O português contou que tinha saído com a mulher e, ao regressar a casa, "carregou normalmente para o 13.º andar", onde residia e que outras duas pessoas carregaram no 4º andar. Quando a porta se abriu para deixar sair no quarto piso, "estava ohallde entrada cheia de fumo". Miguel Alves explica que a sua reacção foi sair do elevador, mandar a mulher para fora do prédio e subir até ao 13º andar para ir buscar a filha de 16 anos e o filho de 20. O português explicou que não havia indícios de que fosse um problema tão grave.
Quando subiu, avisou os vizinhos e desceu com estes em segurança. Só depois Miguel Alves se apercebeu que tinha entrado em casa no início do incêndio. "Quando desci, a situação ainda não era assim tão grave. Por isso, questiono porque é que as autoridades não deram o alarme imediatamente, uma vez que já estavam no local quando desci à rua", contou à agência Lusa. Miguel Alves adiantou também que o prédio pertence à autarquia, que há poucos meses recebeu queixas sobre a segurança no edifício. "Faço parte da comissão de residentes que há uns tempos alertou a Câmara para os problemas de segurança, nomeadamente o risco de incêndio. Isto porque o edifício sofreu obras há uns anos. Mudaram janelas e o revestimento exterior para material muito inflamável", disse.
"Perdemos tudo. Todas as pessoas que tinham lá os seus pertences perderam tudo. Perderam-se vidas, muitas vidas, principalmente nos andares superiores", afirmou Francisco Ramos, de 20 anos, um madeirense que residia na Grenfell Tower, em Londres. O músico a estudar na Royal Academy of Music estava fora de casa quando se deu o incêndio.
O jovem não sofreu ferimentos, mas perdeu tudo o que tinha no quarto que ocupava no 13º andar da casa. Foi alertado sobre o incêndio no prédio pelo colega de quarto. Quando chegou ao local onde residia já o prédio estava largamente consumido pelas chamas, sendo impossível entrar para salvar fosse o que fosse. "As pessoas do meu andar acho que tiveram alguma sorte, conseguiram escaparam ilesas. Porém, as dos andares superiores morreram certamente", acredita o madeirense.
"É apenas um edifício, é apenas uma casa, é apenas um lar que perdi. Pedi, é verdade, perdi muitas coisas que eu poupei (...). Porém não é isso que conta, nada. Não se pode desanimar. É uma tragédia, sim. O principal são as vidas que se perderam porque os bens materiais são recuperáveis" disse Francisco, citado pelo Diário de Notícias da Madeira.
O jovem diz que vai ficar com uns amigos que tem na capital inglesa.
Dois portugueses que vivem perto do prédio residencial a arder em Londres, e que fez pelo menos seis mortos, contaram à agência Lusa o caos que se viveu no local, com muitas ambulâncias e fumo durante a noite. Em declarações à Lusa, a portuguesa Adelina Pereira, que vive em Londres há 44 anos, contou que ouviu as sirenes dos bombeiros perto das 2h e não conseguiu dormir mais.
Na rua, Adelina encontrou uma senhora espanhola que vive no edifício, mas que conseguiu sair e que contou ter encontrado uma família de quatro portugueses [um casal e dois filhos] que conseguiram fugir, disse. Adelina Pereira confessou estar "muito assustada com a situação".
Paulo Gouveia, outro português que reside a 10 minutos do edifício, contou também à Lusa sobre a situação que se vive no local e nos arredores. "Vivo a 10 minutos a pé do local. O jardim está cheio de cinzas por causa do incêndio", disse. Paulo Gouveia revelou que a escola do filho, a St Francis Primary School, está fechada por causa do incêndio. "Eu trabalho em Shepherds Bush e nem vou levar o carro. Vou a pé para o trabalho", indicou.
Um homem que saiu do 17.º andar foi alertado pela chegada de carros de bombeiros. "Vimos os carros dos bombeiros, por isso olhámos lá para fora para ver o que se passava. Não havia alarmes de incêndio em lado nenhum, porque não temos um sistema integrado – cada casa tem o seu. Viemos para a área comum para ver se havia elevadores a funcionar, para ver se as pessoas estavam agitadas - nada. Mas conseguia cheirar o fumo", disse. "Voltei para casa, olhei pela janela. Comecei a olhar para baixo – tive mesmo de me pôr de fora para olhar pela janela, do 17.º piso, e vejo o fogo a avançar mesmo rápido, por causa do revestimento – era mesmo inflamável, e ardeu como um fósforo." Conseguiu sair com a tia, de 68 anos.
Um dos moradores da torre disse ter ouvido o alarme de incêndio de um vizinho e que só percebeu que algo se passava quando ouviu gritos. "Tenho sorte em estar vivo – e muitas pessoas não saíram do edifício. Perdi tudo o que tenho. Estou a usar agora tudo o que me restou", lamentou.
Siar Naqshanbandi mora no terceiro piso e estava na rua quando o fogo começou: "Eu voltei cerca das 1h45 e vi que o edifício estava em chamas. Eu telefonei [ao irmão] e disse-lhe, sai daí". Tem família no 23.º piso e o tio ainda está desaparecido. "Eles estavam a dizer às pessoas para não saírem do edifício. Eu disse-lhes para descerem. Eles disseram que não tinham permissão para sair", recorda.
David Benjamin, ouvido pelo jornal The Guardian, estava a dormir no apartamento da namorada, que fica no quarto andar. De repente alguém lhe bateu à porta e um vizinho gritou fogo. Por momentos, David pensou que estaria mais seguro dentro do apartamento. "Calçámos os ténis, saímos e vimos pessoas a correr. Havia fumo espesso. O nosso vizinho disse-nos para sair, por isso fizemo-lo e descemos à pressa pelas escadas", afirmou David.
Ahmed Chellat ainda procura o cunhado, a mulher e três crianças. "Nós não sabemos o que se passou. Eu pedi-lhe para sair e ele não conseguia. Aconselharam-no a colocar toalhas junto às portas e ele disse que os bombeiros o vinham buscar. A última vez que falámos com eles foi por volta das 2h30. Ele disse que os bombeiros vinham ter com ele", explica.
À BBC, Mickey contou ter posto a filha debaixo do robe para fugirem das chamas.
O canal britânico também recolheu um outro testemunho, de um anónimo. "Ouvia-se pessoas a gritar ‘ajudem-me, ajudem-me’. Havia pessoas a atirar os filhos pelas janelas, gritavam ‘salvem os meus filhos’. Os bombeiros diziam ‘fiquem onde estão, nós vamos buscar-vos’.