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Macron mergulha política francesa no "caos"

Diogo Barreto
Diogo Barreto 28 de agosto de 2024 às 07:00
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A direita não aprova um governo de esquerda e a esquerda acena com um processo de destituição ao presidente. A estabilidade política francesa desejada por Macron parece cada vez mais distante.

Continua a instabilidade política em França e desta vez é o Eliseu que vê a sua posição enfraquecida. O presidente francês, Emmanuel Macron, excluiu um governo da coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP), afirmando que o mesmo iria contribuir para a destabilização do país. Macron anunciou que iria continuar a ouvir os partidos para que consigam encontrar uma outra solução, o que lhe valeu várias críticas e até motivou pedidos de destituição por parte da esquerda e anúncios de manifestações a nível nacional. Socialistas acusam Macron de, propositadamente, promover o caos.

"O presidente constatou que um governo baseado unicamente no programa e nos partidos propostos pela aliança com mais deputados, a Nova Frente Popular, seria imediatamente censurado por todos os grupos representados na Assembleia Nacional", anunciou o Eliseu em comunicado onde se justificava a nega ao governo formado por esta aliança de esquerda. Depois da reunião de segunda-feira, os partidos de direita disseram a Macron que iriam votar contra qualquer candidato a primeiro-ministro apresentado pela NFP. Marine Le Pen descreveu este bloco de esquerda como "um perigo" para França. Macron apelou então a que três partidos da coligação de esquerda - os socialistas, os verdes e os comunistas - dialogassem com outros partidos para conseguirem uma maioria, deixando de fora do apelo o Frente Insubmissa, o maior partido deste bloco de esquerda. No entanto, o líder dos socialistas, Olivier Faure, disse que não ia contribuir para esta "paródia de democracia" e Marine Tondelier dos Verdes afirmou que o seu partido não ia ajudar a prolongar "este circo".

O líder da França Insubmissa, Manuel Bompard, denunciou "uma inaceitável tomada de poder antidemocrática" por parte de Macron e questionou-o sobre qual a solução que antevê para que se consiga uma maioria na Assembleia Nacional. E ameaçou um processo de destituição do chefe de Estado por Macron ter, alegadamente, "usurpado os poderes que lhe pertencem".

Os líderes da NFP anunciaram, numa declaração conjunta, que só voltariam ao Eliseu para discutir um governo de coabitação com a candidata da aliança Lucie Castets como primeira-ministra. "O Presidente da República deve agora agir e nomear Lucie Castets", afirmam os representantes dos quatro partidos da aliança, três dias após a sua reunião com Macron, referindo que o Presidente francês continua a "procrastinar" na nomeação de um primeiro-ministro. Mas isso não impediu Macron de ter lançado esta terça-feira uma nova ronda de consultas para encontrar um primeiro-ministro, afirmando que é sua responsabilidade "fazer com que o país não fique bloqueado nem enfraquecido".

Nas eleições de julho, os resultados deram o bloco de esquerda como o mais votado com 190 lugares, seguido pelo bloco de centro (apoiado por Macron) com 160 e por fim pela extrema-direita com 140. As negociações antecipavam-se difíceis e resultaram infrutíferas. "Nesta fase sem precedentes da Quinta República, com as expectativas dos franceses em alta, o chefe de Estado apela a todos os líderes políticos que estejam à altura da ocasião e demonstrem o seu espírito de responsabilidade", apelou o Eliseu em comunicado quando convocou de novo os líderes a reunirem com o presidente. Mas o NFP já anunciou que não iria marcar presença nas negociações já que conquistou o maior número de lugares e só participará se Macron lhe garantir a liderança do governo.

Macron foi eleito até 2027, mas Jean-Luc Mélenchon, o líder da Frente Insubmissa, afirma que se não aprovar o governo, irá ter de enfrentar uma moção de censura e um processo de destituição. Apelou ainda a uma grande mobilização popular marcada para 7 de setembro, convocando os mais novos para que participem em massa. O líder dos comunistas, Fabien Roussel, pediu que todos os franceses protestem nas suas cidades e vilas e Olivier Faure anunciou que se vai juntar a este protesto, caso o mesmo avance. "Não estou à procura de caos, mas ele está a ser criado pelo chefe de estado", acusou o socialista.

REUTERS/Gonzalo Fuentes
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