A Quercus, como outras entidades espanholas e portuguesas, nomeadamente o Movimento Ibérico AntiNuclear (MIA), contesta a construção desta mina a céu aberto em Retortillo, e vai participar na manifestação, na qual são esperados dois a três mil participantes.
"É um projeto com impactos ambientais muito significativos e, no nosso entender, não é compreensível", disse hoje à agência Lusa o vice-presidente da associação de defesa do ambiente, Nuno Sequeira.
"Pretendemos que, uma vez que Portugal não foi ouvido, como a legislação comunitária exige, seja feita uma avaliação de impacto ambiental transfronteiriço com a suspensão do processo a decorrer neste momento" e que o Governo espanhol "não autorize o avanço deste projecto de exploração de urânio", avançou.
A instalação da mina de urânio pela Berkeley naquela região de Salamanca já deu origem a perguntas e protestos não só dos ambientalistas e autarcas, mas também dos partidos na Assembleia da República, com o Governo a garantir já ter questionado Espanha e pedido um encontro com a ministra do Ambiente espanhola.
Na segunda-feira, uma delegação da comissão parlamentar do Ambiente, com representantes de todos os partidos, visitou o local onde estará a ser preparada a instalação da mina, e na quarta-feira, este foi um dos temas que dominaram uma audição do ministro do Ambiente na Assembleia da República.
Entre as consequências nefastas do projecto, Nuno Sequeira começa por referir o abate de cerca de 30 mil azinheiras que "tornam aquele local um importante ecossistema a proteger".
Mas existe igualmente, segundo os ambientalistas, o risco de contaminação atmosférica por poeiras radioactivas que "atravessariam a fronteira com muita facilidade", de escorrências para os recursos hídricos superficiais e, como a zona está integrada na bacia do Douro, para o rio.
A contaminação dos solos com metais pesados usados para fazer a lavagem deste material é outra preocupação relacionada com o projecto apresentado como nefasto para o ambiente, para a saúde pública e para as economias locais.
Na visita de segunda-feira, em que os ambientalistas também participaram, constataram, "além dos impactos gravíssimos que o projecto traria, que as populações locais, empresários sobretudo da área agrícola e turística e o poder local estão muito contra" a mina, salientou Nuno Sequeira.
"Já houve o abate de algumas centenas de árvores, apesar de o processo estar suspenso, e o local está vedado e vigiado", relatou.
À semelhança do que aconteceu com a construção do armazém para apoio da central nuclear de Almaraz, não houve informação a Portugal, que "foi, mais uma vez, desrespeitado e os seus interesses não foram acautelados neste processo", recordou o vice-presidente da Quercus.
Além dos impactos do processo de produção, o urânio que sai da mina é usado nas centrais nucleares, que reúnem o desacordo dos ambientalistas, ou para armas nucleares, e a sua recuperação é um problema.
"Temos cerca de 40 minas para recuperar em Portugal, um passivo ambiental enorme. Em Espanha serão também algumas dezenas" e o processo exige investimentos elevados, disse ainda.
Na quinta-feira, as eurodeputadas Marisa Matias e Ana Gomes e um deputado espanhol do Podemos dirigiram uma pergunta escrita à Comissão Europeia sobre a mina de urânio de Retortillo, questionando Bruxelas sobre a realização de estudos de impacto ambiental.
A iniciativa de sábado, convocada pelo movimento "No a la Mina de Uranio", integra uma marcha de cerca de dois quilómetros e uma concentração no centro de Salamanca.