Sábado – Pense por si

Marta Fonseca Ferreira
Marta Fonseca Ferreira Advogada
23 de junho de 2025 às 10:13

Algodão doce depois dos 50

Olhou para o grupo de seis pessoas sentadas na sala, todos com mais de cinquenta anos, ainda com restos de algodão doce cor-de-rosa no cabelo e cheirando intensamente a tequila.

Na Esquadra da PSP de Benfica, numa noite de domingo que prometia ser memorável pelas razões erradas, o Agente Principal Carlos Mendes ajustou o uniforme e preparou-se para uma das identificações mais peculiares da sua carreira de quinze anos.

"Pronto, vamos lá fazer a identificação," disse, olhando para o grupo à sua frente. "Foram trazidos por perturbação da ordem pública na Feira de Benfica. Têm aqui a Dra. Sofia Reis como advogada oficiosa, se precisarem."

Olhou para o grupo de seis pessoas sentadas na sala, todos com mais de cinquenta anos, ainda com restos de algodão doce cor-de-rosa no cabelo e cheirando intensamente a tequila.

"Helena Santana, a aniversariante de 52 anos," começou, apontando para uma mulher de olhos brilhantes e um sorriso que nem a situação conseguia apagar, "João Saraiva, 54 anos, Marta Silva, 53 anos, Inês Pereira, 55 anos, Daniel Costa, 51 anos, Joana Santos, 56 anos e... Rita Fernandes, 52 anos."

A Dra. Sofia Reis, uma advogada jovem de serviço de urgência, olhou para os seus 'clientes' com uma mistura de profissionalismo e perplexidade. Não era todos os dias que via um grupo de cinquentões trazidos à esquadra por causa de algodão doce.

"Então, vamos ver se percebo bem o que se passou," começou o Agente Mendes, consultando o relatório dos colegas. "Vocês estavam na Feira de Benfica a celebrar o aniversário da Helena..."

"Os meus 52 anos!" interrompeu Helena alegremente, ainda visivelmente embriagada, com lágrimas de alegria nos olhos. "Meio século mais dois! E pela primeira vez em anos, senti-me verdadeiramente feliz no meu aniversário!"

"Helena," sussurrou a advogada, "melhor ficares calada por agora."

"Mas doutora, percebe? Durante anos os meus aniversários eram só... obrigação. Uma mesa reservada, um bolo caro, sorrisos educados. Hoje foi a primeira vez que me senti jovem outra vez, rodeada dos meus melhores amigos!"

Marta, uma mulher elegante com caracóis grisalhos ainda cheios de açúcar cor-de-rosa, limpou uma lágrima discretamente.

"Ela tem razão, Sr. Agente. Somos amigos há mais de vinte e cinco anos. Conhecemo-nos na universidade quando éramos todos putos de vinte anos, cheios de sonhos e energia. Há anos que não a víamos assim... radiante."

O agente pigarreou, claramente tentando perceber se isto era caso para processo ou para mandar para casa.

"Pelo que os meus colegas me disseram, às 22h30 recebemos uma chamada sobre confusão na feira, junto ao carrossel. Quando chegaram lá, encontraram vocês seis a cantar os parabéns em volta de..." consultou as notas, "uma montanha de algodão doce com velas espetadas, enquanto faziam shots de qualquer coisa que cheirava muito mal."

João Saraiva, um homem alto de óculos e ligeiramente calvo, levantou timidamente a mão.

"Sr. Agente, posso explicar isso? E antes que pergunte, sim, temos idade suficiente para saber que isto não foi a nossa ideia mais brilhante."

"Prossiga."

"Vê, a Helena faz anos hoje, e nós... bem, somos um grupo misto," explicou João, olhando carinhosamente para Helena. "Eu, a Marta e a Inês conhecemos a Helena na faculdade há mais de vinte e cinco anos. Éramos inseparáveis."

Marta acenou, sorrindo nostalgicamente.

