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Puigdemont foi a Barcelona, falou e desapareceu. Já estará em casa

Líder separatista marcou presença junto ao parlamento catalão onde hoje devia tomar posse o novo presidente regional, o socialista Salvador Illa. Falou em público, mas escapou à Operação Jaula que estava montada para o deter. Dois agentes foram detidos.

Carles Puigdemont desafiou o seu mandado de prisão e apareceu esta quinta-feira num comício em Barcelona, depois de sete anos de exílio fora de Espanha. Depois de falar o antigo líder separatista catalão desapareceu deixando a polícia à nora sobre o seu paradeiro. Entretanto dois agentes foram detidos por suspeitas de terem ajudado na fuga.

REUTERS/Lorena Sopena

Ao final da noite, um conhecido separatista catalão, Lluís Llach, escreveu no X que o ex-presidente da Catalunha lhe tinha pedido que transmitisse uma mensagem. "Está bem, salvo e, acima de tudo, LIVRE. Boa noite".

Apesar do forte dispositivo policial, Puigdemont falou a uma multidão de seguidores na capital da Catalunha. No seu discurso, disse-lhes que esperava reavivar o ímpeto independentista que levou a uma crise política em Espanha, em 2017 e assim perturbar a investidura do socialista Salvador Illa, à frente do governo regional.

"Eles pensaram que estariam a celebrar a minha detenção e pensaram que essa punição iria dissuadir-nos e a vocês. Bem, eles estão enganados", afirmou Carles Puigdemont. Depois dirigiu-se aos bastidores, para não voltar a ser localizado, nem pela polícia.

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Ouviu-se nas colunas instaladas um apelo para que a multidão acompanhasse Puigdemont numa caminhada até ao parlamento catalão. Porém, enquanto membros séniores da partido do líder separatista - o Junts - e do partido separatista moderado Esquerra Republicana de Catalunya caminharam em direação ao edifício, Puigdemont entrou num carro branco, que pertencia a um polícia regional e saiu do local.

O porta-voz da polícia local, os Mossos d'Esquadra, anunciou mais tarde que um dos seus agentes tinha sido preso "como parte da investigação ao paradeiro de Puigdemont".

A busca e perseguição ao líder separatista criou o caos no trânsito de Barcelona e na fronteira com França, à medida que as autoridades montaram bloqueios nas estradas e revistaram carros. Mais tarde a Operação Jaula foi cancelada, mas mantiveram-se as buscas.

Puigdemont, de 61 anos, fugiu para a Bélgica há sete anos depois de ter organizado um referendo pela independência, que Madrid alega estar proibido na Constituição espanhola. O ex-eurodeputado enfrenta um mandado de captura por alegado desvio de fundos relacionado com o referendo independentista de 2017, mas insiste que a votação não foi ilegal e que, por isso, as acusações relacionadas com a mesma não têm fundamento.

O debate de investidura do socialista Salvador Illa, como novo presidente da Catalunha, acabando com uma década de governação separatista, foi adiado e retomado às 15h, hora de Lisboa.

Perante esta nova fuga de Puigdemont uma fonte do Supremo Tribunal espanhol garantiu, à Reuters, que as instruções do juiz eram claras e que ele devia ter sido detido. "Os Mossos sabem que têm uma ordem de prisão. O despacho do juiz recordou às forças de segurança do Estado que o mandado de captura nacional por desvio de fundos agravado continuava ativo e que tinham a obrigação de o deter e de o levar a tribunal".

Dois sindicatos nacionais da polícia já criticaram a atuação das autoridades locais. "Onde estavam os Mossos? A força policial mais bem paga de Espanha é incapaz de fazer o seu trabalho, de prender o golpista e fugitivo da justiça Puigdemont", escreveu o Jusapol na rede social X.

Duas fontes ligadas ao governo da Catalunha reconheceram ter havido alguns problemas com elementos dos Mossos d'Esquadra, aparentemente fieis ao separatista.

"Uma humilhação insuportável"

O líder do Partido Popular, na oposição, também acusou o primeiro-ministro Pedro Sánchez de ser o responsável pela situação. Alberto Núñez Feijóo descreveu o caso como uma "humilhação insuportável". "É imperdoável danificar assim a imagem de Espanha", escreveu no X.

Até ao momento, o governo espanhol ainda não comentou a situação. A prisão de Puigdemont poderia colocar em risco o acordo que permitiu a Sánchez formar governo, com o apoio do Junts  em troca de uma leia da amnistia a todos os envolvidos no referendo de 2017.

Apesar da aprovação, em maio, dessa amnistia, o Supremo Tribunal manteve os mandados de prisão para Puigdemont e dois outros acusados já que são suspeitos de desvio de fundos, defendendo que por isso a amnistia não se aplica a eles.

Na quarta-feira, Puigdemont anunciou que ia dar início à sua "viagem de regresso do exílio", dizendo que se mantinha comprometido em estar presente na sessão do parlamento regional, que se iria reunir para a tomada de posse do novo líder. Os socialistas esperam que com a conquista do parlamento regional, possam virar a página do ímpeto independentista local, que governo durante uma década.

Notícia atualizada às 22h57 com a informação de que Puigdemont estava a salvo.

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