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Onda de calor no Rio de Janeiro. Por que são quebrados os recordes?

Gabriela Ângelo 21 de fevereiro de 2025 às 12:15
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A capital fluminense já superou a marca dos 40 graus várias vezes, mas pela primeira vez, foi acionado o nível quatro do protocolo municipal de calor extremo.

Os próximos dias de verão deverão ser mais amenos no Rio de Janeiro, que acaba de terminar uma semana de intenso calor que levousistema de alerta do município a registar uma temperatura de 44ºC na zona oeste da cidade, na segunda-feira, 17. É a mais alta registada desde 2014. O recorde anterior foi de 43,8ºC em novembro de 2023, um dia depois de uma fã de Taylor Swift ter morrido por exaustão num dos seus concertos da cidade brasileira. 

Praia Rio de Janeiro
Praia Rio de Janeiro Jo'o Gabriel Alves/AP

Estavam previstas sensações térmicas para dia 17 que podiam chegar aos 60ºC, mas acabou por ficar pelos 42ºC, segundo o site G1. Mesmo assim, os serviços do município acionaram pela primeira vez o nível 4 do protocolo municipal de calor extremo. 

"Esperamos o verão mais quente dos últimos anos", confessou o secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, à Agence France Presse. "Em janeiro, mais de 3 mil pessoas foram atendidas nos serviços municipais de emergência devido ao calor intenso", recordou, atribuindo esta procura de serviços de saúde a queimaduras solares e desidratação. 

A Organização Meteorológica Mundial e o Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil indicam que para haver uma onda de calor, tem de se verificar cinco graus de temperatura acima da média histórica dependendo do local e da altura do ano. 

À BBC Brasil, Renata Libonati, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que as ondas de calor surgem devido a um bloqueio atmosférico, um sistema de alta pressão que inibe a formação de nuvens e impede a chegada de uma frente fria. A ocorrência desse fenómeno durante vários dias começa a aumentar a temperatura, que acaba por ser sentida de forma diferente, dependendo da região ou da zona do país em que se encontra. 

A especialista explica que "uma onda de calor em uma área rural, vegetada ou em uma região de floresta será menos intensa do que em uma zona urbana", uma vez que "em áreas com mais vegetação, o solo retém mais humidade, o que ajuda a equilibrar a temperatura". Nas cidades, "onde há menos vegetação e mais asfalto, o solo seca mais rápido e absorve mais calor, fazendo com que a temperatura do ar fique mais alta, agravando a sensação de calor extremo". 

Com o planeta a ficar cada vez mais quente, a frequência com a qual estas ondas de calor acontecem, vai aumentar. "Para você ter ideia, antes do período pré-industrial, quando ainda não havia aquecimento global, um evento extremo de calor ocorria uma vez a cada 10 anos". Agora, com o aquecimento global, "esses eventos agora ocorrem quatro vezes durante o mesmo período", alertando que  "se a temperatura média global subir para quatro graus acima do normal, esses eventos ocorrerão 9,4 vezes a cada 10 anos". 

E com o aumento da frequência dessas ondas de calor, surge também um aumento da sua intensidade. "Com 1,5ºC de aquecimento global, há um aumento de quase dois graus na intensidade das ondas de calor. Se o aquecimento atingir os quatro graus, essas ondas de calor podem ser mais de cinco graus mais intensas do que o normal", sendo um exemplo de como o aquecimento global acaba por aumentar a frequência e a intensidade. 

Ainda o facto do Rio de Janeiro ser uma urbanização crescente, leva à criação de uma ilha de calor urbano, o que intensifica e prolonga as ondas de calor. "A região metropolitana do Rio de Janeiro cresceu muito nas últimas décadas e hoje apresenta uma ilha de calor urbano bastante intensa", explica Renata, o que significa que durante estes momentos, "o fenómeno exacerba ainda mais as temperaturas, que já estão elevadas". 

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