Sábado – Pense por si

Tiago Silva
Tiago Silva Advogado
30 de agosto de 2024 às 07:00

SCP vs FCP e a entrevista de Pinto da Costa

Jorge Nuno Pinto da Costa deu esta semana uma entrevista à TVI, proferindo algumas declarações que me suscitaram perplexidade.

1. O FCP enfrentará no próximo sábado a melhor versão do Sporting de Ruben Amorim, uma equipa muito forte ofensivamente, com princípios de jogo bem consolidados e com um trio de jogadores no ataque que estão no ponto mais alto das suas carreiras.

Este Sporting mistura o jogo interior dos criativos Pote e Trincão com jogo por fora através do endiabrado Quenda, o ataque à profundidade através do portento Gyokeres com cérebro e critério no meio com Daniel Bragança e Morita.

Ainda que defensivamente não esteja tão consistente quanto o resto dos sectores – Kovacevic não confere segurança, a alternância da defesa zonal com homem a homem ainda não me parece totalmente afinada e o espaço que é concedido nas costas de Quenda e Catamo é um desafio e tanto quando do outro lado está uma equipa que sabe explorar e aproveitar esse espaço –, o SCP é uma equipa que joga muito e bem à bola, que encurta muito os espaços para os adversários saírem a construir e que testa, constantemente, a solidez defensiva adversária.

Será, com certeza, uma enorme desafio para um FC do Porto que está a começar a gatinhar sob as boas ideias de Vítor Bruno.

Um FC do Porto que tem mais paciência com bola, mais presença na área, que procura construir com mais certeza e critério, que tem mais jogo interior e maior imprevisibilidade no seu jogo.

Um FC do Porto que tem em Ivan Jaime, Pepê e Nico Gonzalez jogadores criativos capazes de desmontar a estratégia defensiva de qualquer opositor e em Vasco Sousa e Varela elementos preponderantes para controlar o jogo e fazer com que o FC do Porto tenha mais e melhor bola.

Se a isto aliarmos a forma como Galeno, mesmo jogando a lateral, funciona muitas vezes como extremo, atacando o espaço e aparecendo na área em situações de finalização, temos que o FC do Porto também parece estar em condições de ferir o rival e discutir o jogo.

Ainda assim, e após ter escrutinado a final da última Supertaça ao pormenor, estou em crer que a chave do jogo estará na forma como o FC do Porto será capaz de enfrentar a pressão e agressividade (no bom sentido) que o SCP exercerá na sua primeira fase de construção e como a sua linha defensiva lidará com Pote.

É que no jogo da Supertaça percebeu-se claramente que Pote, inteligentemente, procura sempre espaços entre linhas para receber e enquadrar sem qualquer oposição, passando quase sempre pelos seus pés os lances de perigo do SCP.

É claro que o SCP é muito mais do que Pote mas muito do sucesso do FCP neste jogo passará pela forma como não permitirá que Pote apareça no jogo.

2. É claro que ninguém sabe se todas as contratações terão sucesso desportivo mas é absolutamente insofismável que o mercado de verão do FC do Porto foi absolutamente notável (ainda por cima tendo em conta a débil situação financeira do FC do Porto), excedendo as expectativas de todo e qualquer adepto.

A equipa presidida por André Villas Boas evidenciou um planeamento desportivo rigoroso e meticuloso, expondo, através destas contratações, o seu projecto desportivo de forma clara: o FC do Porto, mais do que conquistar o presente, procura construir bases sólidas e fortes para continuar a vencer no futuro, apostando em jovens jogadores talentosos por forma a potenciá-los e retirar deles  o máximo retorno desportivo e financeiro.

Mas o mercado de Verão do FC do Porto foi muito mais do que contratações para a sua equipa de futebol sénior masculino.

Com efeito, há um clube a desenvolver novas e constantes iniciativas para se dar e aproximar dos sócios e adeptos, um futebol feminino prestes a pisar o relvado do Dragão, uma política desportiva que procura ser contida ao máximo no que respeita ao pagamento de comissões, um clube que aposta verdadeiramente na formação, um plantel de futebol que está à altura dos pergaminhos do clube, uma reestruturação financeira a ser negociada, milhares de novos sócios mas há, sobretudo e acima de tudo, mais rigor, competência, credibilidade, decência e transparência.

Um Porto à Porto.

Afinal, o ouro da casa parece não viver apenas dentro das quatro linhas. 

3. Jorge Nuno Pinto da Costa deu esta semana uma entrevista à TVI, proferindo algumas declarações que me suscitaram perplexidade.

Dizer que só tinha intenção de fazer um ano de mandato quando andou toda a campanha a jurar o contrário, assegurar que só renovou a dois dias das eleições com Sérgio Conceição porque queria ser campeão europeu quando já se sabia à data que o FC do Porto apenas poderia aspirar à Liga Europa (e, já agora, porque não renovou, então, só por um ano com o ex-treinador do FC do Porto por forma a fazer corresponder o prazo do contrato com a duração do seu mandato?), garantir que só se recandidatou por forma a poder construir a Academia quando o FC do Porto nem sequer tinha dinheiro para pagar salários e até chegou a emitir um cheque "careca" para pagar parte da adjudicação dos terrenos, acusar a Justiça e a campanha de André Villas Boas de ter instrumentalizado e orquestrado o sucedido na Assembleia Geral de 13 de Novembro quando toda a Direção do FC do Porto assistiu, de cadeirinha, a todos os episódios de agressões lá ocorridos sem esboçar qualquer reação, é, no mínimo, insólito.

Como diria Diácono dos Remédios, não havia necessidade.

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