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Ex-alto funcionário russo afirma que Putin vive "patologicamente amedrontado"

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 06 de abril de 2023 às 09:53
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Gleb Karakulov foi capitão do Serviço Federal de Proteção, um órgão responsável pela segurança dos funcionários de topo da Rússia, afirma que existem várias medidas projetadas para esconder o paradeiro do presidente russo.

Um alto funcionário de segurança russo, que fugiu o ano passado do país, revelou detalhes sobre o estilo de vida do presidente Vladimir Putin, confirmando a existência de uma rede secreta de comboios, escritórios iguais em diferentes cidades e vários protocolos de segurança.

Sputnik/Alexei Babushkin/Kremlin via REUTERS

Gleb Karakulov foi capitão do Serviço Federal de Proteção, um órgão responsável ppela segurança dos funcionários de topo da Rússia, afirma que existem várias medidas projetadas para esconder o paradeiro do presidente do país, que considerou como "patologicamente amedrontado pela sua vida".

As informações foram reveladas através de uma entrevista ao Dossier Center, uma empresa de informação política fundada pelo bilionário russo Mikhail Khodorkovsky, que se encontra exilado, e confirmou que viajou várias vezes com Putin enquanto membro da "equipa de campo" da Direção Presidencial de Comunicações.

Esta "equipa de campo" era responsável por criptografar as mensagens das principais autoridades russas e estima que tenha acompanhado mais de 180 viagens das principais autoridades.

Putin vive isolado e com medo

"O nosso presidente perdeu o contacto com o mundo. Tem vivido num casulo de informações nos últimos dois anos, passando a maior parte do tempo nas suas residências, que os meios de comunicação muito apropriadamente chamam debunkers. Está patologicamente com medo pela sua vida. Cerca-se de uma barreira impenetrável de quarentenas e um vácuo de informações. Só valoriza a sua própria vida e a vida dos seus familiares e amigos", acusou o ex-capitão.

O medo com que afirma que Putin vive leva-o a ter funcionários para testarem os alimentos e engenheiros que o acompanham nas suas viagens ao estrangeiro para o protegerem constantemente. "Chamam-no de chefe, adoram-no de todas as maneiras possíveis e nunca se dirigem a ele sem ser nesses termos", revelou.

Segundo o revelado na entrevista, Putin tem uma forte dependência das informações recolhidas pelos seus serviços de segurança, especialmente porque não utiliza telemóvel nem internet e não trabalha com nenhum especialista vindo de fora da Rússia. Gleb Karakulov considera que este conjunto de fatores o levam a "viver num vácuo de informações".

Putin ainda se encontra em quarentena e exige que todos os funcionários que frequentam a mesma sala que ele façam também uma quarentena de semanas, o que limita bastante o número de funcionários com que tem contacto.

O comportamento do presidente russo terá alterado significativamente desde o início da pandemia, quando Putin praticamente deixou de fazer viagens e aparições públicas. Gleb Karakulov afirmou que a partir desse momento "a sua visão da realidade tornou-se distorcida".

Escritórios iguais

Gleb Karakulov revelou que o líder russo usa escritórios idênticos em São Petersburgo, Sochi e Novo-Ogaryovo para que qualquer comunicação oficial gravada não seja identificada. Além disso, os serviços secretos anunciam falsos voos para parecer que Putin vai estar no exterior: "Este é um estratagema para confundir a inteligência estrangeira, em primeiro lugar, e em segundo lugar para evitar qualquer atentado contra a sua vida", explicou.

Rede ferroviária secreta

Anteriormente o Proekt, centro de jornalismo de investigação independente russo, já tinha avançado a existência de um comboio apenas para o presidente russo e uma rede ferroviária secreta, que incluiu linhas paralelas e estações próximas da residência de Putin em Novo-Ogaryovo, na região de Moscovo, e da sua residência em Bocharov Ruchei, em Sochi. Gleb Karakulov confirmou também estas informações.

Durante a mesma entrevista, Gleb Karakulov considerou Putin um "criminoso de guerra" e fez um apelo para que os seus colegas ainda no ativo tornem públicas as informações que estão a ser escondidas do povo russo.

Gleb Karakulov considerou a sua fuga arriscada, uma vez que ocorreu enquanto acompanhava Putin a uma visita ao Cazaquistão. A sua mulher e a sua filha voaram da Rússia para Astana, capital do Cazaquistão, e quando a comitiva de Putin estava no aeroporto para regressar, Gleb Karakulov disse aos seus colegas que não se estava a sentir bem e encontrou-se com a família para fugir. O seu paradeiro atual é desconhecido.

Atualmente Gleb Karakulov é classificado como um dos homens procurados pelo Ministério da Administração Interna da Rússia.

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