"Mas a vida aconteceu, percebes? Casamentos, divórcios, filhos, trabalhos que nos consomem... Há três anos que a Helena passou por tempos muito difíceis. O marido deixou-a, os filhos saíram de casa, teve de recomeçar tudo aos 49 anos."

Helena baixou a cabeça, mas Inês Pereira, uma mulher robusta com um sorriso caloroso, pegou-lhe na mão.

"E nós, os velhos amigos, não estivemos lá como devíamos," disse Inês, a voz embargada. "Cada um na sua vida, nos seus problemas. Só nos encontrávamos para um almoço rápido de vez em quando, sempre a correr, sempre com pressa."

Daniel acenou com a cabeça.

"Eu conheci a Helena há apenas dois anos, quando ela veio trabalhar para a escola onde leciono. Ela era a nova coordenadora administrativa. Parecia... perdida. Mas com uma força incrível por baixo."

Rita interrompeu:

"E eu conheci-a no ginásio o ano passado! Estávamos as duas nas aulas de pilates para 'senhoras de meia-idade'," disse com uma gargalhada. "Ela estava sempre sozinha, mas tinha esta energia... Esta vontade de recomeçar."

Joana acenou timidamente.

"Eu moro no prédio ao lado do dela há apenas seis meses. Mudei-me depois do meu divórcio também. Ela foi a primeira pessoa que me ofereceu ajuda, café e conversas honestas sobre como é recomeçar aos cinquenta."

Daniel Costa, um homem de barba grisalha e ar professoral, acrescentou:

"Este ano decidimos que ia ser diferente. Foi ideia minha, na verdade. Vendo a Helena no trabalho, sempre profissional mas com uma tristeza nos olhos... E depois descobri que o Saraiva, a Marta e a Inês eram os famosos 'amigos da faculdade' de quem ela falava às vezes."

Rita acenou entusiasticamente.

"E eu disse: 'Olha, eu também quero participar! Ela é uma das pessoas mais generosas que conheço!' E a Joana disse o mesmo!"

"Então juntámo-nos todos - os amigos antigos e os novos," disse Marta, sorrindo. "Planeámos tudo ao pormenor: reservámos mesa no melhor restaurante de Benfica, encomendámos um bolo lindo numa pastelaria francesa..."

"Que catástrofe aconteceu?" perguntou o agente, genuinamente curioso.

Rita Fernandes, uma mulher pequena mas energética, suspirou profundamente.

"Eu era responsável por ir buscar o bolo! E vejam que me confiaram esta responsabilidade porque sou a mais organizada de todas nós! Trabalho em gestão de projetos há quinze anos!"

Todos olharam para Rita, que parecia querer desaparecer debaixo da cadeira.

"Fui à pastelaria às cinco da tarde," defendeu-se Rita. "Mas quando lá cheguei, tinham dado o nosso bolo para outra pessoa! Aparentemente houve confusão com os nomes - havia dois aniversários marcados para hoje, e deram o nosso bolo lindo, personalizado, de chocolate e framboesa à família Santos em vez da Helena Santana."

"E não conseguiram fazer outro?" perguntou o agente.

"Era domingo à noite, Sr. Agente! Estava tudo fechado! E olhe que eu procurei. Tenho 52 anos, calço uns sapatinhos de salto que já me massacram os pés, e percorri Benfica inteiro de pastelaria em pastelaria como se fosse uma miúda desesperada!"

Joana Santos, que até então tinha estado calada, acrescentou com a voz trémula:

"E entretanto nós estávamos no restaurante à espera. A Helena estava genuinamente devastada porque disse que aos 52 anos, depois de tudo pelo que passou, só queria uma celebração perfeita com as pessoas que mais ama no mundo."

O agente olhou para Helena, que tinha os olhos marejados.

"Foi então que o Saraiva teve a ideia... questionável," continuou Joana.

O agente olhou para João Saraiva.

"Que ideia?"

