No poder desde 2012, Maduro começa o seu terceiro mandato de seis anos esta sexta-feira, numa altura em que a oposição venezuelana parece mais forte do que nunca.
Depois de umas eleições conturbadas devido a suspeitas generalizadas de que os resultados foram alterados, Nicolás Maduro vai tomar posse na sexta-feira, 10, e estender o seu mandato que já dura há doze anos enquanto Edmundo González, que liderou a oposição, pretende voltar ao país já esta sexta-feira.
REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria
Observadores internacionais já têm alertado que a tomada de posse de Maduro representa mais um passo no caminho para o autoritarismo em que o país se encontra. John Polga-Hecimovich, coeditor do livroConsolidação do autoritarismo em tempos de crise: Venezuela de Nicolás Maduro, acredita que a fraude eleitoral foi "flagrante" e que expôs que os membros mais radicais do regime eram também os mais poderosos, uma vez que os moderados eram a favor de admitir a derrota.
John Polga-Hecimovich descreve Maduro como "um ditador que aprisiona pessoas que pensam diferente e que se opõem a ele. Um ditador que supervisionou o maior colapso económico da história moderna da América Latina e é responsável pelo maior êxodo de migrantes da história do hemisfério", concluindo que "é alguém que construiu um legado vergonhoso".
Onde está González, o homem que terá ganhado as eleições?
Diosdado Cabello, ministro da Administração Interna, já afirmou que o governo pretende que Edmundo González seja preso se tentar entrar no país. O ministro é conhecido pela sua proximidade com Maduro e já garantiu que o início do terceiro mandato do presidente venezuelano vai começar com tranquilidade e que não há a possibilidade de os militares mudarem de posição e apoiarem a oposição. Na segunda-feira referiu que "os quartéis estão calmos" e mobilizados para reprimir a dissidência.
Também a vice-presidente, Delcy Rodríguez, referiu que se González voltasse a pisar solo venezuelano seria "imediatamente" detido. Além disso, acusou o membro da oposição de ser parte de uma "rede internacional" de "pedófilos, narcotraficantes e corruptos".
Um pouco por todo o país foram colocados cartazes que pedem informações sobre o paradeiro de González, que nos últimos meses já visitou o Parlamento Europeu, os Estados Unidos, Argentina, Uruguai e Panamá.
REUTERS/Maxwell Briceno
Na quarta-feira, González entregou no Panamá as atas eleitorais que, garante, asseguram a sua vitória. Apesar de o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano reportar uma vitória de Maduro com 51% dos votos, os relatórios da oposição dão a vitória a Edmundo González com 67% dos votos.
Uma semana marcada por manifestações
Nas vésperas da cerimónia, vários ativistas acusaram os agentes de Maduro de sequestrar mais de uma dúzia de figuras ligadas à oposição, incluindo Rafael Tudares, genro de González, o ativista pelos direitos humanos Carlos Correa e Enrique Márquez, um político da oposição que também concorreu às eleições. Ivan Briscoe, especialista na América Latina do Crisis Group, considerou que "está em andamento uma caça às bruxas em grande escala".
Maduro está habituado a lidar com os protestos, depois de levar uma nação rica em petróleo a um colapso económico, que foi agravado pelas sanções dos Estados Unidos, já conseguiu superar uma campanha apoiada pelos norte-americanos para o derrubar em 2019, grandes vagas de protestos em 2014, 2017 e 2019 e uma tentativa de assassinato em 2018.
Maduro anuncioun na quinta-feiran a presença de dois alegados funcionários dos Estados Unidos, um oficial do FBI e um militar, que foram detidos em conjunto com outros cinco "mercenários" estrangeiros. Estes sete detidos juntam-se aos 125 venezuelanos e 25 estrangeiros suspeitos de envolvimento numa "agressão mercenária estrangeira financiada pelo governo dos Estados Unidos".
Também ontem, María Corina Machado, figura da oposição que foi impedida de concorrer nas eleições de 28 de julho, pediu aos venezuelanos que saíssem às ruas "com a energia de um rio caudaloso" para se manifestarem contra o presidente. "Este é um dia histórico, um dia que contaremos aos nossos netos e que os nossos netos contaram aos netos deles", afirmou.
Já a ex-presidente do Panamá Mireya Moscoso referiu ter esperança de que as manifestações desencadeiem uma revolta militar que permita a González regressar da República Dominicana para o país: "Temos a certeza de que os protesto revolucionarão o país e que na sexta-feira o Edmundo poderá tomar o poder".
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