Um Congresso para forçar Rio a mudar? Há quem o esteja a preparar
Rodrigo Alexander Davidson de Sousa-Pinto é um desconhecido militante social-democrata apostado em levar o partido a discutir a estratégia da liderança ainda antes das autárquicas.
Não é um dos críticos habituais de Rui Rio nem está em qualquer lista de putativos candidatos a líder. Mas parece apostado em discutir a estratégia da liderança de Rio. Para o fazer, acaba de lançar um site de recolha de assinaturas. Se conseguir as 2.500 assinaturas de militantes ativos que os estatutos do PSD exigem, vai mesmo haver Congresso Extraordinário "ainda no primeiro semestre de 2021". Mas essa ainda parece uma possibilidade muito remota.
Para já, Rodrigo Davidson de Sousa-Pinto criou um site para explicar ao que vem e reunir apoios de militantes. Esta terça-feira, fez chegar aos deputados do partido um e-mail para dar conhecimento disso mesmo e deixou muitos sem saber o que pensar. "Ninguém sabe quem é. Deve querer notoriedade", comentava um parlamentar. De resto, nos vários contactos feitos pela SÁBADO nenhum elemento do partido soube dar mais elementos sobre Sousa-Pinto.
No site, Rodrigo Sousa-Pinto apresenta-se como militante do PSD desde 1987, com currículo partidário essencialmente na JSD. No Linkedin, aparece como "Jurista no Gabinete de Assessoria Técnica e Promoção do Investimento - Oeiras Valley - Município de Oeiras".
Sousa-Pinto explica no site de recolha de assinaturas que já enviou duas cartas abertas a Rui Rio em janeiro, pedindo um Congresso Extraordinário. Os motivos invocados não diferem muito dos apresentados por outros críticos mais mediáticos.
O fim dos debates quinzenais, a alegada falta de oposição ao Governo de António Costa, a falha na construção de uma alternativa e o abrir da porta ao Chega estão entre as razões para este militante de base querer convocar um Congresso.
"Porque a falta de uma postura clara e absolutamente inconformada com os populismos oportunistas e extremistas, deixou os eleitores e os militantes confusos quanto à defesa intransigente dos nossos princípios, e quem normalmente se abstém sem razão para voltar a acreditar em projectos social-democratas, assim colocando o partido numa posição de refém (de onde nunca se sai incólume) e sacrificando, por muitos anos, o futuro e a credibilidade do PSD", escreve sobre o discurso de Rio em relação a André Ventura, ao mesmo tempo que ataca "a inexistência prática de propostas alternativas".
"Não podemos adiar o momento de recolocar o PSD no caminho esperado pelos seus eleitores e pelos seus militantes… Não há razões de valor mais fortes que isto. Antes que seja tarde demais", defende, argumentando que nem a pandemia pode servir de justificação para não realizar o conclave. "As soluções técnicas existentes hoje permitem a realização do Congresso Extraordinário, pelo que não pode haver desculpas", argumenta, pondo em cima da mesa a possibilidade de um Congresso "realizado integralmente de forma digital ou de forma mista".
Obrigar Rio a mudar de vida
Desengane-se, contudo, quem pense que Rodrigo Sousa-Pinto tenciona chegar a líder do partido. Ele não é candidato.
"Embora nada o impeça, não se pretende discutir a liderança do PSD", garante Sousa-Pinto no site, onde explica ter como objetivos "forçar o Conselho Nacional e o presidente do partido a definir e propor ao Congresso que vote uma clara moção de estratégia vinculativa e de retorno ao papel do PSD como garante do cumprimento de um forte e efetivo papel enquanto partido de oposição e alternativa de governo, na dependência intransigente dos seus princípios" ou que "na falta da opção anterior, o Congresso aprove uma moção alternativa que vá naquele sentido, vinculando assim o Conselho Nacional e a Presidência do partido ao seu cumprimento".
Impor um calendário para a há muito prometida revisão dos estatutos do PSD e para a – também há muito anunciada por Rui Rio – proposta de revisão do sistema eleitoral português são "objetivos adicionais" deste Congresso.
Mas há mais: este militante quer obrigar Rio a apresentar as propostas em que o partido tem estado a trabalhar e "impor o próximo Congresso ordinário como data limite para apresentação das várias propostas sectoriais do CEN - Conselho Estratégico Nacional, assim dando conta ao órgão máximo do partido das suas atividades e propostas e, aos portugueses em geral, o conhecimento da visão do PSD para o futuro".
Edições do Dia
Boas leituras!