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Operação Marquês. Tudo sobre o primeiro dia de interrogatório a Sócrates

28 de outubro de 2019 às 19:54

Antigo primeiro-ministro, que esteve preso durante dez meses e depois 42 dias em domiciliária, está acusado de três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político. Esta segunda-feira, foi o primeiro de quatro dia de interrogatórios na fase de instrução, a seu pedido.

José Sócrates atacou José Maria Ricciardi durante o primeiro dia de interrogatório da fase de instrução da Operação Marquês, realizado esta segunda-feira. O antigo primeiro-ministro considera que o banqueiro tem uma "mente delirante" e que se sentiu estarrecido e injuriado com as declarações deste. Sócrates considera que as palavras de Ricciardi são em forma de simpatia para com o Ministério Público e com todos os que odeiam Ricardo Salgado

José Sócrates levou vários alvos para a mesa de interrogatório. Começou por Paulo de Azevedo, seguiu para Hélder Bataglia (com quem assumiu não ter uma boa relação) e, posteriormente, passou para José Maria Ricciardi. 

Durante as declarações, o antigo primeiro-ministro garantiu também que o primo, José Paulo Pinto de Sousa, nunca lhe deu dinheiro nenhum. "Isso é apenas uma acusação alucinada", disse.



José Sócrates diz que nunca foi pressionado por Ricardo Salgado na OPA da Sonae à PT
José Sócrates procurou desmontar a acusação do Ministério Público, ponto por ponto, e fez uma declaração de princípios. Incialmente, o antigo primeiro-ministro foi ouvido sobre a possível intervenção que teve OPA da Sonae à Portugal Telecom. 

José Sócrates disse ser falso que o seu Governo (que chefiou entre 2005-2009) tenha favorecido a PT e alegou que terá sido Paulo de Azevedo e não Ricardo Salgado a pedir-lhe que o seu Executivo votasse a favor da compra da PT pela Sonae. O antigo primeiro-ministro diz que nunca foi pressionado por Ricardo Salgado para que a Caixa Geral de Depósitos votasse contra a OPA da Sonae à PT (decisão que mais tarde foi tomada pela Caixa, mas que segundo a acusação este era um negócio que interessava a Ricardo Salgado para continuar a dominar a PT). 

Sócrates disse ainda que recebeu uma chamada de Paulo de Azevedo - filho de Belmiro de Azevedo - que lhe pediu para a Caixa Geral de Depósitos votasse a favor da OPA da Sonae. José Sócrates, na altura primeiro-ministro, garantiu que não acedeu à pressão de Paulo de Azevedo. 

O primeiro dia de interrogatório de José Sócrates na fase de instrução da Operação Marquês terminou cerca das 19h30, tendo o ex-primeiro ministro saído com um ar satisfeito, dizendo que regressa na terça-feira. "É um longa caminhada e é muito fácil fazer alegações infundadas e é muito, mas muito dificil repor a verdade", reforçou também, apesar de ter dito que não prestava esclarecimentos.  Amanhã, o antigo governante será ouvido sobre os empréstimos que recebeu de Carlos Santos Silva. 

José Sócrates, que esteve preso preventivamente durante dez meses e depois 42 dias em prisão domiciliária, está acusado de três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, 16 de branqueamento de capitais, nove de falsificação de documentos e três de fraude fiscal qualificada.

Entre outros pontos, a acusação sustenta que Sócrates recebeu cerca de 34 milhões de euros, entre 2006 e 2015, a troco de favorecimentos a interesses do ex-banqueiro Ricardo Salgado no Grupo Espírito Santos GES e na PT e para garantir a concessão de financiamento da Caixa Geral de Depósitos ao empreendimento Vale do Lobo, no Algarve, e ter acordado com o seu amigo Carlos Santos Silva negócios para favorecer empresas do grupo Lena através de obras do projeto Parque Escolar.

No final de 2006, segundo a acusação, Carlos Santos Silva e Joaquim Barroca, administrador do Grupo Lena, aceitaram integrar o esquema financeiro para ocultar a origem e a propriedade dos fundos de Sócrates, tendo concordado em abrir contas para a passagem de fundos, junto do banco suíço UBS.

A Operação Marquês teve início a 19 de julho de 2013 e culminou na acusação a 28 arguidos - 19 pessoas e nove empresas - a 11 de outubro de 2017 pela prática de 188 de crimes económico-financeiros.



(notícia atualizada às 19h21 com mais informações sobre o interrogatório)

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