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ONU pede abertura de uma investigação após a morte de 19 manifestantes no Nepal

Incidente levou a que o ministro do Interior nepalês, Ramesh Lekhak, apresentasse esta segunda-feira a sua demissão.

As Nações Unidas apelaram esta segunda-feira a uma investigação "rápida e transparente" sobre a morte de 19 pessoas no Nepal numa manifestação, após intervenção policial para a dispersar.

Manifestações no Nepal
Manifestações no Nepal AP Photo/Niranjan Shrestha

"Estamos chocados com os mortos e feridos entre os manifestantes no Nepal e apelamos a uma investigação rápida e transparente", escreveu Ravina Shamdasani, porta-voz do Escritório dos Direitos Humanos da ONU, num comunicado.

O incidente levou a que o ministro do Interior nepalês, Ramesh Lekhak, apresentasse esta segunda-feira a sua demissão por "razões éticas", de acordo com a agência de notícias espanhola EFE.

A demissão foi entregue ao primeiro-ministro, Sharma Oli, durante uma reunião de gabinete na residência oficial de Baluwatar, conforme confirmado pelo membro do Congresso nepalês Rajendra Bajgain.

A demissão ocorre após um dia de distúrbios que se espalharam de Katmandu para várias das principais cidades do país e provocaram pelo menos 19 mortos e mais de 347 feridos, muitos deles com ferimentos graves de bala na cabeça e no peito, de acordo com dados hospitalares compilados pela agência EFE.

Um balanço anterior dava conta de pelo menos 10 mortos.

Dezenas de milhares de manifestantes terem saído hoje às ruas da capital do Nepal para expressar a sua indignação contra a decisão das autoridades de bloquear a maioria das plataformas de redes sociais, incluindo o Facebook, o X e o YouTube, alegando que as empresas não se registaram e não se submeteram à supervisão governamental.

"Recebemos várias alegações profundamente preocupantes de uso desnecessário ou desproporcionado da força por parte das forças de segurança", afirmou ainda a porta-voz da ONU.

A polícia disparou gás lacrimogéneo e canhões de água, mas estava em inferioridade numérica e procurou segurança dentro do complexo do parlamento.

"Apelamos às autoridades para que respeitem e garantam o direito de reunião pacífica e a liberdade de expressão", acrescentou Shamdasani, insistindo que "todas as forças de segurança devem respeitar os princípios básicos relativos ao uso da força e das armas de fogo".

Os manifestantes atravessaram arame farpado e obrigaram a polícia de choque a recuar enquanto cercavam o edifício do parlamento.

A manifestação foi chamada de protesto da 'Geração Z', referindo-se às pessoas nascidas entre 1995 e 2010 por terem sido estes os jovens que constituíram os principais objetores à decisão governamental.

Cerca de duas dezenas de plataformas de redes sociais amplamente utilizadas no Nepal receberam repetidamente notificações para registar as suas empresas oficialmente no país, informou o Governo.

As que não se registaram estão bloqueadas desde a semana passada.

A medida tem sido amplamente criticada pelos opositores do Governo nepalês e por organizações de defesa dos direitos humanos, que classificam a lei como uma restrição à liberdade de expressão e censura. 

Durante dias vários manifestantes foram recorrendo às redes sociais para protestarem com 'hashtags' como "NepoKid" e "NepoBabies", denunciando o nepotismo - a prática de favorecer familiares ou pessoas próximas no acesso a cargos e empregos - e uma cultura política em que, segundo eles, as oportunidades são herdadas em vez de serem conquistadas por mérito.

A dimensão das manifestações levou as autoridades a decretar o recolher obrigatório em várias zonas da capital a partir das 15:30 locais (09:45 em Lisboa), mas os confrontos continuaram durante a noite e estenderam-se a outros distritos.