"Bem..." João ajustou os óculos nervosamente, "lembrei-me que quando éramos todos putos de vinte anos, na faculdade, a Helena adorava algodão doce. Sempre que havia festa académica, ela comprava algodão doce em vez de pipocas. Dizia que era como comer nuvens cor-de-rosa."

Daniel olhou espantado.

"A sério? Nunca me contou isso! Nos dois anos que a conheço, ela é sempre tão... séria, responsável."

"Exato!" disse Marta. "Nós, os amigos velhos, lembrámo-nos de quem ela era antes. Mas vocês, os amigos novos, viram quem ela se tornou depois das dificuldades. E juntos... talvez consigamos ajudá-la a ser as duas pessoas ao mesmo tempo."

Helena rebentou em lágrimas - desta vez lágrimas de emoção pura.

"Vocês não sabem o que isto significa," soluçou. "Os amigos antigos que se lembram de quem eu era, e os amigos novos que me aceitaram quando eu estava partida... juntos a tentarem reconstruir-me."

Marta passou-lhe o braço pelos ombros.

"E então o Saraiva disse uma coisa linda," continuou Marta. "Disse: 'Somos todos adultos responsáveis, temos profissões sérias, filhos já crescidos, hipotecas para pagar... mas quando é que voltaremos a ser estúpidos e espontâneos? Quando é que voltaremos a comer nuvens cor-de-rosa?'"

"Helena," advertiu novamente a advogada, mas também ela estava claramente emocionada, "lembra-te que és gestora de uma empresa de contabilidade."

"Exatamente! Por isso é que precisava desta loucura! Nos últimos três anos tenho sido só... funcional. Trabalho, casa, trabalho, casa. Hoje senti-me viva outra vez!"

"Continuem," disse o agente, claramente tocado apesar de tentar manter a compostura.

"Fomos à feira," continuou Inês, "e comprámos algodão doce. Muito algodão doce. O Sr. Joaquim achou estranho ver seis cinquentões a comprar aquela quantidade de algodão doce, mas quando lhe explicámos..."

"Quem é o Sr. Joaquim?"

"O homem do algodão doce! Tem 67 anos, mais velho que nós! Quando lhe explicámos que era para substituir um bolo de aniversário que se tinha perdido, ele ficou tão tocado que começou a chorar!"

Daniel acenou com a cabeça.

"Ele disse que a mulher tinha morrido no ano passado, e que já não via uma amizade assim há muito tempo. Fez-nos um desconto enorme e ainda nos ajudou a montar a 'torre de aniversário' com algodão doce!"

Rita acrescentou:

"E a Joana lembrou-se de trazer as velas de casa e espetá-las no algodão doce. Para ser justa, ficou bastante artístico para um grupo de pessoas com mais de cinquenta anos e zero experiência em design de bolos alternativos."

"Até aí, tudo legal," observou o agente. "Mas e a tequila? E o facto de vocês estarem a fazer um concerto improvisado junto ao carrossel?"

Os seis entreolharam-se.

"Isso..." começou Daniel, "foi quando nos apercebemos de algo importante."

"Como assim?"

João pigarreou.

"Sr. Agente, sabe o que é passar dos cinquenta e de repente aperceber-se que perdeu anos da sua vida a tentar ser o adulto perfeito? A Helena passou três anos a reconstruir-se depois do divórcio, a trabalhar em dois empregos, a fingir que estava bem..."

"E nós," acrescentou Rita, limpando uma lágrima, "os amigos novos, passámos dois anos a ver uma mulher incrível que se escondia atrás de sorrisos educados e eficiência profissional. Nunca soubemos da Helena que comia nuvens cor-de-rosa."

"Por isso é que esta festa é tão especial," disse Daniel. "Não é só um aniversário. É o encontro de todas as Helenas - a do passado, a do presente, e talvez... a do futuro."

Helena apertou as mãos de Marta e Inês.

"Mas hoje, quando vi aquela montanha de algodão doce cor-de-rosa com velas a piscar, e vocês todos em volta a cantar os parabéns... foi como se tivesse voltado a encontrar a Helena de vinte anos. Aquela que acreditava que a vida podia ser doce e cor-de-rosa."

