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Todos os pormenores da confusa história entre Gouveia e Melo e Marcelo Rebelo de Sousa

Luana Augusto
Luana Augusto 11 de novembro de 2025 às 21:48
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Gouveia e Melo nega que a sua candidatura à presidência tenha sido impulsionada pela alegada tentativa de Marcelo de o afastar da corrida à Belém. Autora do livro, a quem o candidato deu uma entrevista, já veio a esclarecer a polémica.

Tudo começou com um , datado de outubro de 2024, da autoria do jornalista Vitor Matos, que indicava que o Presidente da República pretendia reconduzir Gouveia e Melo como chefe do Estado-Maior da Armada para evitar a sua candidatura à Presidência de 2026, mas que este só aceitava se houvesse um investimento significativo na força naval, referindo-se com isto à compra de mais dois submarinos.

Gouveia e Melo critica Marcelo por alegada tentativa de travar candidatura à Presidência
Gouveia e Melo critica Marcelo por alegada tentativa de travar candidatura à Presidência TIAGO PETINA/LUSA_EPA

"Foi esse artigo que me fez definir o rumo. Porque quando o li, fiquei mesmo danado", afirmou o ex-chefe do Estado-Maior da Armada na página 204 do livro Gouveia e Melo - As Razões, que foi lançado esta terça-feira (11), e cuja entrevista foi conduzida pela jornalista e diretora-adjunta do Diário de Notícias, Valentina Marcelino.

"De facto o Governo - e também o senhor Presidente da República - não pareciam interessados em nada da Defesa, para além de fazerem umas correções nos ordenados dos militares. Assim, deduzi que o que pretendiam era que eu ficasse amarrado à Marinha com o eventual prémio de, no fim, poder ser CEMGFA e atingir o topo da carreira militar. Pensaram, especulo eu, que ficaria muito contente por me darem a oportunidade. Ora, queriam dar-me importância sem me darem poder para fazer nada. Muito obrigado. Foi aí que decidi: Vou entrar no campo das verdadeiras decisões, a política", lê-se.

A polémica só estalou a 9 de novembro, quando a agência de notícias Lusa publicou um artigo onde afirmava que a candidatura de Gouveia e Melo à Presidência da República foi motivada pela, através da sua recondução como chefe do Estado-Maior da Armada.

O artigo em questão obteve resposta imediata do candidato que, em comunicado, considerou que essa informação era "falsa e enferma de uma falta de rigor inaceitável", exigindo com isto a "reposição da verdade dos factos".

"O almirante Henrique Gouveia e Melo não se refere, em momento algum, durante a entrevista, concedida à jornalista Valentina Marcelino, realizada para o livro As Razões como tendo sido o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, ou qualquer declaração sua, a motivação para se candidatar à Presidência da República". 

Ao canal NOW, Gouveia e Melo considerou ainda esta terça-feira que a "interpretação da Lusa é abusiva" e explicou que ficou "danado com o título do artigo" do Expresso.

A Lusa repudiou, no entanto, as declarações de Gouveia e Melo e em questão. "A Lusa rejeita e repudia as acusações de que a notícia em causa seja falsa e, muito menos, que a agência contribua para a desinformação e tenha manipulado declarações de Henrique Gouveia e Melo, como refere a nota da candidatura. Como bem diz na sua nota a candidatura de Gouveia e Melo, 'na política não pode valer tudo'”, concluiu a Direção de Informação da Lusa, ao sublinhar que a agência cumpriu "todas as regras deontológicas (...) como determina o Código Deontológico do Jornalista".

Já Marcelo Rebelo de Sousa rejeitou inicialmente a acusação de que teria tentado evitar a candidatura de Gouveia e Melo. "Eu não dei essa entrevista. Eu não dei nenhuma entrevista em que tivesse dito aquilo que dizem que disse. Não existe", começou por afirmar citado pelo . "Não encontram nenhuma entrevista minha em que eu me pronunciasse sobre questões de chefia das Forças Armadas. Não há nenhuma entrevista com palavras minhas pronunciando-me sobre quem é chefe, quem não é chefe, quem deve ser, quem não deve ser chefe das Forças Armadas. E pronunciando-me sobre quem deve ser ou não candidato a presidente."

E depois, com Gouveia e Melo: "O Presidente não comenta candidatos à sucessão. Não deve comentar nem os presidentes anteriores nem os seguintes". E a partir de Luanda, afirmou que "nunca teve relações minadas com ninguém", assegurando que essa é "a sua maneira de ser".

"Já me perguntaram isso e já respondi uma vez. O Presidente, em funções, nunca lhe aconteceu ter relações minadas com ninguém. Não sei se é uma qualidade, se é um defeito, mas é assim", afirmou em declarações aos jornalistas. 

A autora do livro entretanto também já veio a esclarecer a polémica. Em entrevista ao canal NOW disse que de facto foi a notícia do Expresso que o levou a avançar com a candidatura, mas que "não fez nenhuma referência ao Presidente da República". "O motivo pelo qual ele ficou danado foi porque o governo em funções [estava] a negociar o reforço de meios - e falava-se de 12% para as forças armadas -, e quando ele vê uma noticia a insinuar que [Marcelo] estava a fazer chantagem ele ficou furioso com isso."

Ainda assim, a jornalista considerou que a notícia da Lusa é "uma interpretação [jornalística] legítima".

Os restantes candidatos à Presidência entretanto já criticaram a posição de Gouveia e Melo. António José Seguro, que conta com o apoio do PS, disse na segunda-feira que a polémica é reveladora de "uma grande imaturidade política dessa candidato". Enquanto isso, Luís Marques Mendes, apoiado pelo PSD, acusou o adversário . "O almirante Gouveia Melo, sempre que fala, tem uma certa tendência para três coisas: ou para dizer alguns disparates, ou para entrar em contradições, ou para gerar precipitações e polémicas", afirmou. "Um Presidente da República tem que ser menos precipitado e ter um bom senso bem mais elevado."

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