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Zohran Mamdani. Como um jovem socialista muçulmano ganhou as primárias em Nova Iorque

Diogo Barreto
Diogo Barreto 25 de junho de 2025 às 13:51
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Mamdani venceu o ex-governador Andrew Cuomo com uma campanha focada no poder de compra dos nova-iorquinos e impulsionada pelas redes sociais.

Zohran Mamdani venceu na terça-feira as primárias democratas de Nova Iorque, tendo o centrista Andrew Cuomo, antigo governador do estado, assumido a derrota ainda antes de serem conhecidos os resultados finais da votação. Para esta eleição, os nova-iorquinos democratas tinham de listar, por ordem de preferência, cinco candidatos. Ainda antes do final da contagem dos votos (cujos resultados oficiais poderão ser apenas conhecidos dentro de uma semana, Cuomo afirmou: "Esta noite foi a noite dele. Ele mereceu ganhar".

Mas quem é este jovem de 33 anos desconhecido da maioria dos nova-iorquinos até há bem poucos meses que foi capaz de vencer um antigo governador?

Zohran Mamdani nasceu no Uganda e os pais têm ascendência indiana. O pai recebeu uma bolsa para estudar nos Estados Unidos e mudou-se com a família para aquele país.

Mamdani faz parte dos Socialistas Democratas da América e protagonizou uma campanha populista centrada no poder de compra dos nova-iorquinos. Falou sobretudo sobre as dificuldades relacionadas com a habitação - e com a falta de habitação a custos acessíveis ou de renda controlada - e os custos de produtos do dia-a-dia, quer fosse no supermercado como nas carrinhas que vendem comida nas ruas da cidade. Uma das suas medidas mais emblemáticas diz também respeito à vontade de introduzir autocarros gratuitos na cidade.

Pouco experiente no campo político, Mamdani passou pela Assembleia de Albany (a capital do estado de Nova Iorque) onde lançou o seu projeto-piloto de autocarros gratuitos que não foi renovado ao final de um ano.

Ao longo da campanha, o seu ativismo pró-Palestina valeu-lhe a oposição de várias organizações judaicas, incluindo uma das mais importantes, a Liga Anti-Difamação. Em 2023, Mamdani apresentou um projeto de lei para acabar com o estatuto de isenção fiscal das instituições de caridade de Nova Iorque com ligações a colonatos israelitas que violem a legislação internacional em matéria de direitos humanos, mas o projeto não avançou. E desde então também já defendeu que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, deveria ser preso pela forma como Israel ataca Gaza.

Um dos principais pontos de ataque surgiu quando num podcast Mamdani se recusou a condenar a frase "globalizar a intifada". Os palestinianos e os seus apoiantes consideraram a frase um grito de libertação, mas muitos judeus consideram-na um apelo à violência.

Os seus adversários acusam-no também de ser antissemita, tendo Mamdani recusado sempre o apodo de extremista. Mas Mamdani também afirmou que não há lugar para o antissemitismo na cidade de Nova Iorque, acrescentando que, se fosse eleito, aumentaria o financiamento para combater os crimes de ódio.

AP Photo/Heather Khalifa

Para a sua vitória terá contribuído a juventude e a aproximação a ideias mais progressistas que conquistaram a faixa mais jovem dos eleitores.

Apesar de Cuomo contar com pesos pesados do Partido Democrata como Bill Clinton ou Michael Bloomberg, Mamdani recebeu o apoio do senador Bernie Sanders e da congressista Alexandria Ocasio-Cortez, duas das principais figuras da esquerda norte-americana.

Os analistas afirmam que a vitória de Zohran Mamdani pode dar um sinal ao partido democrata que se deve afastar do centro político e mover-se para a esquerda, movimento que o partido tem evitado, ao contrário do Partido Republicano que se moveu para a direita desde a eleição de Donald Trump em 2016. Mamdani disse mesmo que a liderança do partido democrata a nível nacional tinha "traído" a classe trabalhadora norte-americana.

Nas eleições de novembro que irão definir o próximo mayor de Nova Iorque concorrem Mamdani como o candidato oficialmente apoiado pelo Partido Democrata, Curtis Sliwa como o nomeado republicano e (possivelmente) duas candidaturas independentes: a de Eric Adams, o atual mayor, eleito em 2021 pelos democratas e que está em rutura com o partido, e possivelmente a de Cuomo. Caso vença em novembro, Mamdani será o primeiro muçulmano a presidir à câmara de Nova Iorque.

A utilização das redes sociais

Essencial para a vitória de Mamdani foi a forma como utilizou todas as redes sociais ao seu dispor para angariar votos. Os curtos vídeos (raramente com mais de dois minutos) onde se juntava a nova-iorquinos trabalhadores tornaram-se virais.

Entre os vídeos que mais marcaram a campanha esteve um em que saltou para o Oceano Atlântico - durante um inverno rigoroso - para discutir a sua proposta sobre o congelamento das rendas de milhões de nova-iorquinos; ou a forma como quebrou o jejum do Ramadão em vídeo.

Fez também várias campanhas de rua "improvisadas", em que se passeava pela cidade conhecendo eleitores e tentando convencer pessoas a votar em si.

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