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Dezenas de ativistas detidos em Londres por apoiarem grupo pró-Palestina

Lusa 17:40
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Ativistas foram detidos durante um protesto pacífico e silencioso esta tarde.

Dezenas de apoiantes do grupo britânico Ação Palestina estão a ser detidos em Londres após ignorarem os apelos para não se manifestarem dias depois do ataque terrorista contra uma sinagoga em Manchester na quinta-feira.

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Os ativistas foram detidos durante um protesto pacífico e silencioso esta tarde, enquanto estavam sentados em Trafalgar Square, no centro da capital britânica, a segurar cartazes onde se lia "Eu oponho-me ao genocídio, eu apoio Ação Palestina". 

A organização Defend Our Juries estimou terem aderido cerca de mil manifestantes, abaixo do objetivo de 1.500, que arriscam penas até 14 anos de prisão por demonstrar apoio ao grupo declarado terrorista em julho pelo Governo britânico. 

Um dos manifestantes, Graham Pheby, afirmou à Agência Lusa que espera ser preso. 

"Quero entupir o sistema e os tribunais para mostrar o absurdo da situação", justificou, argumentando que "a proibição do Ação Palestina é ilegal" porque "é um ataque à liberdade de expressão". 

Pheby disse ter viajado propositadamente de Manchester, no norte de Inglaterra, para o protesto, o primeiro em que participa desde as manifestações estudantis em 1968 contra a guerra do Vietname.  

"É triste ver os noticiários sobre Gaza, é quase traumático. Soube desta manifestação pelas redes sociais e decidi juntar-me", indicou. 

Pelas 15:45, a polícia já tinha detido 175 pessoas, incluindo seis que tinham segurado uma grande faixa na ponte de Westminster, perto do parlamento, onde se lia "Eu oponho-me ao genocídio, eu apoio Ação Palestina". 

No mês passado, só num dia, em 06 de setembro, 857 manifestantes foram detidos por mostrarem apoio à Ação Palestina. 

A praça onde o principal protesto se realizou foi rodeada de um forte dispositivo de segurança, com dezenas de polícias e carrinhas encarregues de levar as pessoas detidas, a maioria das quais teve de ser carregada fisicamente pelos agentes.  

Os organizadores instruíram os manifestantes a não resistir à detenção, mas a fazerem-se "moles" porque "acrescenta dramatismo visual" ao protesto e "é uma continuação da resistência civil".

Cada uma das detenções foi acompanhada por aplausos de outros manifestantes no local e gritos como "Liberdade para a Palestina" ou "Resistência é justificada enquanto a Palestina estiver ocupada". 

Solidário com o protesto, mas sem empunhar um cartaz, Daniel disse à Lusa que se juntou para "apoiar o levantamento da proibição do Ação Palestina". 

"É a única organização que teve impacto na perturbação do fornecimento de armas a Israel. Este é um protesto contra o papel do governo no genocídio e pela liberdade de expressão", salientou.

A manifestação realizou-se apenas dos apelo feitos pela polícia e pelo Governo para o protesto ser adiada devido à escassez de recursos policiais, mobilizados para defender sinagogas, e por respeito às vítimas do ataque de quinta-feira em Manchester. 

Um porta-voz da organização Defend Our Juries afirmou que cancelar um protesto pacífico "para defender a nossa democracia e opor-se à violência e à opressão significaria o terrorismo ganhava".

Líderes judaicos no Reino Unido condenaram a realização de protestos pró-Palestina e o primeiro-ministro, Keir Starmer, exortou os manifestantes a "respeitarem o luto dos judeus britânicos".

O comissário da Polícia Metropolitana de Londres, Mark Rowley, afirmou que os protestos corriam o risco de "endossar o antissemitismo" e prejudicar a capacidade da força policial de proteger os londrinos numa altura de maior risco.

"Nós estamos solidários com as vítimas do ataque na sinagoga em Manchester. Mas segurar um pedaço de papel não é terrorismo, isto não tem nada a ver com antissemitismo ou judeus", argumentou Daniel.

Outra manifestante, Mary, que viajou 170 quilómetros desde Stroud, no sudoeste de Inglaterra, confiou à Lusa que optou por não carregar um cartaz de apoio à Ação Palestina com receio de perder o emprego como professora. 

No entanto, identifica-se com a causa, alegando que "o Reino Unido é cúmplice do genocídio em Gaza porque fornece peças para os aviões F-35 usados para matar palestinianos". 

Na sua opinião, o evento não deve ser relacionado com o ataque em Manchester e a lei antiterrorismo não devia ser usada para "reprimir e silenciar" movimentos de protesto. 

Presente no local, Sarah Cotte, do grupo "Combate ao Racismo Combate ao Imperialismo", defendeu que "as detenções devem cessar imediatamente, que todas as acusações devem ser retiradas contra os líderes do 'Defend our Juries', contra as pessoas que estão a participar nesta ação, contra os camaradas que se manifestaram em apoio à resistência palestiniana, contra todos aqueles que foram detidos e acusados ao abrigo da Lei do Terrorismo". 

Esta estudante foi detida no ano passado por legitimar a resistência armada palestiniana na sequência do ataque de 07 de outubro de 2023 do Hamas em Israel, que resultou em cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.

O julgamento está previsto para o próximo ano. Se for condenada, poderá ser deportada para França. 

"É justo resistir quando se enfrenta a ocupação, quando se enfrenta o genocídio. Foi isso que os palestinianos escolheram como  caminho para a libertação. Devemos defendê-lo. É um princípio básico do direito internacional que os povos ocupados têm o direito de resistir por todos os meios necessários", disse à Lusa. 

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