Gouveia e Melo nega que a sua candidatura à presidência tenha sido impulsionada pela alegada tentativa de Marcelo de o afastar da corrida à Belém. Autora do livro, a quem o candidato deu uma entrevista, já veio a esclarecer a polémica.
Tudo começou com um artigo do Expresso, datado de outubro de 2024, da autoria do jornalista Vitor Matos, que indicava que o Presidente da República pretendia reconduzir Gouveia e Melo como chefe do Estado-Maior da Armada para evitar a sua candidatura à Presidência de 2026, mas que este só aceitava se houvesse um investimento significativo na força naval, referindo-se com isto à compra de mais dois submarinos.
Gouveia e Melo critica Marcelo por alegada tentativa de travar candidatura à PresidênciaTIAGO PETINA/LUSA_EPA
"Foi esse artigo que me fez definir o rumo. Porque quando o li, fiquei mesmo danado", afirmou o ex-chefe do Estado-Maior da Armada na página 204 do livro Gouveia e Melo - As Razões, que foi lançado esta terça-feira (11), e cuja entrevista foi conduzida pela jornalista e diretora-adjunta do Diário de Notícias, Valentina Marcelino.
"De facto o Governo - e também o senhor Presidente da República - não pareciam interessados em nada da Defesa, para além de fazerem umas correções nos ordenados dos militares. Assim, deduzi que o que pretendiam era que eu ficasse amarrado à Marinha com o eventual prémio de, no fim, poder ser CEMGFA e atingir o topo da carreira militar. Pensaram, especulo eu, que ficaria muito contente por me darem a oportunidade. Ora, queriam dar-me importância sem me darem poder para fazer nada. Muito obrigado. Foi aí que decidi: Vou entrar no campo das verdadeiras decisões, a política", lê-se.
A polémica só estalou a 9 de novembro, quando a agência de notícias Lusa publicou um artigo onde afirmava que a candidatura de Gouveia e Melo à Presidência da República foi motivada pela tentativa de Marcelo Rebelo de Sousa de o travar, através da sua recondução como chefe do Estado-Maior da Armada.
O artigo em questão obteve resposta imediata do candidato que, em comunicado, considerou que essa informação era "falsa e enferma de uma falta de rigor inaceitável", exigindo com isto a "reposição da verdade dos factos".
"O almirante Henrique Gouveia e Melo não se refere, em momento algum, durante a entrevista, concedida à jornalista Valentina Marcelino, realizada para o livro As Razões como tendo sido o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, ou qualquer declaração sua, a motivação para se candidatar à Presidência da República".
Ao canal NOW, Gouveia e Melo considerou ainda esta terça-feira que a "interpretação da Lusa é abusiva" e explicou que ficou "danado com o título do artigo" do Expresso.
A Lusa repudiou, no entanto, as declarações de Gouveia e Melo e rejeitou retirar a notícia em questão. "A Lusa rejeita e repudia as acusações de que a notícia em causa seja falsa e, muito menos, que a agência contribua para a desinformação e tenha manipulado declarações de Henrique Gouveia e Melo, como refere a nota da candidatura. Como bem diz na sua nota a candidatura de Gouveia e Melo, 'na política não pode valer tudo'”, concluiu a Direção de Informação da Lusa, ao sublinhar que a agência cumpriu "todas as regras deontológicas (...) como determina o Código Deontológico do Jornalista".
Já Marcelo Rebelo de Sousa rejeitou inicialmente a acusação de que teria tentado evitar a candidatura de Gouveia e Melo. "Eu não dei essa entrevista. Eu não dei nenhuma entrevista em que tivesse dito aquilo que dizem que disse. Não existe", começou por afirmar citado pelo Diário de Notícias. "Não encontram nenhuma entrevista minha em que eu me pronunciasse sobre questões de chefia das Forças Armadas. Não há nenhuma entrevista com palavras minhas pronunciando-me sobre quem é chefe, quem não é chefe, quem deve ser, quem não deve ser chefe das Forças Armadas. E pronunciando-me sobre quem deve ser ou não candidato a presidente."
E depois, recusou-se a comentar a polémica com Gouveia e Melo: "O Presidente não comenta candidatos à sucessão. Não deve comentar nem os presidentes anteriores nem os seguintes". E a partir de Luanda, afirmou que "nunca teve relações minadas com ninguém", assegurando que essa é "a sua maneira de ser".
"Já me perguntaram isso e já respondi uma vez. O Presidente, em funções, nunca lhe aconteceu ter relações minadas com ninguém. Não sei se é uma qualidade, se é um defeito, mas é assim", afirmou em declarações aos jornalistas.
A autora do livro entretanto também já veio a esclarecer a polémica. Em entrevista ao canal NOW disse que de facto foi a notícia do Expresso que o levou a avançar com a candidatura, mas que "não fez nenhuma referência ao Presidente da República". "O motivo pelo qual ele ficou danado foi porque o governo em funções [estava] a negociar o reforço de meios - e falava-se de 12% para as forças armadas -, e quando ele vê uma noticia a insinuar que [Marcelo] estava a fazer chantagem ele ficou furioso com isso."
Ainda assim, a jornalista considerou que a notícia da Lusa é "uma interpretação [jornalística] legítima".
Os restantes candidatos à Presidência entretanto já criticaram a posição de Gouveia e Melo. António José Seguro, que conta com o apoio do PS, disse na segunda-feira que a polémica é reveladora de "uma grande imaturidade política dessa candidato". Enquanto isso, Luís Marques Mendes, apoiado pelo PSD, acusou o adversário de dizer disparates. "O almirante Gouveia Melo, sempre que fala, tem uma certa tendência para três coisas: ou para dizer alguns disparates, ou para entrar em contradições, ou para gerar precipitações e polémicas", afirmou. "Um Presidente da República tem que ser menos precipitado e ter um bom senso bem mais elevado."
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A propósito da notícia recente, terrível, assustadora: “Web Summit alerta para falta de 'slots' para jatos privados em Lisboa e desvia alguns aviões para Espanha.” Este alerta da web summit, (ligaram as sirenes?) no meio de tanta dificuldade económica de tanta gente, é assombroso.
Ainda acham que a receita com que deixaram dois partidos moribundos é que deve guiar quem venha apanhar os cacos. A humildade em política anda muito subvalorizada.
André Ventura, à nossa escala, é um sucesso de bilheteira – e as televisões sabem disso. Razão pela qual o abominam (em directo) e o adoram (em privado) porque the show must go on.