira em videoconferência no programa "Governo Sombra", da SIC, explicando que está confinado "por precaução" após contacto com infetado e que o isolamento termina na quarta-feira, a tempo de estar em estúdio no próximo espaço de comentário.

No entanto, João Miguel Tavares disse também "estar a pensar" ir à mesa de voto este domingo. O comentador referiu que fez um teste à covid-19, que teve resultado negativo, e que por isso "não deve infetar ninguém".

"[O isolamento] termina na quarta-feira. Portanto, em princípio e se tudo correr bem, na sexta-feira já estarei aí ao pé de vocês, se as medidas não forem novamente apertadas. Mas estou a pensar ir votar, mas não contem a ninguém. Mas se for vou ‘super armadilhado’ e também porque o Governo português não me deixa outra opção de, neste estado, eu e centenas de milhares de portugueses não temos grande alternativa. Ou ficamos em casa ou não cumprimos o nosso dever cívico", disse.

O isolamento acontece, explica, após um "jantar", dando a entender que esteve em contacto com uma pessoa infetada pela covid-19 durante a refeição.

Este sábado, e após a polémica ter chegado às redes sociais, João Miguel Tavares fez um esclarecimento na sua página pessoal de Facebook.

"Um grande amigo da família (foi só um, não se assustem) jantou em nossa casa no dia 13, e avisou-nos, no final da tarde do dia 15, que tinha contraído covid. Quando eu soube, já não podia pedir que me trouxessem uma urna a casa, nem podia votar a 17, até porque não tinha feito o teste, que fiz exactamente no passado domingo (deu negativo)", explica.

Os meus amigos que frequentam o Twitter disseram-me que vai por lá um grande entusiasmo acerca das minhas declarações no...

Publicado por João Miguel Tavares em Sábado, 23 de janeiro de 2021

Assim, refere na publicação, João Miguel Tavares é um de muitos portugueses que está em isolamento profiláctico e impedido de votar. O comentador refere que existem então dois cenários em causa: "a minusculíssima probabilidade de infectar um terceiro inocente" e "o meu direito constitucional ao voto", diz criticando a "forma como o Estado acha que a saúde pública é o bem supremo".

"Portanto, há um dever de resistência diante daquilo que considero ser um abuso por parte do Estado, que se coloca muito claramente nesta situação. A minha reflexão continua, de forma ponderada, até porque há pessoas à minha volta cujas opiniões levo em conta", termina, sem confirmar se vai ou não furar a sua quarentena e votar mesmo em isolamento.

Em artigo de opinião no jornal Público, esta terça-feira, João Miguel Tavares já tinha criticado o formato em que decorreu no passado domingo o voto antecipado para as mesmas eleições presidenciais, descrevendo alegadas aglomerações para votar como um "espetáculo indigno" que apenas teve como consequência "aumentar o número dos que querem acabar com a democracia".

Isolamento de 14 dias é "limitação para a proteção de todos". Não há exceções, nem para votar

Por não ter testado positivo à covid-19, o isolamento profilático de João Miguel Tavares seria de 14 dias. Ao furar este confinamento, mesmo que para cumprir o seu dever cívico, o comentador estaria a ter um comportamento de risco, colocando a saúde de outros em risco.

As eleições presidenciais do próximo dia 24 de janeiro não incluem qualquer exceção no isolamento de casos suspeitos da covid-19, que devem assim permanecer confinados e sem votar. À SÁBADO presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, aponta que esta é uma "limitação para a proteção de todos" que está em vigor desde o início da pandemia em Portugal.

"As pessoas são colocadas em isolamento precisamente por uma razão, que é porque têm potencialmente o risco de transmitir a doença. As pessoas ficam em isolamento profilático durante 14 dias desde o último contacto ou 10 dias se forem casos positivos desde o início de sintomas ou desde o diagnóstico laboratorial em assintomáticos", explica à SÁBADO presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia.

Em Portugal, as eleições presidenciais deste domingo ofereceram quatro modalidades diferentes de voto antecipado. Além do voto de doentes internados e de presos, as inscrições para o requerimento do voto em mobilidade aconteceu entre os dias 10 e 14 de janeiro e o de pessoas em confinamento obrigatório devido à covid-19 aconteceu entre os dias 14 e 17 de janeiro.

Se, tal como diz João Miguel Tavares, o seu isolamento profilático termina a 27 de janeiro e soube que o amigo com quem esteve a jantar estava infetado dia 15 de janeiro, o mesmo significa que o confinamento começou quando as inscrições para pessoas em confinamento obrigatório devido à covid-19 já não estavam abertas, uma vez que o mesmo se aplicava apenas a pessoas com decretado por autoridades de saúde precisamente até ao dia anterior, 14 de janeiro.

O jantar que obrigou ao confinamento aconteceu a 13 de janeiro - nessa mesma tarde foi anunciado o dever de recolher domiciliário obrigatório, que entrou em vigor a 15 de janeiro.

(artigo atualizado às 14h14 de 24 de janeiro devido a informações sobre o voto antecipado em confinamento)

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