No final, uma enfermeira precisou de abrir por segundos uma janela para respirar o ar vindo da rua e quebrar a pressão que às vezes se sente naquele espaço, onde se luta pela vida, mas onde também impera a serenidade e a camaradagem entre a equipa.
À saída do turno, o ritual de retirar o equipamento ainda é mais exigente, porque por cada peça retirada é preciso desinfetar as mãos.
No dia da reportagem da Lusa, segunda-feira, estavam internados 20 doentes com necessidade de cuidados intensivos.
"Este número tem sido constante nos últimos dias, embora em absoluto não reflita a dinâmica dos internamentos", disse João Miguel Ribeiro, acrescentando: "Temos tido oportunidade e a felicidade de poder transferir os doentes, porque melhoraram, para a enfermaria".
Em média, são admitidos um ou dois doentes por dia no serviço, que continua a ter doentes sem covid-19, com doenças de diversos foros que também dependem destes cuidados.
Segundo João Miguel Ribeiro, o serviço ainda tem capacidade de resposta e o CHULN está a trabalhar "ativamente para crescer essa reserva", contando ter esta semana mais dez camas, totalizando 56.
Ainda não há profissionais em sobrecarga porque o serviço antecipou essa realidade: fez "um trabalho de preparação e de formação" e neste momento "não há nenhuma evidência de saturação ou de sobrecarga física ou psicológica".
"Agora sei que essa realidade, com a manutenção e até com a intensificação da expressão deste surto pandémico, vai ser inevitável e, portanto, em certa medida isso é uma realidade que também não vamos conseguir escapar", concluiu o médico.
O país, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.