É irónico o novo governo vender um país de desenvolvimento sustentável e de transição climática sabendo que estes não cabem nos seus parâmetros de racionalidade económica.
O novo governo apresentou esta semana o seu novo programa para os próximos quatro anos. Apesar do ênfase da sustentabilidade ambiental e racionalidade económica este programa assenta na mesma lógica que nos tem trazido à crise ecológica e social que vivemos hoje: a lógica do crescimento, mas desta vez pintado de verde.
Em 1972, o Clube de Roma, composto por vários académicos americanos, apresentou o seu primeiro relatório dos Limites do crescimento. A sua conclusão principal foi que não existem recursos naturais suficientes na terra para sustentar uma economia baseada em crescimento infinito considerando os ritmos do crescimento populacional, da industrialização, da poluição, da produção de alimentos e do esgotamento de recursos naturais. Assim, independentemente do avanço tecnológico, seria crucial diminuir o consumo mundial de recursos para conseguir suportar a população mundial, travar as crises económicas, sociais e ambientais, e evitar o colapso civilizacional até 2100. Naquela época, quando o neoliberalismo estava a ganhar destaque nas narrativas políticas, essa visão catastrofista para 2100 foi fortemente criticada.
Volvidos mais de 50 anos, as profecias deste grupo de académicos realizou-se e as múltiplas crises que enfrentamos hoje não são nada mais do que o resultado das políticas neoliberais que estes desafiavam. O colapso civilizacional previsto para 2100 deixou de ser uma possibilidade catastrófica e tornou-se num cenário de futuro possível.
Perante isto, é irónico o novo governo vender um país de desenvolvimento sustentável e de transição climática sabendo que estes não cabem nos seus parâmetros de racionalidade económica. Primeiro, porque o desenvolvimento sustentável implica que desafiemos os modos de produção e consumo que conhecemos hoje, segundo porque a transição energética que tem vindo a ser feita quer em Portugal, quer na União Europeia não é mais do que expandir a produção de energia através da utilização de novos recursos, nunca desafiando a redução do seu consumo. Para além disso, no que toca a ambiente o plano é vago: muitas estratégias e planos para serem implementados, uns quantos a serem revistos e outros tantos que ficaram por cumprir do anterior governo.
Um dos grandes exemplos é a aceleração da economia circular, várias vezes reiterada ao longo do programa mas pouco transformadora no que toca a medidas efetivas. A economia circular já há vários anos discutida ao nivel europeu e nacional é criticada por este governo por ter ficado no "plano conceptual". No entanto o novo programa falha em apresentar medidas eficazes que vão para além da gestão dos resíduos. Na verdade, o plano do governo foca-se quase exclusivamente neste aspeto, mostrando uma visão muito redutora de um modelo económico que poderia ser capaz de solucionar as múltiplas crises que vivemos.
A economia circular não se esgota na reintrodução dos resíduos na economia mas sim na capacidade de repensar a economia e transformarmos os modelos de negócio de modo a que estes consigam reduzir ao máximo os seus impactos durante todo o ciclo de vida dos produtos, desde o momento em que são produzidos até ao momento em que são descartados. É assim necessária a criação de plataformas que aproximem os diferentes atores, incentivos à economia local e uma maior participação e sensibilização de toda a população. Sensibilização essa que não pode nem deve focar-se exclusivamente nos jovens. Mais do que isso, este programa falha em apresentar medidas concretas que apelem à redução do consumo até porque tal contraria lógica de crescimento infinito em que o novo governo acredita.
A ideia do crescimento verde como forma de desenvolvimento sustentável é falaciosa pois não é possível usarmos o mesmo raciocínio que criou o problema para o solucionar. No entanto, tal já vai para além dos limites da racionalidade económica a que este governo se propõe.
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