Autarca esteve uma semana nos EUA, mas recusa divulgar toda a agenda e quem pagou as despesas. A mulher também foi, beneficiou do alojamento pago pela câmara e acrescentou apenas €245.
O assunto arrasta-se há vários meses, desde 5 de dezembro de 2024, quando aSÁBADOquestionou pela primeira vez Carlos Moedas sobre a viagem que fizera a Nova Iorque entre 5 de 11 de setembro de 2024. Depois de dezenas deemailstrocados, o autarca deixou de responder.
Carlos Moedas esteve em Nova Iorque entre 5 e 11 de setembro de 2024 com João Aguiar (assessor de comunicação) e Amish Laxmidas (assessor de relações internacionais), além da sua mulher, Céline Abecassis, que apareceu ao lado do marido nos eventos. Ficaram todos alojados no hotel Romer Hell's Kitchen, junto ao Central Park.
Do que se sabe, Moedas foi apenas a quatro eventos nessa semana: no dia 6 visitou uma associação social (aqui, reportagem da RTP) e reuniu com o mayor de Nova Iorque); no dia 10 foi a um evento do Festival Tribeca (a edição portuguesa iria realizar-se no final de outubro, numa parceria com o grupo Impresa, cujo CEO, Francisco Pedro Balsemão, estava também em Nova Iorque); no dia 11 foi ao memorial das vítimas do 11 de setembro. Apareceu casualmente numa reportagem do Luso Americano.
Apesar de várias insistências, Carlos Moedas não nos divulgou a sua agenda nos sete dias que esteve em Nova Iorque. Ou seja, e por exemplo, o que fez na cidade nos dias 7, 8 e 9. E o que fizeram os assessores. Com quem reuniram, que despesas tiveram, quem as pagou. Ou se nesses três dias estiveram sem fazer nada em Nova Iorque. "Não temos mais a acrescentar", passou a responder o gabinete.
Pedimos ao autarca para nos enviar todas as despesas tidas por si e pelos assessores durante os sete dias em Nova Iorque. Enviou-nos cinco faturas de táxi (entre os dias 6 e 9, com valores entre 15,96 e 46,20 dólares) e quatro despesas de alimentação. No dia 7, houve um almoço no Soho de 44,41 dólares. No dia 8, outro almoço no Soho, de 160 dólares. No dia 9, um almoço nos armazéns de roupa Nordstrom, por 52 dólares. Finalmente, no dia 10, um pequeno-almoço de 60,65 dólares para duas pessoas num café mesmo ao lado do hotel onde a comitiva tinha pequeno-almoço incluído pago.
Ou seja, quase todas estas despesas reportam aos dias em que a comitiva não teve agenda. Após meses de insistência, Carlos Moedas nunca nos enviou cópia dos versos destas faturas (onde deve estar escrito quem efetuou a despesa qual a sua justificação para ser paga pela câmara). Também nunca respondeu porque é que durante uma semana de viagem oficial de três pessoas apenas havia nove despesas. "Não temos mais a acrescentar sobre as informações anteriormente enviadas", respondeu novamente o gabinete.
A CML pagou €3.182 pela viagem de Carlos Moedas até Nova Iorque (€2.363 do bilhete mais €819 de taxas aeroportuárias). Pelos assessores, foram €1.220 cada (€975 do bilhete mais €245 de taxas). Pelo hotel, de 5 a 11 de setembro, cada quarto custou €2.930, sendo que o de Carlos Moedas era duplo para comportar a mulher. Incluindo as taxas municipais, vistos, seguros e transfers, a fatura da agência Cosmos chegou aos €15.868.
Carlos Moedas pagou depois à agência o valor de €245. O descritivo refere "Presidente Carlos Moedas – pagamento de quarto duplo extra em regime privado". Dito de outro modo, a mulher de Carlos Moedas pagou €245 pela estadia de uma semana em Nova Iorque, aproveitando a boleia da viagem oficial do marido à cidade. Segundo respondeu o gabinete do autarca à SÁBADO, "foi pedida uma alteração na tipologia do quarto em concreto, sendo essa alteração da despesa suportada a título pessoal". O quarto, que era single, passou a duplo.
Com exceção da presidência da República, onde a primeira dama pode ter atividade oficial com despesas pagas, não há nada semelhante nas autarquias (nem no Governo). Como tal, na prática Céline Abecassis pagou €245 pela estadia de uma semana em Nova Iorque.
O gabinete de Carlos Moedas recusa que tal configure uma vantagem, ou um privilégio indevido, dizendo que relativamente a deslocações ao estrangeiro (ou em território nacional) de titulares de cargos políticos, as eventuais despesas com acompanhantes são da inteira responsabilidade do acompanhante, não podendo tal constituir qualquer encargo para o município". Acrescenta que "no caso de familiares que, por razões óbvias (por exemplo, cônjuges), não ficam em alojamentos separados, o remanescente relativo à utilização de um quarto duplo em vez de um quarto single é suportado pelo acompanhante".
O gabinete refere que "esta regra, tanto quanto é do conhecimento da Secretaria-Geral da Câmara Municipal de Lisboa, é a que vigora em toda a Administração Pública, uma vez que o princípio que importa salvaguardar é o de que não pode haver nenhum tipo de despesa ou prejuízo para a instituição, por eventual viagem conjunta de um titular/funcionário e de um acompanhante".
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