João R. em prisão preventiva. "O risco de imitação não é de excluir", avisa psicólogo
A PJ acredita que João iria ser o primeiro homicida em massa português, mas o ataque planeado para a sua universidade foi travado. Especialista alerta para a imitação deste comportamento e para os sinais de identificação deste tipo de perfil.
Numa ação inédita em Portugal, a PJ –através de um alerta do FBI– travou esta quinta-feira um ataque à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), com a detenção de um estudante do curso de engenharia informática. João, de 18 anos, – natural de uma aldeia na zona da Batalha e que vive num apartamento no bairro dos Olivais, em Lisboa – é descrito como discreto, introvertido, autoexcluído, viciado em videojogos e consumidor massivo de informação sobre massacres que têm ocorrido em escolas dos Estados Unidos.
O aluno pretendia perpetrar um massacre na universidade onde estuda e matar o máximo de pessoas possível, esta sexta-feira, dia de realização de vários exames. O alerta do FBI norte-americano sinalizou uma atividade suspeita do estudante nadark web, além de ele também ter recorrido a fóruns na internet a pedir conselhos. João já andava a ser vigiado pela Polícia Judiciária há vários dias e foi detido em casa, na manhã de quinta-feira, onde foram encontradas armas como uma besta (que dispara flechas ou dardos e que foi inventada na época medieval), facas, catanas e materiais inflamáveis, como gasolina e gás, e um plano escrito com os detalhes da ação que iria desencadear. Interrogado por um juiz, na manhã desta sexta-feira, o jovem ficará em prisão preventiva.
Pode servir de gatilho
Mauro Paulino, psicólogo clínico e forense, refere que este perfil de isolamento e de consulta dedark webexige planeamento e pesquisa possível de alimentar e realizar sozinho. "Não é por acaso que algumas investigações associadas a este registo de comportamento remetem para a ideia de "lobo solitário". São indivíduos com limitações ao nível da socialização, da esfera interpessoal, que, fruto dessa ostracização social, podem procurar estratégias de afirmação através de comportamentos violentos", explica.
Quem é João, o jovem indiciado por terrorismo?
A mediatização do caso deste jovem que pretendia ser o primeiro homicida em massa português pode levar a riscos de imitação por parte de outros perfis semelhantes? Mauro Paulino afirma que essa ideia "não é de excluir": "Se por um lado esta rápida e eficaz atuação da Polícia Judiciária pode levar a conter esse comportamento – porque percebem que as autoridades são capazes de atuar preventivamente – para outros poderá servir de gatilho na tentativa de conseguirem ser os primeiros".
Crueldade com animais é um sinal
Para o psicólogo é importante apostar-se na prevenção e na identificação de determinados sinais. E que sinais são esses? "Por exemplo, aqueles jovens, que atiraram a matar numa escola na Alemanha, tempos antes, surgiram numa foto nesse colégio, com uma postura hostil, como se estivessem a empunhar uma arma. Ou seja, há determinados indicadores que podem motivar uma atuação. Não quer dizer que terminem em ataques desta natureza, mas há situações que envolvem um cenário de vulnerabilidade que torna estes jovens permeáveis a qualquer tipo de conteúdos de violência e ideologias, que possam depois estar associadas a agressividade".
Como podemos identificar pessoas com este tipo de perfil? O psicólogo começa por dizer que é difícil porque geralmente são indivíduos que se relacionam pouco. "Tem de se olhar para um isolamento muito marcado ou de alguém que possa estar a ser alvo de gozo e de críticas por parte de um grupo, merece atenção porque a qualquer momento podem procurar afirmar esse poder que quer demonstrar de uma forma extremada. Este jovem não tinha armas de fogo talvez por não as ter conseguido adquirir. Mas um estudo sobre atiradores em massa mostra que, por exemplo, uma característica que se apurou em mais de 75% foi um passado de crueldade com animais. Um adolescente que goste de andar a maltratar gatos ou a queimar lagartixas, o que for, não querendo dizer que acabe em casos extremos, sugere disfuncionalidade."
Alerta do FBI fundamental para travar atentado
Reações de prevenção e de ansiedade
Este caso está a gerar muita perturbação não só nos alunos da Faculdade de Ciências de Lisboa, mas também noutros jovens que achavam estar longe desta realidade, que viam isto acontecer noutros países, mas nunca em Portugal. A Polícia Judiciária deveria ter divulgado a detenção deste jovem que se preparava para um atentado terrorista, causando este impacto? "A informação pode gerar estratégias de proteção como também pode gerar reações de ansiedade e é importante que quem esteja a sentir reações de ansiedade possa procurar apoio psicológico. A própria faculdade disponibiliza um gabinete de apoio psicológico ao seu universo de alunos e profissionais", esclarece o psicólogo.
Contactado pelaSÁBADO, o gabinete de apoio psicopedagógico da FCUL respondeu: "Desde o primeiro momento, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa estabeleceu um plano de prontidão em termos de apoio psicológico à sua comunidade. O mesmo irá vigorar enquanto tal se justificar. Caso seja necessário, estão equacionados mecanismos de reforço no apoio". Luís Carriço, diretor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que continuou a funcionar normalmente,falou aos jornalistas esta manhã e apelou à serenidade, considerando que não há razão para alterar as atividades do estabelecimento de ensino: "Aos nossos alunos, docentes e demais funcionário quero transmitir uma mensagem de tranquilidade".
A psiquiatra forense Susana Pinto de Almeida diz estar "chocada" com tudo o que tem ouvido na televisão sobre este caso: "Ouvir pessoas ligadas à saúde mental dizerem que deformação de personalidade é esquizofrenia é gravíssimo. É desinformação. Um juízo pericial assenta em factos e aqui não há factualidade nenhuma"
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