"E a tequila," disse Inês solenemente, "foi para celebrar o facto de ainda conseguirmos beber tequila sem acabar nas urgências, mas principalmente... foi para brindar ao reencontro. Connosco próprios e uns com os outros."

A Dra. Sofia limpou discretamente uma lágrima.

"Sr. Agente, com todo o respeito, estamos aqui a falar de quê exatamente? Um grupo de adultos responsáveis que fizeram uma festa um bocadinho barulhenta?"

O agente consultou as suas notas, claramente comovido.

"Bem, tecnicamente houve perturbação da ordem pública. Segundo as testemunhas, vocês montaram uma festa numa área pública, atrapalharam o acesso ao carrossel, e quando os meus colegas pediram para se retirarem..."

"Resistimos à autoridade," admitiu Helena, "mas só porque ainda não tínhamos feito o brinde. E não era só aos nossos joelhos que ainda funcionam... era aos amigos que nos conhecem há vinte e cinco anos e que ainda se lembram de quem éramos antes de crescermos demasiado."

"E havia famílias com crianças pequenas a tentar usar o carrossel," acrescentou o agente, mas com menos convicção.

"Mas elas também quiseram participar!" protestou Rita. "Uma menina de seis anos disse que éramos o grupo de amigos mais giro que tinha visto e perguntou à mãe se quando crescesse também podia ter amigos assim!"

João pigarreou.

"Sr. Agente, posso fazer uma observação de alguém que paga impostos há trinta anos e que perdeu demasiado tempo a ser sensato?"

"Prossiga."

"Nós não resistimos à autoridade propriamente dita. Apenas pedimos cinco minutos para terminar uma celebração que devíamos ter feito há anos. Uma celebração de ainda estarmos aqui, juntos, vivos, e capazes de sermos ridículos quando é preciso."

A advogada olhou para ele com interesse renovado.

"Isso é... surpreendentemente tocante, João."

O agente suspirou.

"E o alegado furto de algodão doce?"

Silêncio absoluto. Os seis olharam uns para os outros com expressões culpadas.

"Daniel," disse Helena finalmente, "conta-lhe. Somos adultos, temos de assumir as responsabilidades."

Daniel respirou fundo.

"Quando os senhores agentes chegaram, nós... bem, entrámos em pânico. E quando um homem de 51 anos entra em pânico depois de três shots de tequila, não é bonito. O Saraiva agarrou na montanha de algodão doce para 'preservar a obra de arte comestível', mas escorregou porque, francamente, já não temos o equilíbrio de quando éramos novos."

"Destruindo meia dúzia de algodão doces que estavam prontos para vender," acrescentou o agente.

"E então," continuou Saraiva envergonhado, "tentei limpar a confusão como um adulto responsável, mas acabei por... bem, por pegar em mais algodão doce sem querer."

"Sem querer?" perguntou o agente, cético.

"Sr. Agente, quando se tem 54 anos e se está ligeiramente embriagado de emoção e tequila, a coordenação motora não é o que era aos vinte! Estava pegajoso! Quanto mais tentava limpar, mais algodão doce ficava agarrado a mim!"

Helena rebentou a rir entre lágrimas.

"Deviam ter visto! O Saraiva parecia o Pai Natal cor-de-rosa! E ele a tentar manter a dignidade de engenheiro informático sénior!"

"Helena!" repreendeu a advogada, mas também ela estava claramente tocada.

O agente olhou para o grupo, depois para as suas notas, depois novamente para este grupo de cinquentões que tinham acabado de ter a crise de meia-idade mais doce e emocionante da história.

"Sr. Agente," interveio a Dra. Sofia, "os meus clientes estão dispostos a pagar os danos causados ao Sr. Joaquim e a fazer um donativo generoso à Associação de Feirantes de Benfica."

