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Reino Unido vai infetar 90 voluntários saudáveis com o coronavírus

Diogo Barreto
Diogo Barreto 19 de fevereiro de 2021 às 07:35
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O objetivo do ensaio é perceber como o coronavírus afeta o corpo humano de forma a conseguir desenvolver mais e melhores vacinas. Cientistas procuram jovens saudáveis para infetar.

São jovens, saudáveis e vão ser infetados com o SARS-CoV-2 pelas autoridades de saúde do Reino Unido. O país liderado por Boris Johnson é o primeiro do mundo a permitir que voluntários sejam propositadamente expostos ao vírus que provoca a covid-19. Esta iniciativa faz parte de um estudo que pretende entender melhor a doença que virou o mundo de pernas para o ar e as suas consequências no corpo humano, informou o governo britânico num comunicado.

REUTERS/Mohamed Abd El Ghany

Apesar de parecer uma experiência bastante arriscada, a prática foi aprovada pelo órgão de ética de ensaios clínicos daquele país, o Departamento para a Economia, Energia e Estratégia Industrial. Batizado como "Desafio Humano", este projeto é uma parceria entre a equipa britânica para a vacinação, o Imperial College London, o Royal Free London NHS Foundation Trust e a empresa hVIVO.

Os ensaios clínicos têm data marcada para arrancarem em março e no total serão 90 os jovens adultos a ser infetados, num "ambiente seguro e controlado". As autoridades estão a escolher a dedo os 90 voluntários que serão acompanhados de médicos e cientistas com a missão monitorizar a evolução do vírus nos voluntários. Após uma primeira fase, vacinas contra a covid-19 serão dadas a alguns voluntários de maneira a determinar quais as mais eficazes e, assim, acelerar o desenvolvimento das mesmas. "A resposta dará aos médicos uma maior compreensão sobre a covid-19 e ajudará na resposta à pandemia, auxiliando no desenvolvimento de vacinas e tratamento", lê-se no comunicado emitido pelo governo local.

"Embora tenha existido um progresso muito positivo no desenvolvimento de vacinas, queremos encontrar as vacinas melhores e mais eficazes para uso a longo prazo", defendeu o ministro da Economia, Kwasi Kwarteng.

A empresa hVIVO, pioneira neste tipo de testes com humanos, está envolvida no estudo com uma série de instituições académicas e hospitalares britânicas. O diretor científico da empresa, Andrew Catchpole, disse que os dados "vão facilitar imediatamente o modelo de desafio a ser usado para o teste de eficácia de vacinas, bem como para responder a uma série ampla de questões científicas fundamentais que não são viáveis com os testes de campo tradicionais, como exatamente que tipo de resposta imunitária é necessária para conferir proteção contra reinfecção", justificou.

Alastair Fraser-Urquhart, de 18 anos, inscreveu-se na iniciativa mal soube da sua existência, tendo sido um dos selecionados. "Os ensaios podem ajudar a desenvolver mais e melhores vacinas. Se os tivéssemos começado a fazer antes, podíamos ter essas melhores vacinas a serem desenvolvidas até ao Natal", disse o jovem ao jornal The Guardian. Admitindo que há medos associados a estes testes: "Claro que tenho preocupações, tal como toda a gente devia ter antes de entrar nestes ensaios. Há riscos que desconhecemos. Será que vou ter maiores riscos de ter cancro nos pulmões aos 50 por ter contraído o coronavírus? Mas eu aceitei esses riscos".

As "cobaias" deste ensaio vão receber uma compensação monetária - afinal, vão estar 17 dias fechados para impedir a propagação do vírus - no valor de 4.500 libras (perto de 5.100 euros).

O Reino Unido já vacinou mais de 15 milhões de pessoas com uma primeira dose da vacina contra a covid-19.

Os investigadores ambicionam perceber qual a menor quantidade de vírus necessária para causar infeção, sendo que o estudo pretende ainda ajudar os médicos a entender como o sistema imunitário reage ao coronavírus e identificar os fatores que influenciam a forma como este é transmitido.

O estudo vai inicialmente utilizar a versão do vírus que estava a circular no Reino Unido em março de 2020, já que a nova variante surgida naquele país entretanto é possivelmente mais mortífera. 

Para evitar a importação de casos da nova variante, a partir desta semana, quem chega ao Reino Unido vindo de 33 países de risco, incluindo Portugal, tem de fazer quarentena num hotel, uma medida que tem sido criticada.

O Reino Unido é um dos países com o plano de vacinação mais avançado, tendo imunizado já mais de 15,5 milhões de pessoas, das quais 546 mil com uma segunda dose, que é administrada com um intervalo de até 12 semanas.

É também o país com o balanço de mortalidade mais elevado da Europa e o quinto a nível mundial, atrás dos Estados Unidos, Índia, Brasil e México, tendo registado 118.195 óbitos confirmados desde o início da pandemia covid-19.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.408.243 mortos no mundo, resultantes de mais de 109 milhões de casos de infecção.

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