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Governo afegão diz que semana passada foi a mais mortal em 19 anos de conflito

22 de junho de 2020 às 12:14
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Pico de violência, cujos números são rejeitados pelos insurgentes, ocorre numa altura em que estão prestes a começar negociações entre Cabul e os talibãs pela primeira vez em quase duas décadas de conflito.

O governo afegão anunciou, esta segunda-feira, que a semana passada foi a mais mortal para as suas forças de segurança em 19 anos de conflito, referindo que os ataques talibãs provocaram 291 mortos e 550 feridos, números rejeitados pelos insurgentes.

"A semana passada foi a mais mortal dos últimos 19 anos. Os talibãs cometeram 422 ataques em 32 (das 34) províncias; mataram 291 membros das Forças de Segurança Afegãs (ANDSF) e feriram 550", referiu o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Javid Faisal.

Os ataques provocaram também a morte a 42 civis e deixaram 106 civis feridos, segundo dados do Governo.

Este pico de violência, cujos números são rejeitados pelos insurgentes, ocorre numa altura em que estão prestes a começar negociações intra-afegãs, entre Cabul e os talibãs, pela primeira vez em quase duas décadas de conflito.

As duas partes concordaram em realizar as negociações no Catar, onde, em fevereiro passado, os fundamentalistas islâmicos chegaram a um acordo com os Estados Unidos, através do qual as tropas dos EUA e os seus aliados deixarão o Afeganistão em 14 meses.

"Estamos surpresos. Em vez de ter sido uma semana de paz, em que (os talibãs) deveriam estar a trabalhar pela paz, não houve nenhum passo em direção à paz e até foram aumentados os atos de guerra a um nível sem precedentes nos últimos 19 anos", criticou Faisal.

"O compromisso dos talibãs de reduzir a violência é vazio e as suas ações são inconsistentes com a retórica da paz", acrescentou, sublinhando que o aumento da violência terá efeito no processo de paz.

O Conselho de Segurança Nacional foi mais explícito e enfatizou, num comunicado hoje divulgado, que "esta onda (de violência) deve terminar o mais rapidamente possível (porque) sem reduzir a violência, o trabalho para alcançar a paz enfrentará problemas e será adiado".

Para os talibãs, "a publicação destes relatórios pelo inimigo visa prejudicar, criar obstáculos e atrasar o processo de paz", disse o porta-voz dos insurgentes, Zabihullah Mujahid, reagindo a dados que, assegurou, "são falsos".

"Eles nunca publicaram o número real de vítimas nos últimos 19 anos, mas agora estão a aumentar de 50 para 500 (o número de vítimas) para criar problemas. Esta quantidade de ataques não foi realizada na última semana. Houve ataques, mas foram atos defensivos", assegurou Mujahid.

O porta-voz dos talibãs adiantou ainda que, durante a semana passada, houve três confrontos significativos: um na província de Jawzjan (norte), no qual, segundo referiu, morreram 20 membros das forças afegãs; outro em Kalpisa (nordeste), no qual morreram 17 soldados; e outro em Helmand (sul), no qual morreram 24.

"Em todos esses confrontos, os nossos 'mujahideen' (combatentes) estavam em posição defensiva e responderam apenas aos ataques do inimigo", garantiu Zabihullah Mujahid, acrescentando que, embora "possa ter havido outros pequenos confrontos, o inimigo não sofreu muitas baixas", pelo que "as suas declarações são falsas".

O Governo também garante que mantém uma "posição defensiva" desde a trégua que ambas as partes realizaram entre 24 e 27 de maio, coincidindo com as comemorações do final do mês sagrado muçulmano do Ramadão e com o objetivo de abrir caminho às negociações intra-afegãs.

Este novo contratempo surge numa altura em que talibãs e Governo estão também a tentar concluir o processo de libertação de prisioneiros - 5.000 talibãs nas mãos do Governo e 1.000 membros das forças de segurança - que foi iniciado durante a trégua, mas já foi alvo de inúmeras dificuldades.

A polémica troca de prisioneiros tem sido a principal razão para o atraso do início das negociações internas.

Até ao momento, o Governo já libertou mais de 3.000 insurgentes, enquanto os radicais islâmicos libertaram 500 membros das forças de segurança.

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