"E podemos pagar os danos ao Sr. Joaquim!" acrescentou João entusiasticamente. "E fazer algum trabalho voluntário na feira!"

"Eu sou contabilista certificada," disse Helena, "posso organizar as finanças da feira pro bono!"

"Eu sou professora de educação física numa escola secundária," acrescentou Inês, "posso organizar atividades desportivas para todas as idades!"

"E eu," disse Daniel, "sou professor universitário de literatura. Posso organizar workshops de escrita criativa para crianças!"

"Eu sou gestora de projetos," disse Rita, "posso reorganizar toda a logística da feira!"

"E eu," disse Marta, "sou enfermeira. Posso estar de serviço no posto de primeiros socorros da feira!"

O agente olhou para este grupo de profissionais bem-sucedidos de meia-idade que tinham acabado de redescobrir a importância da amizade verdadeira numa feira açucarada.

"Sabem que," disse finalmente, com a voz ligeiramente embargada, "quando comecei este turno, a última coisa que esperava era aprender uma lição sobre amizade de um grupo de cinquentões cobertos de algodão doce."

"Sr. Agente," disse Helena com um sorriso deslumbrante, "aos 52 anos, descobri que a vida é demasiado curta para não sermos um bocadinho ridículos com as pessoas certas."

"E," acrescentou Marta, "descobrimos que nunca é tarde demais para voltar a cuidar uns dos outros como se deve."

O agente fez algumas anotações, claramente emocionado.

"Muito bem. Olhem, isto não é caso para tribunal nenhum. Vou deixar-vos ir para casa com uma advertência. Tenham só cuidado para não bloquear os equipamentos da feira da próxima vez, e..." olhou para Rita, "talvez organizem melhor a logística do bolo para os 53 anos da Helena."

"Sr. Agente," disse Helena, "posso fazer-lhe uma última pergunta?"

"Prossiga."

"Que idade tem?"

"Trinta e cinco anos. Porquê?"

"Porque daqui a dezassete anos, quando fizer cinquenta, lembre-se desta noite. E lembre-se de que nunca se é demasiado velho para fazer uma asneira memorável com os amigos certos. Mas principalmente, lembre-se de que os amigos verdadeiros são aqueles que se lembram de quem éramos quando éramos felizes... e nos ajudam a voltar a sê-lo."

A Dra. Sofia tapou a cara com as mãos, mas estava a chorar de emoção.

Quando saíam da esquadra, o agente ouviu Helena dizer aos amigos:

"Obrigada. Aos amigos antigos, por se lembrarem de quem eu era. Aos amigos novos, por me ajudarem a descobrir quem posso voltar a ser. Vocês são a prova de que às vezes a vida nos dá uma segunda oportunidade... e às vezes até uma terceira."

E Saraiva respondeu:

"Helena, começámos como amigos de faculdade, mas agora somos uma família escolhida. Os velhos, os novos, todos juntos."

Rita acrescentou:

"E as melhores famílias são aquelas que se formam quando já não esperávamos."

O Agente Principal Carlos Mendes fez uma nota mental para ligar aos seus próprios amigos de faculdade na segunda-feira.

E três meses depois, na Feira de Benfica, havia um novo cartaz no stand do algodão doce: "Combo Amizade Eterna - Algodão Doce Artístico + Velas Incluídas + Garantia de Memórias Inesquecíveis. Nota: Adequado para todas as idades, especialmente para grupos de amigos que precisam de se redescobrir. O Sr. Joaquim recomenda pessoalmente."

O Sr. Joaquim nunca tinha vendido tanto algodão doce a adultos na vida, e começou a receber encomendas de outros grupos de amigos de meia-idade em busca da sua própria aventura açucarada.

Mas a encomenda mais especial chegou um ano depois: "Para Helena - 53 anos - e a gang do algodão doce. Extra grande, extra cor-de-rosa, extra especial. Com amor, o Sr. Joaquim."

Porque algumas amizades são tão doces que merecem uma celebração açucarada todos os anos.

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