O diretor do Serviço de Urgência já se tinha demitido em 2022, mas foi convencido a voltar. "Como é que se dirige um serviço que não tem gente?", questiona FNAM. Administração acabou por também abandonar funções.
Foi uma semana atribulada no hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca, ou Amadora-Sintra: se na segunda-feira, 3 de fevereiro, foi confirmada a demissão do diretor do Serviço de Urgência, Hugo Martins, uma reunião a 5 de fevereiro entre a ministra da Saúde e a administração do hospital pareceu acabar em bons termos. Contudo, no dia seguinte, o conselho de administração acabou por apresentar a sua demissão por não querer ser "um obstáculo" às medidas que Ana Paula Martins quiser implementar. Pelo meio, ficaram os alertas dos internos - que também vão reunir com a tutela - numa carta em que denunciam o "clima de insegurança profissional" em que vivem. A Ordem dos Médicos também demonstrou preocupação e irá falar com o Ministério da Saúde.
Sérgio Lemos
Hugo Martins já tinha apresentado a sua demissão em dezembro de 2022, tendo ficado fora dos quadros do hospital durante aproximadamente um ano. Terá inclusivamente começado a trabalhar num outro hospital, segundo o ex-secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, mas acabou por regressar à direção do Amadora-Sintra.
Contactado pela SÁBADO, Hugo Martins explicou apenas que em ambos os casos "a saída foi inteiramente por motivos pessoais", não adiantando o que o fez regressar ao hospital Amadora-Sintra. Jorge Roque da Cunha aponta que o médico interino terá sido "convencido" a regressar a esta Unidade Local de Saúde (ULS).
"O colega sempre gostou do serviço de urgência e, portanto, quando foi para o outro hospital, creio que foi o de Santa Maria, convenceram-no a voltar para o Amadora-Sintra", explica ao destacar o profissionalismo de Hugo Martins. "É um homem muito resistente, profissional, muito competente e com vontade de ultrapassar problemas. Para ter chegado a este ponto, é sinal que a situação estava mesmo muito complicada", salienta.
Segundo o também médico de medicina geral e familiar, a agora demissão do diretor, acrescentada àquela que se verificou em 2022, só prova que "algo continua errado desde há mais de 10 anos".
"Hugo Martins pediu a demissão e saiu do hospital Amadora-Sintra, mas cerca de um ano depois voltou, e agora voltou a solicitar a demissão", conta Jorge Roque da Cunha. "O colega alegou razões pessoais como motivo da sua demissão, mas claramente que terá entendido que não estavam reunidas as condições para que continuasse a exercer este cargo. Portanto, isto é a consequência de mais de uma década sem soluções."
A mesma ideia é frisada à SÁBADO pela presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Joana Bordalo e Sá. "Hugo Martins voltou a este hospital para dar o seu melhor, mas o que acontece é que não foram garantidas as condições. Como é que se dirige um serviço que não tem gente?", questionou.
Segundo Joana Bordalo e Sá, o diretor "estava a ter dificuldades em gerir os serviços de urgência sem médicos" e, "não tendo meios", compreende "que se tenha demitido". A falta de profissionais tem sido, aliás, um dos problemas que tem vindo a ser levantado pelos vários sindicatos e especialistas da área da saúde, porém, defende que o Ministério da Saúde, de Ana Paula Martins, nada tem feito para os colmatar.
"O Amadora-Sintra é um hospital extremamente carente, mas nada tem sido feito. Andamos há mais de meio ano a manifestar-nos, mas a ministra da Saúde ainda não garantiu mais médicos e equipas reforçadas".
Joana Bordalo e Sá acrescenta, assim, que a demissão de Hugo Martins, que se junta a outras, só passa uma imagem de instabilidade no setor da saúde. Culpa, por isso, a gestão de Ana Paula Martins.
"A imagem [de instabilidade] está a ser passada pela senhora ministra desde que tomou posse. Esta é apenas mais uma situação. Se tivéssemos mais médicos no SNS claramente que não estaríamos assim, mas ao que parece isso não conta no plano desta ministra", lamenta.
Joana Bordalo e Sá sublinha que os despedimentos nas direções dos hospitais se têm acentuado desde que o Ministério de Ana Paula Martins começou a exercer funções. Desde 2 de abril de 2024, data em que o Governo de Luís Montenegro tomou posse, já se verificaram pelo menos 8 saídas da direção dos hospitais.
Em janeiro, foi a vez da diretora do serviço de Obstetrícia/Ginecologia do Hospital Garcia de Orta se demitir, sendo que em dezembro se verificou o mesmo com João Carlos Furtado, que apresentou a demissão do Hospital São Francisco de Xavier.
Ainda no final do ano de 2024, o Ministério da Saúde fez três demissões. O Conselho de Administração da ULS de Lezíria, presidido por Tatiana Silvestre, cessou funções e o mesmo aconteceu com o Conselho de Administração da ULS da Região de Leiria, presidido por Licínio de Carvalho, e com o Conselho de administração da ULS do Alto Alentejo.
Em setembro, o Ministério também já havia afastado o Conselho de administração da ULS de Almada-Seixal. Em junho, o conselho de administração da ULS de Viseu Dão-Lafões apresentou a sua demissão em bloco.
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