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Bolsas baixas e habitação cara afastam alunos mais carenciados do ensino superior

Diogo Barreto
Diogo Barreto 23 de janeiro de 2025 às 07:00
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Os programas de acesso a ensino superior para os alunos mais carenciados continuam a ser insuficientes, conclui novo estudo que defende aumento do valor das bolsas.

Apesar dos apoios públicos que existem para ajudar os alunos mais carenciados a entrar na universidade, um novo estudo conclui que muitos jovens que podiam beneficiar deles não sabem da sua existência e, outras vezes, não têm acesso por causa dos custos associados com a frequência do ensino superior, principalmente no que diz respeito à habitação. Os autores desta análise apresentada esta quinta-feira recomendam assim ao Estado que invista em residências e proteja os estudantes mais carenciados, aumentando o valor das bolsas.

Mariline Alves

O relatório "Avaliação de Impacto do Contingente Prioritário Para Beneficiários de Ação Social Escolar", foi elaborado pela EDULOG, o think tank da Fundação Belmiro de Azevedo para a educação. Nele, os autores avaliam o impacto da medida implementada pelo anterior Governo que impunha que as instituições de ensino superior (que se voluntariassem para aderir) deixassem 2% das vagas abertas para alunos vindos de contextos socioeconómicos mais carenciados (ou seja, beneficiários do escalão A de ação social escolar, ou ASE-A). 

Alberto Amaral, membro do Conselho Consultivo do EDULOG, diz à SÁBADO que o estudo mostra que esta iniciativa é "claramente positiva e deve ser mantida" já que permitiu a "alunos do escalão A" entrarem no ensino superior, "o que lhes abre novos horizontes para o futuro". De acordo com as conclusões do estudo, esta nova política "aumentou em cerca de 10 pontos percentuais a probabilidade de um estudante ASE-A ser admitido no ensino superior público", em comparação a estudantes que não se candidataram ao abrigo deste programa.

Mas apesar de ser um instrumento que contribui para o acesso a este nível de ensino, o EDULOG conclui que apenas 43% dos candidatos elegíveis acabaram por aderir, sublinhando que a falta de informação pode criar barreiras ao acesso de milhares de jovens. São ainda referidos como potenciais motivos de afastamento as restrições financeiras e o desajustamento entre a oferta destes programas e os interesses dos estudantes.

Entre as restrições financeiras, Alberto Amaral destaca o custo de sair da casa dos pais. "Um aluno de Braga que venha para Lisboa tem os custos de deslocação, de pagar renda e, muitas vezes, nas casas mais baratas que encontra o senhorio não passa recibo e por isso o aluno não pode submeter essas despesas. Isso cria dificuldades acrescidas a que ingresse no ensino superior e demove os alunos mais carenciados."

Já relativamente à oferta de cursos, Alberto Amaral refere que como os alunos do escalão ASE-A são bolseiros e as bolsas dependem de se manter uma determinada média nas notas, muitas vezes optam por não escolher os cursos "mais difíceis", por medo de falharem. "Então não vão para os cursos que querem ou que lhes garantirá um melhor futuro porque têm medo de chumbar a uma cadeira ou de ter uma média mais baixa", lamenta, lembrando que "alunos de escalão A só conseguem acabar o curso quando têm bolsa".

A EDULOG ressalva ainda que 41% dos alunos do escalão ASE-A que recorreram a este contigente prioritário não teriam entrado no ensino superior de outra maneira porque não teriam atingido os "limiares de admissão competitivos".

O relatório defende que muitos estudantes e famílias desconhecem a existência desta nova política, o seu processo de candidatura e potenciais benefícios, o que sugere falhas na informação. Por isso, os autores recomendam uma maior aposta na divulgação do programa. 

A análise nota ainda discrepâncias de acesso a nível regional. Houve mais alunos a recorrer ao contigente prioritário para alunos carenciados nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira do que no resto do País."Outras regiões, incluindo Lisboa, revelaram menor sensibilização para o programa", sublinham os autores, acreditando que tal se deve à "maior familiaridade com a utilização de contingentes prioritários" por parte dos alunos vindos das ilhas. A percentagem de estudantes que permanece no mesmo distrito quando transita do ensino secundário para o superior é maior no grupo ASE-A do que nos restantes grupo de estudantes, o que reforça o ponto dos custos associados à habitação ser um fator dissuasor de frequentar o ensino superior.

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