"Ainda não sabemos em concreto como estaremos organizados [para a época de combate a incêndios de 2018]", declarou Carlos Cunha, formador do curso com que a GNR está a preparar mais de 400 militares para actuação no GIPS. "Vou apresentar a organização actual porque não sabemos até ao momento se este modelo de intervenção se vai manter ou vai ser alterado", acrescentou perante a plateia, a poucos dias de os referidos militares concluírem a sua formação, que deverá terminar na próxima terça-feira.
Questionado depois pela Lusa sobre a falta de meios materiais a que o comandante do GIPS fez alusão num ofício interno tornado público esta semana, no que se referia a luvas, telemóveis, computadores e outros bens essenciais à actuação no terreno, Carlos Cunha disse não poder prestar declarações sobre o assunto. Mas Luís Almeida Lopes, vice-presidente da LBP, não hesitou: "Só não temos preocupação com o equipamento porque ele não existe. Não vamos ter equipamento nenhum".
"Protecções individuais, telemóveis, veículos, equipamento de segurança e de combate a incêndios – falta-nos praticamente tudo, tal é o desinvestimento a que se tem assistido nos corpos de bombeiros. Falou-se muito em prevenção e investiu-se nisso – e bem! -, mas o reforço está a ser no GIPS e não nas pessoas que realmente vão combater o fogo no terreno, que são os bombeiros", afirmou. Para Luís Almeida Lopes, "a instabilidade" no comando da Autoridade Nacional da Protecção Civil (ANPC) também não ajuda.
"O combate é responsabilidade da ANPC, mas assim ninguém consegue implementar uma estratégia. Em pouco mais de um ano já vamos no 4.º comandante operacional e esta instabilidade vai-nos custar muito caro", alertou. Uma das questões que o vice-presidente da LBP defende que teria a beneficiar com uma liderança mais estável é a actuação do GIPS, em cujo desempenho Luís Almeida Lopes considera estarem a ser depositadas expectativas exageradas.
"Como é que em três meses se consegue formar militares para combater incêndios em ataque ampliado quando há bombeiros com 15 ou 20 anos de experiência continuada no terreno que continuam a não se sentir com à-vontade suficiente para exercer funções dessas no teatro de operações?", questionou Luís Almeida Lopes. "Os gestores de emergências têm que pensar sempre na Lei de Murphy – ‘tudo o que pode correr mal vai correr mal’ – e estas escolhas vão acabar por ter as suas consequências", concluiu.