A menina viajava num carro com o tio, a mulher e os seus quatro primos, para fugir dos combates no norte de Gaza, quando foram alvos de fogo israelita.
Hind Rajab, de seis anos, que estava desaparecida na cidade de Gaza desde 29 de janeiro, foi encontrada morta juntamente com os seus familiares e dois paramédicos que a tentaram resgatar, após ficarem sob fogo de tanques israelitas.
Há cerca de duas semanas, a criança viajava num carro com o tio, a mulher e os seus quatro primos para fugir dos combates no norte de Gaza, quando foram alvos de um ataque israelita.
No sábado, dia 10 de fevereiro, os paramédicos do Crescente Vermelho Palestiniano (PRCS) conseguiram ao fim de duas semanas chegar à zona que anteriormente estava encerrada por ser considerada pelos israelitas uma zona de combate ativa.
Quando chegaram a Gaza, encontraram o carro Kia preto onde viajava Hind Rajab e os seus familiares totalmente destruído e com orifícios de bala espalhados pela sua lateral.
Hind Rajab estava entre os seis corpos encontrados dentro do carro, com sinais de tiros e bombardeamento. A poucos metros de distância, estava a ambulância da PRCS que tinha ido resgatar a criança, e que também foi atingida. Yusuf al-Zeino e Ahmed al-Madhoun, os paramédicos que seguiam na ambulância, morreram.
Em comunicado, a PRCS acusa Israel de ter deliberadamente atacado a ambulância assim que esta chegou ao local.
"A ocupação [israelita] visou deliberadamente a tripulação do Crescente Vermelho, apesar de ter obtido uma coordenação prévia para permitir que a ambulância chegasse ao local para resgatar a criança Hind", afirmou a organização.
"Recebemos a coordenação, recebemos luz verde", disse a porta-voz da PRCS, Nibal Farsakh, à BBC. "À chegada, a equipa confirmou que conseguia ver o carro onde Hind estava presa e que a conseguia ver. A última coisa que ouvimos foi um tiroteio contínuo."
As gravações das conversas de Hind Rajab com os operadores de chamadas deram origem a uma campanha para descobrir o que lhe tinha acontecido. Há duas semanas que os palestinianos exigiam respostas sobre o destino de Hind Rajab.
O que aconteceu a 29 de janeiro?
Há cerca de duas semanas, a família de Hind Rajab, o tio, a mulher e os seus quatro primos, estavam em fuga quando foram surpreendidos por tanques israelitas.
Layan Hamadeh, prima de 15 anos de Hind Rajab, entrou em contacto com os serviços de emergência para pedir ajuda. "Estão a disparar contra nós, o tanque está mesmo ao meu lado", ouve-se a jovem na chamada com o paramédico. "Estamos no carro, o tanque está mesmo ao nosso lado."
Entretanto, deixa-se de ouvir a jovem e os tiros cessam. A agente da organização, que estava ao telefone, chama Layan Hamadeh repetidamente, mas não voltou a obter resposta. O PRCS acredita que as outras seis pessoas que estariam no carro com Hind Rajab foram mortas.
Hind Rajab, que se encontrava sozinha e encurralada num carro com os corpos dos familiares, também ligou para a associação para pedir ajuda. "Venham buscar-me. Vêm buscar-me? Estou tão assustada, por favor, venham."
Os agentes da organização ficaram ao telefone com a criança durante cerca de três horas enquanto tentavam arranjar uma equipa disponível para a procurar. Durante estas horas, foi estabelecido contacto com a sua mãe, Wissam Hamada, que foi conectada à chamada. "Perguntei-lhe onde estava ferida, depois distraí-a lendo o Alcorão com ela e rezámos juntas", disse à BBC. "Ela repetia cada palavra que eu dizia depois de mim."
A última coisa que se ouviu na chamada de Hind Rajab com a sua mãe foi que ela conseguia ver uma ambulância ao longe, e o som da porta do carro a ser aberta.
A ambulância chegou ao local horas mais tarde do início da chamada, já que os militares israelitas fecharam o acesso à zona que foi considerada militar. Qualquer pessoa que se aproximasse do local corria o risco de ser alvejada.
Ministério da Saúde exige respostas
O Ministério dos Negócios Estrangeiros e dos Expatriados palestiniano referiu que considera o governo israelita "total e diretamente responsável" pelas vidas de Hind Rajab e dos dois paramédicos, Yousef Zieno e Ahmed Almadhoun, que a foram socorrer.
As equipas de salvamento palestinianas têm vindo a enfrentar decisões difíceis em Gaza, após quase quatro meses de guerra, sob intensos bombardeamentos israelitas, fortes restrições à sua circulação e frequentes cortes nas comunicações.
"A história de Hind e Layan é uma das centenas de chamadas que as nossas equipas recebem diariamente", disse o porta-voz do PRCS, Nebal Farsakh. "Em muitos casos, não podemos ajudar porque a ocupação, onde quer que haja tanques, declara a área como zona militar, apesar da presença de civis."
A mãe de Hind Rajab estava desde o seu desaparecimento à porta do hospital de Gaza, na esperança que a filha chegasse "a qualquer momento". Após a morte de Hind, exige que alguém seja responsabilizado.
"Por todas as pessoas que ouviram a minha voz e a voz suplicante da minha filha, mas não a salvaram, eu questioná-las-ei perante Deus no Dia do Juízo", disse Wissam Hamada à BBC. "Netanyahu, Biden e todos aqueles que colaboraram contra nós, contra Gaza e o seu povo, rezo contra eles do fundo do meu coração."
A ofensiva de Israel na Faixa de Gaza - na sequência do ataque do grupo terrorista Hamas que fez 1.200 mortos e mais 200 reféns - já matou desde o início da guerra mais de 27 mil pessoas, de acordo com o ministério da Saúde do enclave controlado pelo grupo extremista. Também desencadeou uma crise humanitária em todo o território palestiniano, tendo obrigado cerca de dois milhões de pessoas a abandonarem as suas casas, segundo os dados das Nações Unidas.
Artigo atualizado às 17h46 com a informação da morte de Hind Rajab.
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