Houve quem cancelasse a sessão de hemodiálise, mas outras pessoas foram atendidas: “O meu médico é um espetáculo”.
Cirurgias e consultas adiadas marcaram hoje a primeira manhã degreve dos médicos, que registou uma adesão a rondar os 80%, segundo o sindicato, que acusa aministra da Saúdede já ter "atirado a toalha ao chão".
O balanço feito pelo secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) aponta para dados de adesão entre os 75% e os 85%, no primeiro de dois dias de paralisação, que coincide com o início de quatro dias de greve de enfermeiros.
Nohospital de S. João, no Porto, apenas três das 12 salas de cirurgia estão a funcionar e algumas consultas foram canceladas, levando doentes a fazer deslocações "ao engano" devido à greve nacional dos médicos.
Os números relativos aos espaços de cirurgias programadas hoje encerrados foram fornecidos à Lusa por Maria Antónia Costa, do Sindicato Independente dos Médicos, que fez um "balanço muito positivo" da adesão à greve naquela unidade de saúde, bem como dos números "preliminares a nível nacional, que apontam para 80 a 85%" de médicos em paralisação por melhores condições de trabalho.
Com 89 anos, Maria Amélia saiu esta manhã de Baião, a cerca de 70 quilómetros e 60 minutos do Porto, para uma consulta de dermatologia no 'São João', mas regressou a casa sem passar pelo médico, tendo sido informada que o mesmo tinha feito greve.
"Viemos para aqui enganadas. Não tive consulta. Disseram que não havia médico por causa da greve. Não gosto destes passeios, prefiro estar sossegada", disse a idosa em declarações à Lusa, enquanto aguardava pelo transporte da Misericórdia para a viagem até Baião, no interior do distrito.
Artur Faria, de 81 anos, também diz que veio "enganado". "Desta vez vim enganado. Sabia que havia greve, mas a gente é obrigado a vir. Agora, é esperar [por nova marcação]", acrescentou o idoso, que se deslocou de ambulância de Felgueiras, a cerca de "45 minutos do Porto, se for na autoestrada e se vier a andar bem".
"Tive de mudar a hemodiálise que tinha marcada para hoje, em Felgueiras, para vir à consulta de anestesia e nada feito", descreveu, destacando que já esteve no São João "noutras marés de greves" e foi "sempre atendido".
Já Florbela Fernandes, que se deslocou da Póvoa de Lanhoso para acompanhar um amigo numa consulta, elogiou o atendimento "na hora prevista", frisando que "nem deu para perceber que havia greve".
Maria Rosa, de 74 anos, teve sessão de fisioterapia e encontrou "tudo normal".
Conceição Moreira deslocou-se ao São João para "controlo de sangue" e registou "atrasos no início das inscrições".
"As inscrições costumam começar às 08:00 e hoje só começaram depois das 09:00, porque os funcionários não sabiam se ia haver médicos e só fazem as colheitas de sangue se tiverem a certeza de que eles vêm", descreveu.
Foi isso que acabou por acontecer com a mulher de 68 anos, que quando falou com a Lusa aguardava pelo atendimento médico, já com a certeza de que o clínico não tinha feito greve.
No Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE) a situação aparentava estar normal.
Alguns dos utentes contactados pela Lusa afirmaram ter conseguido ser consultados, mas outros não tiveram a mesma sorte, como uma utente de Aguiar, no concelho de Viana do Alentejo, que não teve consulta de anestesiologia: "O médico não veio porque está em greve. Vim gastar gasóleo para quê", questionou.
Já em Coimbra, Adelaide sabia da greve e deslocou-se à consulta de psiquiatria, agendada para hoje, "mais cedo" do que a hora marcada: "Se não tivesse consulta ia embora, mas o médico até estava antes da hora e correu tudo normalmente", sublinhou, enquanto, já atendida, esperava o autocarro para voltar para casa.
Sorte diferente teve Hélder, que se deslocou de Miranda do Corvo, a 25 quilómetros de Coimbra, onde reside, ao CHUC para uma consulta de alergologia, marcada há três meses.
"Recebi uma mensagem esta semana a confirmar a consulta, e quando cá cheguei a médica não estava, fez greve", revelou.
Agora, Helder terá de esperar que a consulta seja remarcada: "Espero que não demore mais três meses [a ter consulta] frisou o utente.
Já Filomena Simões admitiu que não sabia da paralisação de hoje, mas garante que o seu médico "nunca faz greve" e, se por acaso fizesse, a avisava.
"O meu médico é um espetáculo, chegou antes da hora marcada e se não viesse por qualquer razão, decerto que me diria alguma coisa", reafirmou Filomena.
As histórias dos utentes afetados pela greve dos médicos
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