Sábado – Pense por si

Francisca Costa
Francisca Costa Gestora de projetos
08 de março de 2024 às 08:26

Não quero flores

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Edição de 5 a 11 de agosto

A igualdade de género, enquanto igualdade de oportunidades de acesso a recursos, incluindo a participação económica e política é outro dos desafios prioritários ao nível mundial.

Crise climática, igualdade de género e participação política. Três grandes desafios elencados nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e que têm a capacidade de alavancar o nosso progresso enquanto Humanidade.

É indubitável que as alterações climáticas são neste momento um dos maiores desafios do século, dado que a destruição do planeta põe em causa a própria existência do ser humano. Para além disso, estas têm capacidade de exacerbar outros desafios como é o caso da pobreza, dificuldade de acesso a água potável e alimentos ou deslocação forçada de pessoas.

A igualdade de género, enquanto igualdade de oportunidades de acesso a recursos, incluindo a participação económica e política é outro dos desafios prioritários ao nível mundial. E este desafio é igualmente agravado pela crise climática. A maneira como se manifesta depende das regiões do globo e na maneira como as sociedades se organizam porém independentemente do sítio, contribui para atrasar o progresso civilizacional.

No caso dos países do Sul Global, a mulher assume em muitos deles um papel central na coleta da água e na produção de alimentos. Assim, quando as catástrofes climáticas ocorrem, as mulheres são especialmente afetadas na falta de acesso à água e na quebra da sua subsistência agrícola.

Nos países do Global Norte, a crise climática tem outros impactos distintos, até porque a mulher desempenha outro tipo de papel na sociedade. A desigualdade de género faz-se sentir nomeadamente na maneira como é dada a resposta às alterações climáticas.

Segundo relatórios das Nações Unidas, as mulheres têm uma maior capacidade de criar comunidades mais resilientes e de capacitar na prevenção de desastres climáticos. Países com maior representação de mulheres tem maior capacidade de negociação ao nível internacional e são mais propícios a ratificarem acordos climáticos internacionais, segundo estudo. No entanto, para que tal aconteça é necessário assegurar a participação política das mulheres quer a nível local quer a nível internacional.

No caso português, apesar da perceção generalizada de já termos atingido a igualdade de género ainda há um longo caminho a percorrer: sim as mulheres já votam, já têm o seu emprego e na maioria dos casos são donas do seu próprio destino. No entanto, a participação política é uma das áreas da sociedade portuguesa que ainda está bem longe de atingir a igualdade e consequentemente conseguir dar uma melhor resposta à crise climática que enfrentamos.

Nas últimas legislativas apenas 37% dos lugares do parlamento eram ocupados por mulheres. Nestas legislativas, dos 19 partidos que se candidatam, apenas 5 têm como líder do partido uma mulher. Mais recentemente constatou-se também que apenas 24% das comentadoras políticas televisivas são mulheres. Não acredito que seja por falta de interesse ou falta de pessoas capazes para assumir este tipo de papéis, até porque para além dos elevados níveis de literacia, as mulheres têm estado na linha da frente dos movimentos climáticos e cívicos no nosso país.

Desta forma, a sub-representação de mulheres na atividade política tem impacto na formulação e implementação de políticas climáticas equitativas, que tenham em consideração as comunidades mais vulneráveis e garantam justiça climática.

Por isso, no Dia Internacional da Mulher não quero flores, mas sim uma reflexão profunda sobre os impactos que a desigualdade de género ainda tem em tantos setores da sociedade portuguesa, como é o caso da participação política e no combate às alterações climáticas.

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