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Eleições municipais na Turquia: vai Erdogan recuperar Istambul?

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 31 de março de 2024 às 10:00
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A importância estratégica de Istambul e o seu financiamento de anual de 14,78 mil milhões de euros dá aos partidos que a controlam uma especial importância a nível nacional.

Milhões de turcos são este domingo chamados às mesas de votos para decidirem quem vai governar as suas principais cidades. O país conta com quase 85 milhões de habitantes distribuídos por 81 províncias. Esta é uma eleição de especial importância para Erdogan que tenta recuperar o controlo das principais metrópoles, perdido nas eleições de 2019.

Istambul é principal potência económica e social do país e foi governada nos últimos cinco anos por Ekrem Imamoglu, do Partido Republicano do Povo, que conseguiu quebrar 25 anos de liderança do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), ao qual o atual presidente turco pertence.

Na realidade, durante estes 25 anos a oposição chegou a conseguir derrotar o AKP por duas ocasiões mais o partido no poder alegou que tinham existido irregularidades e as autoridades acabaram por ordenar uma nova candidatura, que terminou das duas vezes com uma reeleição do AKP.

Assim, Istambul assume nestas eleições um papel de especial importância como um tubo de ensaio sobre o poder que a oposição pode ter no país, uma vez que em 2019 o Partido Republicano do Povo não conquistou apenas Istambul mas também a capital Ancara e a cidade turística de Antalya.

Istambul é casa para um quinto da população turca e conta com um eleitorado bastante diversificado com diferentes origens políticas, étnicas, religiosas e económicas pelo que é difícil prever o comportamento da população. Segundo o Supremo Conselho Eleitoral podem votar na cidade 11 milhões de pessoas e a adesão às eleições costuma ser de 90%.

Nos últimos cinco anos Ekrem Imamoglu teve de enfrentar uma crise económica que assombrou a cidade e depois do sismo do ano passado que causou mais de 53 mil mortos, os receios de que possa ocorrer um terramoto na cidade têm vindo a aumentar. Ainda assim durante a campanha eleitoral o candidato destacou ter conseguido estender o sistema ferroviário da cidade, ter criado mais espaços verdes e aprovado um importante programa para a construção de mais habitação.

Em 2019, Ekrem Imamoglu contou com o apoio de uma coligação formada por seis partidos (de nacionalistas, secularistas, liberais, conservadores, islamistas e curdos). No entanto, durante o mandato foi perdendo esses apoios, apresentando agora os seus próprios candidatos, ainda assim as sondagens dão uma pequena vantagem a Imamoglu.

Istambul recebe mais financiamento do que qualquer outra cidade turca, com um orçamento de 14,78 mil milhões de euros (516 mil milhões de liras), para 2024, enquanto a segunda cidade, Ancara, tem apenas 2,6 mil milhões de euros. Por isso, o controlo das grandes cidades pode dar aos partidos que as controlam uma especial importância a nível nacional.

A realidade é que Erdogan está no poder há mais de 20 anos, primeiro como primeiro-ministro e desde 2014 como presidente, ainda que na sua última reeleição tenha consigo uma vitória com apenas 52,18% dos votos. Entre 1994 e 1998 Erdogan chegou mesmo a ser presidente da câmara da cidade que une a Europa com a Ásia e conta com mais de 14 milhões de habitantes.

No início deste mês Erdogan, de 70 anos, afirmou que estas eleições municipais seriam as últimas eleições em que participava, uma vez que a constituição apenas permite três mandatos presidenciais, e prometeu a sua reconquista: "Istambul será devolvida ao seu verdadeiro dono". Os analistas têm também considerado a possibilidade do líder turco estar à procura da validação necessária, através da cidade de Istambul, para alterar a constituição de forma a conseguir estender o mandato presidencial.

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