Em entrevista à Lusa, Pedro Veiga não dá pormenores sobre números, mas explica o que fazem os hackivistas, um neologismo que mistura hacker com activista neste período de activismo político antes das eleições.
"Os ataques nos períodos eleitorais são a adulteração do aspecto dos sites, defacing em inglês, que é tentar ir a um site e alterar o seu aspecto gráfico, os ataques de indisponibilidade, que consistem em inundar, com volumes de tráfegos muito elevados, o site de um organismo ou candidato para que deixe de estar acessível", descreve.
O centro cria, nessa fase, uma "sala de situação", adaptação do inglês situation room, em que colaboram técnicos de vários organismos, incluindo a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e o Ministério da Justiça.
O Departamento de Operações do CNCS "tem a responsabilidade de fazer o tratamento e resposta a incidentes de cibersegurança", explicou. "E é conhecido que há certos eventos, como eleições, onde há uma maior actividade no ciberespaço. Para minimizar o tempo de resposta a eventuais incidentes activamos a 'sala de situação', em que temos pessoal em permanência para poder reagir com maior rapidez se houver um incidente", disse.
O objectivo é "reagir com maior rapidez se houver um incidente" por parte do CNCS, enquanto centro nacional de resposta a incidentes de cibersegurança.
A resposta a dar está tipificada e é explicada por Pedro Veiga. "Se identificamos que há um grande fluxo de tráfego que vem a partir de uma rede de um operador ou de um conjunto de endereços, imediatamente o técnico que gere o acesso da organização pode programar o 'firewall' ('software' de protecção) para que esse tráfego seja imediatamente eliminado e assim a disponibilidade do servidor ser garantida", explicou.
Eleições de 2019 exigem especial atenção
À Lusa, Pedro Veiga anunciou ainda que o CNCS vai colaborar, em 2019, numa iniciativa europeia para "mitigar os problemas" com eventuais perturbações nas eleições ao Parlamento Europeu. O coordenador admitiu que Portugal "não está imune" a este tipo de problemas de contra-informação nas redes sociais, como as que podem ter afectado as eleições presidenciais que deram a vitória de Donald Trump, em 2016, ou o referendo da saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit.
Pedro Veiga explicou que, "por causa do histórico de perturbação de actos eleitorais a nível mundial, pretende-se que isso não aconteça na Europa", estando a Comissão Europeia "a dinamizar um conjunto de actividades" para "mitigar os problemas que possam existir".
"É uma nova dimensão de preocupação", assume o responsável português, embora distinguindo os casos de contra-informação dos problemas que, normalmente, são tratados no CNCS.
Em 2019, como em outras campanhas, o objectivo central dos técnicos da "sala de situação" é proteger as infra-estruturas de apoio ao processo eleitoral, que serão dois, em maio as europeias e as legislativas, ainda sem data marcada.
O Facebook tem estado no centro de uma polémica internacional associada com a empresa Cambridge Analytica, acusada de ter recuperado dados de milhões de utilizadores daquela rede social, sem o seu consentimento, para elaborar um programa informático destinado a influenciar o voto dos eleitores. Em Portugal, o número de utilizadores afectados poderá rondar os 63.080.
Na entrevista à Lusa, o coordenador do CNCS, professor universitário e um dos pioneiros da Internet em Portugal, afirmou que a resposta para evitar os efeitos deste tipo de casos é a informação e a capacitação dos cidadãos, porque "muitos problemas resultam da ingenuidade das pessoas".
Pedro Veiga aconselhou as pessoas a estarem "mais atentas" sobre o que partilham nas redes sociais que pode pôr em causa a sua privacidade.
E deixou ainda o alerta de que, nas redes sociais, "muita informação é falsa e visa actividade criminosas, quer de desinformação quer para aliciar jovens para aliciar jovens com mentira e fotografias falsas".
É preciso os cidadãos "não fazerem erros básicos, de divulgar tudo nas redes sociais, e não acreditarem em tudo" o que lêem, insistiu.