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Fraca adesão desmobiliza trabalhadores da PT/MEO em protesto

Um acidente rodoviário com a carrinha do equipamento de som e a escassa adesão levaram as poucas dezenas de trabalhadores e sindicalistas a desmobilizarem do protesto

Um acidente rodoviário com a carrinha do equipamento de som e a escassa adesão levaram as poucas dezenas de trabalhadores e sindicalistas a desmobilizarem do protesto à porta da sede da PT/MEO, em Picoas, Lisboa.

Duas horas depois (14:30) do início previsto para a manifestação, restavam só alguns dirigentes sindicais em debandada, lamentando o sucedido, mas prometendo continuar as acções de mobilização para a greve marcada para sexta-feira.

"Tivemos aqui mais um azar. O carro de som foi abalroado e agora estão a tratar da papelada com a polícia, porque o outro condutor não se dá como culpado. Sem a animação, as pessoas não percebem, passam e não ficam", disse à Lusa o responsável do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e das Telecomunicações (SNTCT) Paulo Gonçalves, enquanto decorria o movimento pendular de funcionários, na sua maioria indiferentes, para almoço, junto ao Fórum Picoas.

O também dirigente da CGTP e do Bloco de Esquerda/Odivelas garantiu que "as acções de luta contra o despedimento encapotado por parte da PT", com a transferência de trabalhadores para empresas parceiras e outras empresas do grupo, a multinacional francesa Altice, "vão prosseguir", estando agendados diversos protestos e uma reunião com um membro do Governo.

"Utilizam a figura da transmissão de estabelecimento, subvertendo-a, para pôr e dispor dos trabalhadores, que vão perdendo direitos como o plano de saúde ou o contrato colectivo da empresa ao serem transferidos. Um abraço também aos trabalhadores da Media Capital, agora também debaixo do tecto da Altice e onde eles querem continuar o estrago que já fizeram aqui [PT]", continuou, referindo-se ao recente acordo da Altice com a espanhola Prisa para adquirir a Media Capital, dona da TVI, entre outros meios, numa operação que a empresa ibérica avalia em 440 milhões de euros.

A PT Portugal anunciou internamente em 30 de Junho que iria transferir 118 trabalhadores para empresas do grupo Altice e Visabeira, esta última parceira histórica da operadora de telecomunicações, depois de já um mês antes se decidir pela transferência de 37 trabalhadores da área informática da PT Portugal para a Winprovit. Os diversos sindicatos envolvidos convocaram uma greve para sexta-feira.

Segundo Paulo Gonçalves, cerca de mil trabalhadores já mudaram de funções e outros 400 não têm funções atribuídas desde a compra da PT, há dois anos, por perto de sete mil milhões de euros, congratulando-se com o facto de a situação ter o lado positivo de ter juntado os trabalhadores para uma greve que "não acontecia há 10 anos".

O primeiro-ministro, o socialista António Costa, já fez declarações de apreensão para com o futuro da PT e a qualidade dos seus serviços, incluindo no debate parlamentar sobre o estado da nação. As palavras do chefe do executivo mereceram críticas por parte da oposição (PSD/CDS-PP) por intromissão em negócios privados e BE e PCP exigiram a defesa dos direitos dos trabalhadores.

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A lagartixa e o jacaré

Dez observações sobre a greve geral

Fazer uma greve geral tem no sector privado uma grande dificuldade, o medo. Medo de passar a ser olhado como “comunista”, o medo de retaliações, o medo de perder o emprego à primeira oportunidade. Quem disser que este não é o factor principal contra o alargamento da greve ao sector privado, não conhece o sector privado.

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