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O que se sabe do ataque da Ucrânia à Rússia com mísseis norte-americanos

Débora Calheiros Lourenço , Leonor Riso 19 de novembro de 2024 às 09:09
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Foram abatidos cinco dos seis mísseis de longo alcance disparados por Kiev. Um deles fragmentou-se e causou um fogo numa área militar. Em resposta, a Rússia baixou os limites para o uso de armas nucleares.

O Ministério da Defesa da Rússia confirmou esta terça-feira um ataque ucraniano com mísseis de longo alcance contra a região de Bryansk. Segundo a agência noticiosa RIA Novosti, foram abatidos cinco dos seis projéteis: um deles ficou apenas danificado e os seus fragmentos causaram um incêndio numa área militar. Porém, não provocaram nem estragos nem vítimas. 

MAXIM SHIPENKOV/Pool via REUTERS

O ataque foi entretanto confirmado por responsáveis norte-americanos e ucranianos ao jornal The New York Times.

A notícia do ataque ucraniano foi dada pela agência noticiosa ucraniana RBC-Ukraine, que cita uma fonte militar que garantiu que o alvo foi atingido com sucesso. A mesma fonte indicou que o alvo foram instalações militares perto de Karachev, na região de Bryansk. Karachev fica a cerca de 130 quilómetros da fronteira ucraniana.

"Realmente, pela primeira vez, usámos ATACMS (sigla para Army Tactical Missile System, ou sistema de mísseis táticos do exército) para atingir território russo. O ataque ocorreu contra instalações na região de Bryansk, e foi atingido com sucesso", adiantou a mesma fonte.

Este ataque surge no dia em que o presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto-lei a alterar a doutrina nuclear, que estabelece que um ataque com mísseis pertencentes a uma potência nuclear pode dar azo a uma resposta com armas nucleares.

O presidente russo autorizou esta terça-feira o uso alargado de armas nucleares.

Esta é uma decisão que surge em resposta à autorização dada por Joe Biden no domingo para que a Ucrânia possa utilizar mísseis de longo alcance norte-americanos na luta contra a invasão russa. A decisão do presidente norte-americano foi tomada nos últimos dois meses de mandato e pretende beneficiar a Ucrânia antes da mudança de presidente. No entanto, a decisão pode ser invertida por Donald Trump quando este se mudar para a Casa Branca, em janeiro do próximo ano.

Já na segunda-feira, o Kremlin tinha considerado imprudente a decisão de Joe Biden e alertou que Moscovo responderá a qualquer ataque. A doutrina nuclear estava a ser revista há alguns meses mas a decisão norte-americana parece ter acelerado a sua assinatura.

Segundo o Kyiv Independent, o decreto presidencial que aprova a nova doutrina nuclear russa foi tornado público hoje e altera os cenários em que Moscovo considera justificável o recurso a armas nucleares. Uma das principais alterações é que passa a ser permitida a resposta nuclear a uma "agressão contra a Federação Russa e os seus aliados por um estado não-nuclear com o apoio de um estado nuclear", bem como ataques não-nucleares de grande escala.

Na sequência desta decisão russa, os EUA já indicaram que não irão mexer na sua política nuclear. Matthew Miller, porta-voz do departamento de Estado, disse aos jornalistas admitiu que a Casa Branca está "incrivelmente" preocupada com a guerra híbrida conduzida pela Rússia. Ainda assim, não veem razões para ajustar a postura nuclear. Os responsáveis americanos pediram ainda à Rússia que acabe com a retórica irresponsável.

Quanto aos parceiros europeus, que não se juntaram a esta autorização dos EUA do uso de mísseis de longo alcance, Washington garante que continuam em contacto próximo sobre este assunto.

Atualizado às 19h30

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