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Primeiro-ministro francês demite-se ao fim de 27 dias

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O primeiro-ministro Sébastien Lecornu abandonou o cargo menos de um mês após tomar posse.

O primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, apresentou a sua demissão esta segunda-feira e esta já foi aceite pelo Presidente gaulês, Emmanuel Macron. Lecornu tinha tomado posse há menos de um mês, mais concretamente a 10 de setembro. Lecornu torna-se, assim, o primeiro-ministro com menor mandato na Quinta República francesa.

Sébastien Lecornu mantém feriados em França
Sébastien Lecornu mantém feriados em França

A queda de mais um governo em França adensa o fantasma de uma crise política grave com consequências ao nível da economia. A demissão de Lecornu surge após no domingo ser anunciada a composição do Executivo, com a manutenção de 14 ministros do governo liderado por François Bayrou e o regresso do antigo ministro das Finanças Bruno Le Maire para a pasta da Defesa, a serem criticadas.

A composição do governo "deu origem ao despertar de alguns apetites partidários", lamentou Lecornu numa declaração a partir da residência oficial em Paris, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP). "Ser primeiro-ministro é uma tarefa difícil, sem dúvida ainda mais difícil neste momento. Mas não se pode ser primeiro-ministro quando não existem as condições" para governar, considerou Lecornu, também citado pela agência espanhola EFE.

Lecornu disse que tentou "construir um caminho (...) em questões que anteriormente estavam bloqueadas", como o seguro de desemprego e a segurança social, para "restabelecer a gestão conjunta" e delinear um roteiro para tirar a França da crise.

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O primeiro-ministro demissionário enumerou três razões que o impedem de continuar em funções na declaração que fez à porta de Matigon, a sede do governo. Disse que os partidos políticos "às vezes fingiram ignorar a mudança, a profunda rutura que representava não aplicar o Artigo 49.3 da Constituição", que permite aprovar leis sem o acordo do parlamento. Segundo Lecornu, a renúncia à aplicação do artigo em causa destruía o argumento da censura prévia da Assembleia Nacional.

Em segundo lugar, lamentou que "os partidos políticos continuem a adotar uma postura como se todos tivessem maioria absoluta na Assembleia Nacional". Referiu que, durante as três semanas de negociações que manteve com todo o arco parlamentar, esteve perto de chegar a um acordo, que as "linhas vermelhas estavam a tornar-se laranjas e, por vezes, verdes", e que "estava disposto a ceder". "Mas cada partido político quer que o outro adote a sua plataforma completa", criticou.

Em terceiro lugar, reconheceu que "a composição do governo dentro do núcleo comum", os partidos de centro e de direita que compõem o executivo, "não foi fluida". Essas tensões provocaram "o ressurgimento de alguns desejos partidários, por vezes relacionados (...) com as próximas eleições presidenciais" de 2027, afirmou Lecornu.

O primeiro-ministro demissionário disse que seria preciso pouco para que um governo funcionasse, mas defendeu que para isso seria necessário menos interesses partidários, mais modéstia e "ter em conta o interesse geral".

O presidente Emmanuel Macron já aceitou a demissão de Sébastien Lecornu.

A reação nos mercados foi imediata, com os juros da dívida francesa a 10 anos a agravar-se em 9,1 pontos base, para os 3,597%, o que coloca o "spread" face à rendibilidade das "bunds" alemãs, referência para a Europa, nos 89 pontos base.

Na bolsa, o CAC, que já perdia antes da demissão ser conhecida, acelerou a tendência de queda e recua 1,77%, numa altura em que a maioria das bolsas europeias negoceiam em alta.

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